sábado, 20 de dezembro de 2008

Juiz de Haia defende punição para tortura

Professor da UnB, Cançado Trindade diz que tortura é crime contra a vida, portanto imprescritível

Regina Bandeira
Da Secretaria de Comunicação da UnB

Prestes a se mudar para a Holanda, onde a partir de fevereiro assumirá assento na Corte Internacional de Justiça, a chamada Corte de Haia, o ex-presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos e professor de Direito Internacional da UnB, Antônio Augusto Cançado Trindade, de 61 anos, defendeu a criação de uma espécide de tribunal da verdade para o julgamento dos crimes ocorridos no governo militar.

"Já expus minha opinião sobre isso: não há anistia para tortura.; a auto-anistia não pode abarcar um crime contra a humanidade", afirmou Cançado Trindade, durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, nesta quinta-feira, 18, sobre o recente debate travado entre o Ministério da Justiça e da Defesa em relação a aplicação da Lei da Anistia. "Não entendo esse imbróglio; para mim, a questão é cristalina", complementa.

Em visita de cortesia ao reitor da UnB, José Geraldo de Souza, nesta sexta, 19, o jurista avaliou as chances do Brasil conquistar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. “Temos toda a chance de ocuparmos a vaga latino-americana, atualmente ocupada pelo Panamá”, afirmou Cançado Trindade.

Eleito com um número expressivo de votos – 163 dos 192 países-membros da Assembléia Geral da ONU, o jurista brasileiro também recebeu 14 dos 15 votos do Conselho de Segurança da ONU, dos quais apenas os Estados Unidos se abstiveram.

Para José Geraldo, especialista em Direitos Humanos, a presença de Cançado Trindade na corte internacional fortalece a candidatura brasileira, além de ser um orgulho para a universidade. “Ela marca a densidade do pensamento jurídico brasileiro na Assembléia das Nações Unidas”, afirmou.

Durante encontro com o reitor, o jurista reiterou que pretende continuar defendendo os direitos humanos em Haia e criticou as novas regras impostas por países do hemisfério norte criminalizando a migração não documentada. “Os mesmos países que se beneficiaram das fronteiras abertas estão, agora, violando princípios dos direitos humanos”, disse.

O jurista também defendeu maior diálogo da Justiça com outras áreas do conhecimento. “Nunca me contentei apenas com documentos”, disse o juiz, ao defender a participação de peritos, psicólogos, sociólogos, antropólogos e das próprias vítimas nos julgamentos. “São informações fundamentais para avaliarmos o dano moral de pessoas em casos como os massacres ocorridos recentemente em alguns países latino-americanos”, argumentou o jurista.

Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos por duas vezes, Cançado Trindade revelou que sua gestão sempre foi voltada para o fortalecimento da participação de acusados e vitimados no tribunal. Nesse sentido, o juiz reformou o regulamento da Corte em 2000, permitindo o acesso direto dos indivíduos à corte e a participação dos envolvidos em todas as etapas do procedimento até o julgamento.

“Até então, as pessoas tinham de se apresentar através de um órgão distinto, a Comissão Interamericana, sediada em Washington, que fazia a triagem das denúncias, dos argumentos e das provas”, explica Cançado Trindade.

JUSTIÇA - Devotado aos direitos humanos, o jurista revelou o sentimento de satisfação e enriquecimento encontrado nos tribunais internacionais. “A defesa dos direitos humanos me permitiu entender que nossos protegidos são nossos protetores – eles nos ajudam a dar sentido à própria existência”, concluiu.

-Antônio Augusto Cançado Trindade foi eleito juiz da Corte Internacional de Justiça no dia 6 de novembro de 2008. Ph.D. (Cambridge) em Direito Internacional; Juiz e Ex-Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos; Professor Titular da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco; Ex-Consultor Jurídico do Ministério das Relações Exteriores do Brasil; Membro Titular do Institut de Droit International e do Curatorium da Academia de Direito Internacional da Haia; Membro das Academias Mineira e Brasileira de Letras Jurídicas. O jurista tomará posse no dia 6 de fevereiro em Haia, na Holanda, mas o primeiro julgamento do ano está marcado para um mês depois.
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Fonte: http://www.secom.unb.br/unbagencia/unbagencia.php?id=1044

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Os 40 anos do AI-5


"Aquele que não conhece a história está fadado a repetir os erros do passado."

Na noite do dia 13 de dezembro de 1968, o governo militar do presidente Costa e Silva editou o ato institucional número 5, que entrou para a história da infâmia da ditadura militar no Brasil como o AI-5. Naquele dia, os militares davam a última facada (de baioneta) na já moribunda democracia brasileira. Os poucos direitos e liberdades civis que ainda restavam ao povo brasileiro foram por fim suspensos, dando início aos anos de ferro da ditadura militar, que agora assumia sua verdadeira face totalitária.

Ao mesmo tempo em que se comemoram os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e os 20 anos da nossa Constituição Federal, completam-se também os 40 anos desse, que pode ser considerado o maior ato de terrorismo de Estado da história brasileira. Hoje, mais de vinte anos após o fim do regime militar, ainda não se sabe ao certo o número de vítimas do regime. Até hoje, militares queimam arquivos e escondem os vestígios de seus crimes. Sinal claro de que as contas com a sociedade até hoje não foram acertadas.

Os dados oficiais constam que milhares foram presos e torturados e centenas foram mortos pelos mais de vinte anos de ditadura. Não se tratam apenas de "perigosos terroristas subversivos" ou de "comunistas que comiam criancinhas", mas sim de pais, filhos, irmãos e amigos que tiveram seus direitos violados, muitos deles deixando este mundo sem ao menos um enterro digno. É óbvio que nem todos os contabilizados eram 100% inocentes, mas isto não justifica o tremendo abuso de poder da época. Se o verdadeiro objetivo do AI-5 era combater a guerrilha armada do país, pode-se dizer que seus perpetuadores foram, no mínimo, bastante ineficientes. Basta lembrar de algumas vítimas do regime que nunca fizeram mais do que protestar de forma pacífica contra a ditadura. É o caso de Honestino Guimarães, líder estudantil que foi preso durante invasão à UnB e desapareceu sem deixar rastros, e de Vladmir Herzog, jornalista morto por militares quando ia a uma delegacia simplesmente para prestar um depoimento.

Nada justifica a violência dos militares e sua expressão máxima, o AI-5. A justificativa daqueles que o editaram, de que era necessário "mandar a consciência às favas" e utilizar todos os meios necessários para combater a guerrilha que (no seu discurso) ameaçava instaurar uma ditadura comunista no Brasil não passa de mero discurso reticente para se perpetuar no poder. E o velho discurso da Guerra Fria, do "mundo dividido em dois hemisférios"? Pura ignorância (ou imagem de ignorância) política! Esta história que os radicais da ditadura tentam vender desde a edição do infame AI-5, de que o Brasil estava numa guerra e que era necessário empregar meios de guerra para combater os "perigosos terroristas e comunistas" não passa de uma falácia, de uma propaganda enganosa! Somente os tolos e os alienados acreditaram (e ainda hoje acreditam) que algumas centenas de guerrilheiros sem nenhum tipo de treinamento militar e reclusos no meio da Floresta Amazônica tinham alguma capacidade de tomar o poder. O verdadeiro motivo de tamanho abuso de poder como o AI-5 era a percepção do povo brasileiro de que a ditadura não era a salvação da democracia e sim sua lenta execução. O fato da sociedade não mais apoiar o governo militar e exigir liberdade e democracia fez os militares da linha-dura retirarem sua máscara de salvadores da pátria e mostrar suas verdadeiras faces de totalitários inescrupulosos e sedentos de poder. Se houve realmente terroristas no Brasil nos anos 60, estes eram os altos membros do governo militar, que com seu golpe de mestre pomposamente chamado de "ato institucional", instauraram no Brasil um Estado Terrorista, que nada mais sabe fazer além de usar a violência e o terror para atingir seus objetivos.

Quando a sociedade exigiu um acerto de contas com o governo, a solução dada foi completamente "à brasileira". Uma anistia, tanto a torturados quando a torturadores, que simplesmente livrou a cara dos carrascos e de seus comandantes que até hoje estão com as mãos sujas de sangue dos inocentes desaparecidos e mortos em nome da segurança nacional (mais uma piada sem graça do governo da época). A verdade é que, para muitos brasileiros, não há anistia até que seja feita justiça. Para muitos, a decisão dos governantes de 68 deixou cicatrizes expostas até hoje, para as quais simplesmente não foi dada explicação.

Que possamos nos lembrar de nossos erros para não cometê-los novamente.

sábado, 1 de novembro de 2008

Eleições presidenciais nos EUA: Uma análise crítica


De um lado, o republicano John McCain, que defende boa parte das políticas do desastroso presidente George W. Bush, incluindo a permanência das desgastadas forças de ocupação no atoleiro do Iraque. Do outro lado, o democrata Barack Obama, o primeiro negro a concorrer à presidência dos EUA e cuja palavra de ordem da campanha é "mudança".

No próximo dia 4, os eleitores norte-americanos farão sua escolha: o conservadorismo retrógrado de um ou a possibilidade de renovação de outro. Suas escolhas decidirão o futuro não só de suas vidas, mas também de nossas e do resto do mundo.

Devido à importância global da decisão dos eleitores nos EUA, analistas do mundo inteiro estão mostrando suas opiniões e preferências acerca dos candidatos. Enquanto a maioria dos observadores minimamente sensatos apóia a proposta de política externa moderada de Obama, setores da "intelectualidade" brasileira insistem em apoiar a candidatura politicamente atrasada de McCain, baseados apenas na promessa vazia deste candidato de abrir o mercado americano para o etanol brasileiro (como se os republicanos fossem simplesmente abrir mão do protecionismo).

Se as grandes potências cumprissem suas promessas para com o Brasil, já estaríamos no Conselho de Segurança da ONU e teríamos uma posição muito melhor no comércio mundial (mas este não é o assunto em debate aqui). É preciso lembrar que o que está em jogo é muito mais do que um simples acordo bilateral de comércio.

O simples fato de McCain ser um veterano e ex-prisioneiro de guerra não o faz um político capaz. É preciso muito mais que algumas cicatrizes e histórias para se fazer um governo decente. O discurso de McCain é, no mínimo, incoerente com sua própria história pessoal. Justamente ele, que sofreu os males do cárcere em uma guerra perdida no Vietnã, hoje defende tratamentos "não ortodoxos" (vulgo tortura e execução sumárias) aos acusados de terrorismo e ainda afirma que, se depender dele, "os EUA permanecerão no Iraque pelos próximos cem anos". É esta mentalidade hipócrita e medieval que alguns acham que deve governar a maior potência do planeta nos próximos quatro anos. Como se a estupidez de Bush não fosse o suficiente.

É obvio que Obama não mudará completamente as bases políticas dos EUA se for eleito, mas sem dúvida ao menos representará uma mudança para melhor na política externa americana. O presidente tem o poder de enviar soldados à guerra, assim como o poder de trazê-los de volta. É isso que o mundo espera de Obama se ele assumir a presidência e, ao que tudo indica, é isso que ele fará se as pesquisas de opinião se concretizarem. Talvez não seja o ideal, mas não restam dúvidas de que Barack Obama é o melhor dos dois para governar os EUA no próximo governo. Estamos falando do bem dos próprios americanos e também de bilhões de pessoas no resto do mundo.

Se a vitória das eleições couber à Barack Obama, haverá esperanças de que os EUA ao menos desviem sua política da linha neo-conservadora de política externa agressiva e belicista, completo desrespeito ao meio ambiente e política econômica ineficiente. Espera-se que os norte-americanos tenham o bom senso e a sensatez de tentar corrigir os erros dos últimos oito anos. Mas se eles insistirem no erro, estejamos preparados para o pior...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Eleições presidenciais nos EUA


Na próxima terça-feira, dia 4 de novembro, as escolhas de milhões de pessoas decidirão o futuro do mundo inteiro nos próximos anos. Esta é a realidade da dimensão alcançada pela eleição do presidente dos EUA. Sua importância é conhecida, mas não se pode cair no senso comum dos extremismos da mudança radical ou da completa permanência estática.
Não se pode acreditar que se trata de um duelo entre o bem e mal encarnados ou que não importa o vencedor as coisas não se alterarão. Há muitas variáveis em jogo. Esta eleição em especial traz ainda mais aspectos a serem considerados. Sim, se trata do fato de um dos candidatos ser negro. Devemos lembrar que, em uma sociedade altamente conservadora como a americana, em que todos os presidentes (sem exceção) foram homens brancos e protestantes, um negro de ascendência estrangeira representa uma mudança de pensamento e atitude consideráveis.

É obvio que alguns aspectos permanecerão os mesmos. Mesmo se McCain for vitorioso, os EUA manterão seu protecionismo (inclusive em relação ao etanol brasileiro). Se houver vitória de Obama os EUA manterão certo belicismo inerente de sua política externa. O que realmente muda é o grau em que estes aspectos permanecerão ou mudarão, o que depende em boa parte do vencedor das eleições.
Não há dúvida de que, independente de quem tiver a presidência em 2009, o próximo presidente dos EUA terá desafios descomunais ao assumir o país após o desastroso governo Bush. Vários serão os obstáculos ao novo presidente, entre eles a crise econômica que assola o mundo e a já bem conhecida guerra no Iraque. Aqui as decisões do próximo presidente serão fundamentais.
A estratégia adotada para combater a crise na economia americana terá impactos profundos no mundo inteiro pelos próximos anos. Os erros e acertos do próximo presidente e sua equipe podem determinar boa parte dos acontecimentos chaves da economia mundial.
Talvez o mais importante assunto imediato da política externa do próximo governo será a situação do Iraque. Os EUA permanecerão com uma ocupação desgastada em um conflito sem esperanças? As tropas americanas permanecerão no país apenas para terem seu contingente diminuído gradualmente enquanto milhares de civis inocentes morrem no fogo cruzado ou o futuro presidente terá bom senso e trará seus soldados de volta para casa? Tudo depende das decisões do próximo presidente.
O futuro é bastante incerto, em especial agora. As vidas e o futuro de boa parte do mundo serão decididos nesta fatídica terça feira. E não conta somente a decisão dos eleitores americanos, mas também de outros "atores externos". Não se deve esquecer da eleição de 1968, há exatos 40 anos quando os EUA também estavam atolados em uma guerra inútil e um jovem senador propunha mudanças, algumas consideradas "radicais demais" por alguns setores (alguns deles com armas na mão). Os eleitores decidiram pela mudança, e alguns decidiram pela violência, assassinando Bob Kennedy, irmão do famoso JFK assassinado em 63.
Será esse o destino desta eleição? As pesquisas de opinião se confirmarão e Obama será o vitorioso? E se for, ele sobreviverá para assumir o cargo? Ou a maldição dos irmãos Kennedy cairá sobre Obama como uma ironia sombria do destino?
Somente o tempo dirá...

sábado, 4 de outubro de 2008

A crise fiscal do capitalismo - Uma segunda opinião

Entrevista do professor Carlos Pio, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (IREL/UnB), à UnB Agência sobre a atual crise financeira:
http://www.secom.unb.br/entrevistas/entrevista.php?id=49

É sempre bom ouvir a opinião de pessoas entendidas do assunto, como o professor Pio, sem dúvida um grande especialista em economia política internacional. Entretanto, informações técnicas bastante construtivas à parte, ainda há a presença de forte ideologia liberal em seu discurso.

"Não dá para questionar o liberalismo por uma crise como essa, porque não há alternativa melhor para gerar riqueza e incluir gente."

Com todo o respeito à posição política do professor Pio, sou obrigado a discordar veementemente de sua afirmação acima. Não há provas empíricas que comprovem essa boa ação do sistema neoliberal. Embora o sistema neoliberal seja capaz de gerar grandes riquezas, ainda é incapaz de distribuir tal riqueza de maneira adequada. Como explicar que na Rússia, um dos países que mais abriu sua economia após o fim da URSS, várias pessoas vivem em condição econômica muito pior que nos tempos do regime socialista?

Talvez esta crise em específico não seja a gota d'água, mas sua simples eclosão mostra o quão voláteis são as bases da ideologia neoliberal e o quanto o sistema desenvolvido por seus seguidores é inseguro e capaz de (literalmente) evaporar grandes riquezas e afundar países inteiros em grandes crises. O neoliberalismo provavelmente sobreviverá a esse baque, mas não restam dúvidas de que sua estrutura caduca se encontra em fase terminal.


sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A crise fiscal do capitalismo


Na década de 80, novos chefes de governo no mundo capitalista começaram a pregar um novo tipo de economia política totalmente diferente, com idéias de “Estado mínimo” e “livre mercado”, que diziam eles impulsionaria o desenvolvimento econômico e seria a solução para os problemas do capitalismo. Foi assim que Margaret Thatcher no Reino Unido, Ronald Reagan nos EUA e Helmunt Kohl na Alemanha propagaram o Neoliberalismo.

Mais de 20 anos se passaram e o Neoliberalismo ganhou status de verdade absoluta, quase como um credo sagrado incontestável. Seus críticos são sempre taxados de “comunistas retrógrados que ainda vivem na URSS”. O Neoliberalismo comportou-se quase como um político em campanha, prometendo desenvolvimento para ricos e pobres, diminuição das desigualdades livre acesso a todo tipo de bens de consumo para todos. Tudo graças ao Mercado, uma entidade quase divina de tão poderosa e perfeita. Trata-se do ápice da utopia capitalista.

Os acontecimentos das últimas semanas têm mostrado o quão utópica é essa idéia. O tal idolatrado livre mercado entrou em parafuso, e levou as maiores bolsas de valores do mundo a despencarem vertiginosamente, causando altas de preços, enormes perdas financeiras e altas inflacionárias (o maior dos castigos para os membros da seita neoliberal). E agora, quando o capitalismo financeiro está no fundo do posso quem vem ao seu socorro? Seu antes arquiinimigo a quem o neoliberalismo pregava o (quase) desaparecimento: o Estado.

Mais uma vez o Neoliberalismo se comporta como um político, pois prometeu mundos e fundos (literalmente) e o que deu ao mundo? Uma crise de grandes proporções. Muito antes de a febre neoliberal tomar conta do mundo nos anos 80, um cientista político americano chamado James O’Connor já previa o desastre da economia capitalista*. Analisando a crise econômica que assolava os EUA na década de 70, O’Connor apresentou a formula da elaboração da crise fiscal capitalista: no capitalismo há a socialização dos custos, mas os lucros continuam a ser apropriados pelo capital privado. Tal descompasso só pode levar a uma crise fiscal. Outra contribuição de O’Connor foi desmascarar a maior das mentiras do liberalismo econômico: que o Estado é um peso morto e deve ser dissociado da economia. O’Connor mostrou que, ao contrário, o Estado e o maior consumidor na economia capitalista.

O’Connor escreveu sua obra na década de 70 e hoje, em 2008, suas idéias se mostram mais verdadeiras que nunca. Era óbvio que o sistema capitalista financeiro caminhava para tal desastre. Nos 20 anos que se passaram desde a era Thatcher/Reagan as disparidades entre ricos e pobres apenas aumentaram, a dicotomia entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos tornou-se mais evidente, e vários bens de consumo fundamentais (principalmente os alimentos) têm se tornado inacessíveis para a grandes parcelas da população pobre, graças à especulação financeira, “coincidentemente” uma das principais causas da crise atual.

Esta crise pela qual o mundo está passando serve de lição. Não se pode confiar no capitalismo. Trata-se de um sistema de soma-zero, para que um ganhe alguém tem que perder. O abismo entre aqueles que custeiam o desenvolvimento com a socialização das despesas e aqueles se enriquecem com a apropriação privada dos lucros tornou-se tão grande que aparece todo dia nos jornais e televisões: enormes perdas financeiras e desespero no mundo todo.

A prova última da grande mentira que é o Neoliberalismo vem justamente em seu momento de salvação. O Neoliberalismo há anos repugna a intervenção estatal na economia e critica os gastos do Estado em áreas que deveriam ser do setor privado, mas ao mesmo tempo condena qualquer tipo de reivindicação trabalhista, invocando a atuação da “mão forte do Estado” para defender o patrimônio privado contra os ataques terroristas de “sindicalistas retrógrados de esquerda”. Esse mesmo Neoliberalismo agora depende do maior Estado da terra, o Estado norte-americano, para ser retirado da própria cova antes que seja enterrado. Na última segunda-feira, a Câmara dos Deputados dos EUA recusou um mega pacote de ajuda financeira elaborado pela Casa Branca para salvar os principais bancos privados (que constituem os verdadeiros pilares do sistema financeiro neoliberal) justamente por uma questão ideológica. Como um político norte-americano, que há 20 anos defende a não-intervenção estatal na economia pregando a livre atuação do mercado como solução para todos os problemas de seu eleitor, vai votar a favor de uma proposta que é totalmente oposta a sua ideologia? Seria admitir o próprio erro. O Senado já aprovou o programa, com algumas alterações, e agora o envia de volta Câmara para que os deputados decidam o futuro da economia mundial. Será que os políticos norte-americanos reconhecerão que por 20 anos enganaram seus eleitores? Será que eles admitirão o próprio erro e deixarão seu orgulho de lado para fazer o que é necessário (na visão dos neoliberais)?O que importa é que a única salvação para o sistema capitalista neoliberal é o investimento de quase US$1 trilhão (quase o valor do PIB do Brasil, 10ª maior economia do mundo) por parte do Estado. Tudo isso só serve para mostrar a verdadeira “promessa de político” que é o ideário neoliberal.

*O’CONNOR, James. EUA: A Crise Fiscal do Estado Capitalista.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Estados Unidos: a nova Roma


“Todo império perecerá.” Jean Baptiste Duroselle

Este é o título de um dos clássicos franceses de história das relações internacionais. Dificilmente podem-se fazer afirmações tão certas em tais áreas de estudo, mas essa é uma regra que é sempre válida, quase uma lei. Desde que os seres humanos constituíram-se em sociedades e nações, alguns, obcecados pelo poder e a riqueza, viram-se no direito de se impor aos seus vizinhos, estabelecer sua crença como verdade e eliminar aqueles que discordassem. Essa é a lógica dos impérios. Mas, como diz a lei da gravidade: “tudo que sobe, tem que descer”. Quem um dia é senhor, no outro se torna escravo. O que em uma época é um império, na outra se torna colônia.
Assim aconteceu com a esplendorosa Europa, que por séculos foi tida como centro do mundo, mas que permitiu que sua glória se extinguisse em duas guerras apocalípticas de grandes proporções, tornando-se por quase meio século uma espécie de cabo-de-guerra entre EUA e URSS. A própria URSS, que já desfrutou de influência e poderes globais, hoje não passa de uma memória de uma utopia degenerada. E assim, um dia, talvez não tão distante, acontecerá com os Estados Unidos.
Estudiosos atualmente debatem a caracterização do sistema internacional Pós-guerra Fria (caracterizado pela famosa “ordem bipolar”, a dualidade entre EUA e URSS). Será a nova ordem mundial multipolar, unipolar, ou o quê? Enquanto que no campo econômico percebem-se múltiplas contestações à hegemonia norte-americana, como a ascensão da China e da união Européia como novos pólos econômicos, é inegável a completa hegemonia dos EUA no campo político-militar. Com o fim da URSS, não há ninguém no horizonte dos EUA que possa se contrapor à sua força titânica.
Em vários aspectos, os norte-americanos existem para e da guerra. A guerra está em suas próprias origens, em sua cultura. Os insurgentes colonos britânicos na América fizeram sua independência por meio de uma guerra com sua antiga metrópole. Depois, a nova nação independente construiu (ou melhor, expandiu) seu hoje imenso território à base de dinheiro e sangue, comprando as terras dos europeus e tomando à força àquelas de mexicanos e índios nativos. Os heróis norte-americanos são, em geral, militares de alta patente, que viveram suas vidas ás custas da morte de outrem. A economia americana vive das guerras. O governo de Washington gasta bilhões de dólares com armas todos os anos, desde munições de pistolas à mísseis intercontinentais que levam ogivas nucleares. Quando estão em paz, os EUA enchem seus depósitos. Quando estes ficam cheios, eles precisam de guerras para esvaziá-los. Esta é a lógica do capitalismo de guerra dos EUA.
Desde que se firmaram como potência no meio internacional após a Primeira Guerra Mundial, os EUA se envolveram direta ou indiretamente em praticamente todas as guerras que ocorreram. Quem vive de guerras, precisa sempre de inimigos. Na Segunda Guerra Mundial os americanos viram o mal personificado na figura do nazismo alemão. Quando este foi derrotado, voltaram seus olhos para o socialismo soviético, seu antigo aliado contra o nazismo. Por meio século a política externa norte-americana foi desenvolvida com base na retórica de “defender o mundo livre contra a ameaça do comunismo soviético”, defesa essa que foi feita com base de financiamentos de ditaduras totalitárias nos vários continentes e em intervenções diretas em cantos esquecidos do mundo.
Com o fim da URSS e da Guerra Fria, os EUA perderam o rumo em sua política externa. Para desempenharem seu papel de paladinos da justiça e guerreiros da liberdade, eles precisavam de um vilão a quem sem contrapor. Mas com o fim do socialismo e sem nenhum país forte o suficiente para enfrentar os americanos, contra quem seria feita a nova cruzada?
A resposta foi encontrada dez anos após o fim da Guerra Fria e de permanência de “paz”. Em um golpe de sorte (ou uma tacada de mestre, pois não se sabe até onde vai a verdade dos fatos*) os norte-americanos conseguiram o que queriam e o que precisavam. Quando na manhã de 11 de setembro de 2001, atentados ao World Trade Center em Nova Iorque e ao Pentágono em Washington mudaram a geopolítica mundial e inauguraram a verdadeira ordem mundial Pós-guerra Fria. Supostamente perpetrados por terroristas radicais islâmicos treinados no Afeganistão e liderados por Osama Bin Laden, os famosos atentados de 11 de setembro mostraram ao mundo que os EUA não são uma fortaleza impenetrável, e deram respaldo ao anteriormente impopular presidente George W. Bush de inaugurar uma nova fase da política externa.
Mais uma vez tomando para si o cargo de “defensores do mundo livre”, os EUA voltaram a fazer o que fazem melhor fora de suas fronteiras: espalhar violência e medo nos vários cantos do mundo, violar soberanias internacionais e enfileirar seus adversários políticos em um paredão de fuzilamento global.
Assim foi que os EUA invadiram o Afeganistão, afirmando estar à procura do inimigo público número um da humanidade, que estaria escondido em distantes complexos de cavernas nas montanhas. E assim os EUA, no auge de seu autoritarismo, passaram por cima da opinião pública global e da própria Assembléia Geral da ONU para invadir o Iraque e depor o temível ditador sanguinário Saddan Hussein (que um dia fora aliado importante de Washington contra os aiatolás do Irã) que supostamente desenvolvia armas químicas, as quais nunca foram encontradas.
extraindo petre anda sobre a ta que hoje anda sobre a terrantes, tudo em defesa da liberdade e da democracia. ado an a como ve É assim que a administração Bush inova ao decretar, de forma totalmente autoritária o patriot act (ato patriota), que garante fortes poderes ao executivo e permite a qualquer autoridade americana violar os direitos civis de um cidadão, garantidos pela sua tão idolatrada constituição, com base simplismente em "fortes suspeitas".
Saddan foi enforcado por ter usado armas químicas contra centenas de curdos, mas o que aconteceu com os dirigentes políticos e militares americanos que jogaram duas bombas atômicas em cidades japonesas no fim da Segunda Guerra, matando centenas de milhares de civis e comprometendo várias gerações futuras com os efeitos da radiação? Entraram para a história como “heróis”.
Neste exato momento soldados americanos estão invadindo casas, estuprando mulheres e matando civis inocentes, tudo em defesa da liberdade e da democracia. Se há um inimigo público número um, seu nome é George W. Bush, sem sombra de dúvida o maior criminoso de guerra que hoje anda sobre a Terra, extraindo petróleo e demais recursos de países miseráveis afundados em guerras civis e bebendo da caveira de seus inimigos. É assim que os EUA cumprem sua função histórica: perpetrar guerras e conflitos sobre países fracos com base em retóricas políticas hipócritas e atropelar qualquer um que se levante a frente de seus interesses, seja em distantes países do Oriente Médio ou dentro de suas próprias fronteiras. Tudo o que foi aqui exposto mostra a verdade sobre este exemplo de tirania e imperialismo. Muito longe do própio ideal hipócrita de "lar dos bravos, terra dos livres" e "defensores da liberdade e da democracia", os EUA mostram que são verdadeiramente tiranos covardes, opressores implacáveis e ditadores exemplares. Assim como os soviéticos e nazistas a quem tanto se contraporam no passado, os EUA demonstram de todas as maneiras possíveis que não passam de um Estado totalitário degenerado pela riqueza e poder acumulados, um império em ruínas que recusa-se a aceitar a própria decadência.

*Pessoalmente tenho sérias dúvidas sobre a versão oficial dos fatos sobre o 11/09, mas não vou me aprofundar neste assunto aqui.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O passado negro do Brasil


29 de agosto de 2008, sexta-feira. Realiza-se nesse dia um dos eventos da “semana da anistia política” na Universidade de Brasília (UnB), 29 anos após a Lei da Anistia e 40 anos após a primeira (e pior) das 8 invasões militares à UnB.

29 de agosto de 1968, quinta-feira. Eram 10 horas da manhã quando 50 carros de polícia fecharam as ruas de acesso ao campus e invadiram a universidade. Seu objetivo era a captura de 7 estudantes “subversivos”. 500 estudantes ficaram horas detidos em uma quadra de esportes, sujeitos aos maus tratos do militares, um estudante foi baleado na cabeça, 50 foram levados aos porões, entre eles Honestino Guimarães, o único entre os 7 procurados. Dois dias depois, o deputado Márcio Moreira Alves discursa no Congresso contra a invasão. O presidente Artur da Costa e Silva pede a casacão do deputado, o Congresso nega, o governo edita o Ato Institucional Número 5 (AI-5) e inaugura os anos de ferro da ditadura militar.

Esta é a história de um dos períodos mais negros e trágicos da história brasileira, período que deixou marcas na sociedade até hoje. Para alguns, o dia 29 de agosto de 1968 foi um dia de glória e vitória contra os “perigosos comunistas subversivos”. Para muitos, foi um dia de tragédia.

De 31 de março de 1964, quando os militares tomaram o poder, a 15 de janeiro de 1985 quando o colégio eleitoral escolheu Tancredo Neves como primeiro presidente civil pós-ditadura, milhares de pessoas foram presas, torturadas e mortas pelos militares. Mesmo vivendo um regime democrático há anos, a ditadura militar ainda permeia o passado do povo brasileiro, como um demônio adormecido a ser exorcizado.

Com o falso pretexto de proteger o país da “ameaça comunista”, os militares, apoiados pelas elites, pela classe média, Igreja e outros setores da sociedade governaram o país por 20 anos com mãos de ferro, espalhando violência e medo e ceifando vidas inocentes.

Mesmo depois dos militares terem deixado o poder e o país ter voltado à democracia, há ainda muita discórdia na sociedade brasileira em relação ao período da ditadura. Uns tentam justificá-la, outros querem justiça, alguns só querem saber o paradeiro de seus filhos, irmãos e amigos.

A Semana da Anistia promovida, pelo Ministério da Justiça em parceria com Centros Acadêmicos da UnB, é prova viva desta “batalha de memórias” que é hoje travada na sociedade brasileira. 40 anos após a invasão, a pergunta hoje é: por quê?

Os setores conservadores da sociedade vêm a ditadura como um mal necessário, pois se os militares não tivessem assumido o poder como fizeram, os “perigosos terroristas subversivos” fariam uma revolução comunista e implantariam uma ditadura socialista no país. Esses setores consideram os militares “heróis da nação”. São em geral membros da elite econômica e da classe média, que se beneficiaram bastante com a ditadura, especialmente nos anos do “milagre econômico” (o qual relembram com tanto saudosismo). Será que se eles tivessem familiares e amigos entre os desaparecidos teriam a mesma opinião?

Infelizmente a ditadura não foi um período muito feliz para a maioria dos brasileiros. Alienados pela euforia do tricampeonato de futebol de 1970 e pela propaganda ufanista do governo que dizia “o Brasil é o país do futuro”, os verdadeiros autores do milagre, a massa de trabalhadores brasileiros, viu seus esforços serem em vão, pois o milagre se mostrou uma miragem, ao qual se sucedeu a terrível inflação dos anos 70 e 80, enquanto os militares se justificavam dizendo estarem esperando “o bolo crescer para ser repartido”. O que realmente aconteceu foi que o bolo cresceu, os militares e as classes altas o repartiram entre si, e a população ficou apenas com as migalhas, sendo obrigada a enfrentar os duros anos da inflação.

Ainda assim, o dano material não chega aos pés das perdas humanas da ditadura. Não se sabe ao certo quantos foram os mortos entre os desaparecidos, pessoas que eram presas sem mandato, sem direito a julgamento, e torturadas e executada. Mesmo que muitos dos guerrilheiros fossem comunistas e quisessem implantar aqui uma ditadura de esquerda, não justifica os atos terríveis cometidos em nome da “segurança nacional”. Além disso, muitos dos que foram presos, torturados e mortos eram verdadeiros defensores da liberdade e da democracia ou então eram totalmente inocentes. De uma forma ou de outra, o que importa é que todos tiveram o mesmo destino trágico.

Um dos motivos da revisão da Lei da Anistia é justamente a tentativa de reparar os danos desta idade das trevas brasileira, pois a mesma lei que anistiou os perseguidos, anistiou os algozes enquanto ainda tinham o sangue de suas vítimas nas mãos. Não se trata de vingança, mas de justiça!

Mesmo vários anos após a volta da democracia, a ditadura é um capítulo mal resolvido na história do Brasil. È preciso abrir os arquivos que os militares escondem mostrar a verdade (mesmo que essa seja a face dura do mal). É preciso fazer justiça! Se há culpados, que sejam punidos pelos seus crimes! É preciso parar com os eufemismos lingüísticos. O que houve em 64 não foi uma “revolução” e sim um golpe, não foi um “regime militar” e sim uma ditadura, as pessoas não sofreram “maus tratos” e sim tortura e morte!

Acima de tudo, é preciso criar consciência que a ditadura não foi um “acidente de percurso”. Quando os militares deram o golpe, foram apoiados por setores chaves da sociedade e tiveram a conivência da maioria da população. Poucos foram aqueles que tiveram coragem para enfrentar a ditadura de frente (violenta ou pacificamente) e muitos dos que tiveram tal coragem não tiveram a chance de contar sua história. Não podemos mudar o começo, mas temos a capacidade (e a responsabilidade) de mudar o fim. Se temos uma democracia no país não foi por mero acaso, mas sim pelos sacrifícios de muitos brasileiros e brasileiras. Portanto, tenhamos a coragem necessária para honrar todos aqueles que deram seu sangue pela liberdade!

domingo, 17 de agosto de 2008

A guerra no Cáucaso


“Todo Estado se fundamenta na força.”
Leon Trótski

Após os atentados de 11 de setembro de 2001, a geopolítica mundial vê um retrocesso na condução dos interesses internacionais dos Estados. O fim da Guerra Fria previa uma nova era de paz e diplomacia em uma nova ordem internacional, na qual deveria predominar as negociações pacíficas e diplomáticas em vez da coação violenta por parte dos Estados fortes. Entretanto, este quadro se mostrou apenas mais uma utopia nos acontecimentos da última semana.

Tudo começou na quinta-feira dia 7, quando forças do exército da Geórgia (ex-república soviética e vizinha da Rússia) invadiu a cidade de Tskhinvali, capital da Ossétia do Sul, uma região que tenta se separar da Geórgia. Esta “punição” gerou uma reação bastante violenta e desproporcional por parte da Rússia, que após o fim da URSS tenta manter sua hegemonia política na região. Desde então, as cidades georgianas têm sido duramente bombardeadas e invadidas pelas forças russas e milhares de civis inocentes são mortos ou obrigados a se refugiar em outras regiões.

Essa distante guerra no Cáucaso não se trata de um conflito localizado, mas de uma verdadeira queda-de-braço internacional entre a Rússia e os EUA. De um lado, a Rússia tenta manter sua predominância na região da mesma maneira que Josef Stálin o fazia há 50 anos, na base da força bruta. De outro, os EUA fazem de tudo para manter seus novos aliados no quintal da ex-superpotência rival da maneira favorita de seu presidente George W. Bush, a ameaça do uso da força.

Trata-se de um duelo de Titãs que denota as verdadeiras características da “nova ordem mundial” (que de nova só tem o nome): a resolução de disputas de forma violenta, a imposição da política externa das grandes potências aos países pequenos, e o duelo entre as potências rivais para manter seus interesses estratégicos egoístas. A verdadeira realidade do conflito é a mentalidade política dos chefes de Estado russos e norte-americanos, que vêem o mundo apenas como um tabuleiro de xadrez em que eles movem as peças visando à completa subjugação do adversário.

O aparente desfecho desse sangrento conflito é a aceitação de um modelo de trégua proposto á Rússia pela União Européia. Entretanto, a verdade está longe das câmeras. Seguindo a filosofia da ordem mundial pós 11 de setembro, em que as grandes potências como Rússia e China não admitem qualquer dissidência em sua esfera de influência e os EUA e o Reino Unido se impõem por meio da força, o primeiro ministro Russo Vladmir Pútin cogita a separação de duas regiões da Geórgia (Ossétia do Sul e Abcássia) desse país. Com medo de perderem um importante aliado político na vizinhança da Rússia, o presidente norte-americano George W. Bush intima os russos a cumprirem sua palavra e dão ares de uso de sua própria força militar para evitar a separação da Geórgia.

Nesta história não existem heróis, apenas os dois maiores poderes militares do mundo comportando-se como “valentões na escola” usando de sua descomunal força bruta para garantir seus interesses. No meio do fogo cruzado estão os maiores perdedores desse jogo, os civis georgianos e ossétianos, que são mortos em meio á disputa de demagogia política dos governos russos, georgianos e norte-americanos. Os números falam por si: 2 mil mortos (a imensa maioria de civis inocentes), mais de 40 mil desabrigados e milhares de famílias e seres humanos que tiveram seus direitos fundamentais negados para a manutenção dos egos das grandes potências.

Longe da idílica fantasia do mundo pós Guerra Fria, a realidade internacional de hoje não é a do Direito Internacional e da diplomacia, mas a lei da selva, em que o mais forte domina o mais fraco.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A triste realidade de Brasília


Brasília é famosa pela sua beleza arquitetônica. Tombada como patrimônio cultural da humanidade, a cidade atrai milhares de pessoas de todas as partes do país para apreciar sua paisagem e seus monumentos únicos. Infelizmente, a verdade não é muito parecida com os cartões postais.

Vários dos principais monumentos e pontos turísticos da cidade estão mal cuidados, vítimas do descaso e do vandalismo. Os turistas que vêem conhecê-los se decepcionam com o péssimo estado de conservação e com a falta de informações. Não é esse o tratamento que Brasília merece!

Em alguns pontos da cidade, como no “balão” do aeroporto e no Eixo Monumental, há relógios digitais que marcam a contagem regressiva para o aniversário de 50 anos da capital, a ser realizado em 21 de abril de 2010. Entretanto, as atitudes do Governo do Distrito Federal (GDF) para com a cidade não condizem com sua atitude propagandística.

A foto acima mostra toda a beleza da capital federal, vista do mirante da Torre de TV. Mas ao olhar os monumentos de perto, percebe-se que essa beleza está bastante deteriorada. Em vários pontos turísticos importantes como a Praça dos Três Poderes, a Catedral, o Teatro Nacional e a Igrejinha, há falta de limpeza, de cuidados e de informações turísticas.

A Praça dos Três Poderes está totalmente largada às traças (ou melhor, aos pombos), suja, sem cuidados e sem nenhum tipo de informação turística. A Catedral está com mais de duzentos de seus vitrais quebrados, além de possuir infiltrações e outros graves problemas estruturais. O Teatro Nacional Cláudio Santoro está repleto de entulho, marcas de obras de reforma mal conduzida, além de estar com a fachada externa quase totalmente comprometida. A Igrejinha da entrequadra 307/308 Sul está bastante depredada, vítima de pichações e da falta de policiamento e de cuidados (impressiona o estado do painel feito com os azulejos de Athos Bulcão).

Todos estes monumentos têm algo incomum além da beleza: o terrível estado de conservação. Todos são vítimas do vandalismo, da falta de cuidados, da falta de policiamento e do descaso do governo. São necessárias reformas e reparos que dêem a estes monumentos a glória que eles merecem. Infelizmente este processo de revitalização enfrenta obstáculos monstruosos, como a excessiva burocracia da administração e a falta de interesse político por parte do GDF.

Se o atual governo pretende realmente ter uma cidade para apresentar em um cinqüentenário em 2010, é melhor deixar de lado as intrigas políticas e as barreiras burocráticas e começar a trabalhar agora! Como brasiliense nato, me sinto profundamente chateado pelo estado em que se encontra esta cidade. Espero que tanto o governo como a comunidade façam o que for necessário para manter a verdadeira beleza de Brasília, respeitando a memória daqueles que planejaram, construíram e fundaram esta cidade.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

As olimpíadas e a China III



Tradução livre da matéria publicada por Chris Chase em 06 de agosto de 2008. Original em inglês disponível em: http://sports.yahoo.com/olympics/beijing/blog/fourth_place_medal/post/Chi?urn=oly,98718

China revoga visto de medalista de ouro, ativista de Darfur Cheek

O medalista de ouro olímpico e franco ativista de Darfur Joey Cheek teve seu visto revogado pela embaixada chinesa, horas antes do campeão de “speedskating” pegar seu vôo para a China. E ele não tinha planos de usar uma máscara quando chegasse lá.

As autoridades chinesas não precisam de uma razão para revogar o visto de alguém, mas, em sua visão, eles tinham várias razões para revogar o de Cheek. Ele é o fundador da Equipe Darfur, um grupo de setenta atletas cujo objetivo é chamar a atenção mundial para as violações dos direitos humanos em Darfur, região do Sudão. As relações militares, econômicas e diplomáticas da China com o Sudão foram bem publicadas nos antecedentes aos Jogos.

Disse Cheek sobre seu banimento em um discurso preparado:

“Estou triste por não poder participar dos Jogos. Os Jogos Olímpicos representam algo poderoso: que pessoas do mundo todo podem se unir e realizar coisas que ninguém achava possível. Contudo, a negação do meu visto é um esforço sistêmico pelo governo chinês de coagir e ameaçar atletas que estão falando em nome do povo inocente de Darfur.”

Cheek estava indo á China para apoiar os atletas da Equipe Darfur, incluindo a jogadora de futebol Abby Wambach, e promover a causa, um que ele tem defendido por anos. Após ganhar o ouro nos Jogos de Torino, Cheek anunciou uma doação de 25 mil dólares do bônus do Comitê Olímpico dos Estados Unidos (United States Olympic Committe, USOC) à Darfur, e implorou a seus patrocinadores que fizessem o mesmo. Parece que Joey Cheek é realmente um dos mocinhos.

E agora ele está fora da China antes mesmo de chegar lá. Com os Jogos se aproximando (apenas dois dias agora), o mundo parece pronto para esquecer tudo sobre os assuntos chineses para se concentrar nos Jogos em si. Infelizmente, as ações da China tornam isso impossível. Em uma hora em que deveríamos estar pensando em quem vai acender o caldeirão olímpico, se Michael Phelps pode quebrar o recorde de todos os tempos e como Liu Xiang vai reagir à pressão de 1,3 bilhões de compatriotas vigiando cada passo seu, estamos, entretanto, discutindo a relutância do governo chinês em permitir qualquer dissidência em seu país, apesar das repetidas promessas de que eles jogariam limpo quando as olimpíadas chegassem á cidade.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

As olimpíadas e a China II


"Tudo que você faz um dia volta para você"
Esta sábia frase denota o verdadeiro significado de muito do que acontece no mundo hoje, como o último ataque terrorista na cidade de Kashgar, na China, em que dois jovens mataram 16 policiais. O ataque foi atribuído a um grupo separatista islâmico (que como qualquer um que se dispõe a pegar em armas por uma causa, é chamado de "terrorista").
O governo chinês acusa seus adversários políticos de "politizarem" as olimpíadas de Pequim, o que é natural quando a mídia internacional foca suas atenções em eventos tão aclamados como os jogos olímpicos. Sempre os eventos esportivos globais foram utilizados para a realização de protestos (pacíficos ou não) pelos mais diferentes grupos. O caso da China é especial.
Por que grupos de pessoas seguidoras de uma causa constantemente usam da violência para alcançar seus objetivos? Por uma simples razão: reciprocidade. Ninguém faz esse tipo de coisa aleatoriamente. Sempre existe um passado por trás de cada ato violento. No caso dos atentados na China, a violência usada contra o governo é, na verdade, a reação da própria violência das autoridades chinesas contra minorias étnicas e religiosas de partes distantes da China.
A China é o terceiro maior país do mundo, e abriga mais de 1,3 bilhões de pessoas de vários povos e etnias, formando um enorme mosaico cultural humano. Um país como esse deveria ser governado com base na pluralidade e no diálogo entre os compatriotas. Entretanto, a China é governada pelo punho de ferro autocrático do Partido Comunista, que desde a Revolução de 1949, vêm oprimindo de diversas maneiras as várias minorias existentes no país.
Obcecados pelo controle total da população chinesa, o Partido Comunista não mede esforços ao reprimir qualquer um que se levante contra sua doutrina. É isso que acontece com os budistas no Tibet, com os muçulmanos no Xinjiang e com qualquer outro que se recuse a aceitar os rumos determinados pelo governo chinês. As minorias destas províncias exigem apenas o que é direito de todo ser humano: o respeito aos seus valores culturais e à sua honra. Em vez de lidar com esta situação de maneira cordial e civilizada, o governo chinês usa seu implacável punho de ferro contra os chamados "dissidentes". Quando manifestações pacíficas e diálogos falham nessas situações, só existe um caminho: o da força.
Não é de se impressionar que a China seja "vítima" de movimentos separatistas e atentados. Em um país em que não se respeitam os direitos básicos dos seres humanos e onde a vontade geral do povo é completamente ignorada, somente o uso de balas e explosivos pode atrair a atenção do governo. Os chamados "terroristas" não fazem nada além de negociar com o Partido Comunista em sua própria língua.
Neste caso, o futuro não é nem um pouco nebuloso. Enquanto a honra e a cultura dos diversos povos da China não forem respeitados e estes povos forem tratados com ignorância, mais sangue será derramado e mais violência será gerada.
E ainda se dizem uma "República Popular"...

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

As olimpíadas e a China


2008 tem sido marcado por uma febre cultural a respeito das olimpíadas de Pequim (Beijing). A promessa de grandiosidade dos jogos de 2008 na capital chinesa têm atraídos olhares do mundo todo para a China. Mas há mais por trás das olimpíadas do que o que é mostrado na tela da televisão.
A China é um país de cultura milenar, terra natal de alguns dos maiores tesouros culturais da terra. Sua cultura e sua história têm fascinado a humanidade há séculos. Entretanto, a história chinesa não é tão feliz. Desde o século XIX, o país foi vítima de invasões estrangeiras, ocupações e humilhações internacionais. Em 1949, na tentativa de mudar esse quadro, Mao-Tsé Tung liderou uma revolução comunista na China. Com o intuito de acabar com a miséria do povo chinês e de tornar o país uma grande potência, o Partido Comunista Chinês empreendeu políticas nada ortodoxas na condução dos rumos nacionais.
Hoje a China é admirada (às vezes até demasiadamente) pelo mundo todo. Seu incrível crescimento econômico e seu progresso têm sido motivo de atenção de todos, principalmente dos ocidentais. Mas todo progresso tem um preço. Enquanto economistas comemoram o crescimento meteórico chinês, esquecem-se das bases de sustentação desse progresso. A esmagadora maioria dos chineses enfrentam jornadas de trabalho de 14 a 16 horas, sem direito à férias e a fins de semana, e em troca ganham um mísero salário médio de 30 dólares. Na China, não existem sindicatos ou associações trabalhistas, a não ser aquelas permitidas (e controladas) pelo Partido Comunista. A China é o país que tem o maior aumento de emissões de gases estufa, e é também o segundo maior emissor, atrás apenas dos Estados Unidos. Na China não existem democracia, liberdade de imprensa, liberdade de expressão ou liberdade política. Ou se segue o rumo da revolução, ou se segue o rumo da bala. Essa á a política chinesa.
Os jogos olímpicos de 2008 têm sido usados para “propagandear” a "nova China" criada pelo partido comunista. Trata-se de um país de grandes (ou melhor, imensas) proporções, de progresso inalcançável, de total desrespeito ao meio ambiente e de censuras inimagináveis. Como tudo o que se passa na China, as olimpíadas t~em sua cobertura feita da maneira determinada pelo Partido Comunista. Até a internet é censurada por lá! No primeiro semestre de 2008, durante os eventos da passagem da tocha olímpica pelo mundo, vários protestos contra a tirania chinesa no Tibet têm sido realizados e reprimidos no mundo todo (mesmo nos países que se dizem democráticos). Trata-se do cúmulo da hipocrisia internacional! Em 2007, a opinião pública mundial condenou o regime militar de Myanmar (antiga Birmânia) por reprimir de forma violenta protestos pacíficos de monges budistas. Em 2008, o mesmo acontece no Tibet governado pelo punho de ferro do Partido Comunista Chinês e, entretanto, a opinião pública internacional se calou (com certeza ocupada demais com as festividades olímpicas).
Então, fica a pergunta: o progresso chinês vale a pena? Vale a pena trocar a liberdade natural, que nos é de direito, por maravilhas efêmeras de um mundo globalizado? Vale a pena destruir o meio ambiente para sustentar o progresso material? Vale a pena sacrificar a cultura milenar dos antepassados por produtos capitalistas da moda? Vale a pena sustentar um crescimento magnífico com 30 mil execuções por ano além de torturas e repressões iguais às sofridas no passado? Mesmo a China sendo uma terra distante, diferente em muitos aspectos de nossa cultura e visão de mundo, algumas coisas ainda são inerentes a todo e qualquer ser humano, independente de cultura ou nacionalidade: liberdade, honra, respeito.
Então, os fins justificam os meios?

domingo, 6 de abril de 2008

Ocupação estudantil da reitoria da UnB

O ano de 2008 começou mal para a Universidade de Brasília (UnB), uma das melhores do país. No inicio deste ano, antes de começar o semestre letivo, um escândalo de corrupção, envolvendo o reitor Timothy Mulholland abalou a imagem de toda a universidade. Uma investigação descobriu um explícito desvio de dinheiro da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), dinheiro que deveria ser usado em pesquisa científica sendo usado na decoração do apartamento funcional do reitor, com direito a gastos extravagantes de um total de quase meio milhão de reais, incluindo lixeiras de mil reais.
Meses se passarão, inquéritos foram abertos e o caso ganhou audiência nacional. Entretanto, o grande responsável por tudo isso continua impune, exercendo suas atividades como se nada estivesse acontecendo. Desde o início das aulas na UnB, o Diretório Central dos Estudantes (DCE), organização de representação formal dos estudantes universitários, e outros grupos estudantis vêem articulando os estudantes em torno da campanha "Fora Timothy", cujo objetivo é retirar o reitor e o vice-reitor dos seus respectivos cargos para dar andamento às investigações do Ministério Público.
No dia 03 de abril a situação atingiu o seu clímax. Após uma assembleia, cerca de 150 estudantes invadiram a reitoria da UnB, ocupando o gabinete do reitor e exigindo sua renúncia. Em uma clara demonstração de intolerância e autoritarismo, o reitor ordenou o bloqueio da rampa de acesso ao gabinete e a suspensão da água e luz do prédio, numa tentativa de coagir os estudantes a saírem do prédio. Desde a invasão três parlamentares do DF têm agido como intermediadores nas negociações entre estudantes e autoridades: deputado distrital Reguffe (PDT), deputado federal Augusto Carvalho (PPS) e senador Cristovam Buarque (PDT). Já houve algum progresso nas negociações (este texto foi escrito na noite do dia 06 de abril), a água e a luz já retornaram ao prédio e pequenas comissões de negociação foram criadas entre as duas partes.
Porém, assim como o caso do atentado contra estudantes africanos na Casa do Estudante no primeiro semestre de 2007, o reitor Timothy Mulholland mostra sua indiferença, arrogância e autoritarísmo diante dos estudantes. Em declaração feita por ele próprio no início da ocupação, o reitor declarou "só presto contas ao TCU". Apesar dos avanços nas negociações, o bloqueio ao acesso ao gabinete permanece, infringindo o direito natural de ir e vir dos estudantes (é interessante observar que, ao lado da rampa bloqueada, está ,em um mural prateado, a Declaração Universal dos Direitos Humanos). Devido ao bloqueio, os estudantes que permanecem ocupando o gabinete do reitor são alimentados e mantidos por meio de um "elevador" improvisado, que nada mais é que uma sacola amarrada a um cabo de aço.
A situação é crítica, e mostra o estado deplorável em que se chegou o ensino brasileiro. Qualquer pessoa que já passou pelas principais instalações da UnB conhece o estado físico degradante da universidade. Os vários projetos de reformas e melhorias da UnB são barrados na reitoria, pois o reitor afirma que "não há verbas". Como não há verbas ?!? Enquanto laboratórios estão quase fechando devido à falta de equipamentos e professores reclamam das péssimas condições de trabalho o atual reitor esbanja o dinheiro da pesquisa com gastos pessoais. Ele, reitor, culpado das acusações de mal uso dos recursos públicos e de falhar no cumprimento do seu dever (que é zelar pelo bem estar da universidade e de seus empregados e estudantes) é que deveria estar sendo confrontado pela polícia e pela justiça. A justiça emitiu um comunicado anunciando uma multa a ser paga pelo DCE em 5 mil reais a hora de ocupação. Isso não é absurdo. O reitor faz mal uso dos recursos e quem paga multa são estudantes? E depois os estudantes são subversivos...
Tudo o que foi escrito anteriormente é apenas para explicar a triste situação da UnB e os verdadeiros motivos da ocupação estudantil. Visto que alguns canais de televisão e jornais têm passado informações manipuladas, alegando baderna e mal comportamento por partes dos estudantes, é necessário explicar, perante toda a sociedade brasileira o que o movimento estudantil está realmente fazendo e quais são seus reais objetivos.
Por último gostaria de mandar um recado ao Sr. Timothy Mulholland:
Nós, estudantes, estamos prestando nossas contas com a sociedade. E você?

Para que não aleguem que este texto é maniqueísta por expressar apenas a visão de um estudante, estou colocando aqui um link de uma entrevista do professor Michelangelo Trigueiro, do Departamento de Sociologia da UnB: http://www.painelbrasiltv.com.br/novo/Entrevistas/index.asp?Programa=2&Entrevista=598&TipoVideo=2

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Perspectivas para 2008 (e além)

Toda época é marcada por um ou um conjunto de acontecimentos. Guerras, epidemias, revoluções e afins são considerados eventos marcantes e determinantes de vários períodos distintos ao longo da história. Em 1º de Janeiro de 2008 começou o penúltimo ano desta década, que até agora se mostrou uma "Era dos Extremos" muito mais radical que o "breve século XX" descrito pelo historiador Eric Hobsbawm com sua bipolaridade mundial e o perigo de uma guerra nuclear total. Os anos 2000 foram marcados por eventos rápidos, impactantes e de alcance global, como as crises econômicas e políticas, a Guerra Contra o Terror e o aquecimento global. Sem dúvida alguma, este último será o mais marcante dos males da primeira década do século XXI.
Não é de hoje que a crise ambiental é considerada um problema grave. Desde o fim da Guerra Fria em finais de 1991, percebe-se uma crescente preocupação com o meio ambiente e seus problemas. Desde a década passada, grandes eventos tiveram como motivação a crise ambiental, que já teve diferentes faces como o buraco da camada de ozônio e o aquecimento global. Da ECO 92 realizada no Rio de Janeiro até o conturbado Protocolo de Kyoto em 97, governos, estadistas e ambientalistas vêem discutindo acerca do grande problema da degradação do planeta Terra.
A virada do milênio trouxe uma visão cada vez mais ampliada e crítica dessa crise. Pode-se dizer que, nos anos 90, o objetivo era determinar as causas dos problemas ambientais. Na década atual, o objetivo passa a ser o de combater a crise ambiental. Mas porque o problema da degradação ambiental é tão importante? O que a crise ambiental tem em comum com guerras, epidemias e revoluções?
Pode parecer um exagero, mas não é. Assim como os eventos marcantes do passado, a crise do meio ambiente é uma ameaça à sobrevivência humana. Na verdade, a crise ambiental é um problema ainda maior, pois não ameaça à vida de uma comunidade, país ou continente, mas de toda a espécie humana, ou melhor, de toda a vida na Terra. Entre alarmismos e ceticismos nascidos pelos mais variados motivos uma coisa é fato, nunca na história humana o meio ambiente global foi tão degradado como nos últimos trezentos anos e nunca as mudanças climáticas foram tão bruscas e desastrosas. E nós somos a causa disso tudo.
Isso mesmo. O desastre ambiental que aí está é culpa de cada ser humano deste planeta e afeta a todos nós. Não adianta jogar a culpa em governos, empresas, vacas, árvores ou que for. O estrago já foi feito. Resta apenas consertá-lo, ou encarar as conseqüencias.
Para resolver essa crise, é necessária a participação de cada um, seja como cidadão, como empresário, ambientalista ou governante. É necessária a participação de todos. Todos os aspectos da vida humana são afetados pela degradação ambiental e todos eles podem contribuir à sua maneira para uma melhora. O problema ambiental é preocupação de todos os campos do saber acadêmico e todos podem procurar soluções para melhorá-lo dentro se suas possibilidades.
Se você não tem planos para um ano novo há uma sugestão, faça a sua parte. Plante árvores, ande de bicicleta, para de comer carne, pesquise novas tecnologias, recicle seu lixo, economize água, mude seus hábitos, economize energia, limpe a sua rua, qualquer coisa que você puder fazer, por menos que seja, é uma contribuição para a melhora do meio ambiente. Não se trata de mudar drasticamente o seu modo de vida, mas de tomar pequenas atitudes que trarão benefício a você e a muitos outros. Pense nas gerações futuras e no mundo que elas herdarão e coloque-se no lugar delas, você gostaria de receber esse mundo? Se existe uma coisa mais marcante do que uma grande crise, são as ações daqueles que tentam combatê-la.
"Se não puder fazer tudo, faça tudo o que puder."
"Tudo que temos que decidir é o que fazer com tempo que nos é dado."