segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Nova atrocidade na cidade

"Em meio à terra virgem desbravada
na mais esplendorosa alvorada
feliz como um sorriso de criança
um sonho transformou-se em realidade
surgiu a mais fantástica cidade
'Brasília, capital da esperança''"
Trecho do hino "Brasília, a capital da esperança", de Capitão Furtado*


Mesma cena, novo crime. No mesmo local onde o índio Galdino, da tribo Pataxó, foi queimado vivo em 20 de abril de 1997, um novo crime bárbaro aconteceu na manha do último dia 19. Nas primeiras horas da manhã, um homem em uma motocicleta veio à praça e matou a tiros dois moradores de rua que dormiam no coreto da praça. O motivo do crime ou seu autor ainda são desconhecidos.

O que este crime mostrou é a proporção alcançada pela violência na cidade. Com pouco mais de 2 milhões de habitantes, o Distrito Federal (DF) enfrenta problemas de violência semelhante ao de grandes metrópoles. Em 2006 foi necessária intervenção da Força Nacional de Segurança em cidades do Entorno (municípios de GO e MG que fazem divisa com o DF) para controlar o narcotráfico e o crime organizado da região. A violência na capital não condiz com alguns de seus dados, uma das regiões de melhor qualidade de vida do país que conta com uma das PMs mais bem pagas e equipadas do país (e que tem o seu próprio BOPE!). Onde estão estes esforços de segurança? Seja nas cidades satélites ou no Plano Piloto, a violência assola tanto os cidadãos abonados quanto os despossúidos.

Lugares como a Praça do Índio, na 703/704 sul, tornaram-se lugares propícios para a ocorrência de crimes de todos os tipos. As típicas praças que separam as quadras de Brasília foram desenhadas para serem locais de lazer e diversão de seus moradores. Hoje, quase todas estão abandonadas, com as quadras de esporte depredadas, os brinquedos dos parquinhos enferrujados e as pichações já se tornaram parte da paisagem. Caso clássico de abandono dos locais públicos de lazer comunitário em prol dos grandes centros de consumo. Abandonadas, essas praças mal cuidadas e mal iluminadas tornam-se locais propícios para o crime. Os moradores das casas que rodeiam a Praça do Índio, por exemplo, reclamam da má iluminação e da falta de policiamento do local, onde, segundo os mesmos moradores, há assaltos, estupros e roubos frequentes. Onde está a PM nessas horas?

Ocasiões como esta faz os brasilienses se perguntarem: "onde o GDF está gastando meus impostos?". Não é nas ruas, pois basta chover que buracos (ou melhor, crateras) aparecem até mesmo nas vias expressas. Escolas, praças e hospitais sofrem do mesmo problema: falta de manutenção e investimento.

Embora aqui seja a sede do poder nacional, a capital federal parece mais uma cidade do velho oeste americano. Seus habitantes mais "ilustres" (nossos excelentíssimos deputados e senadores) quase não ficam aqui, trabalham apenas terças, quartas e quintas. Suas casas parecem estar longe de todo este cenário deprimente e o vidro de seus carros oficiais deve ser escuro demais para que eles não vejam as ruas por onde andam (ou talvez seja mera indiferença).

Já não bastasse a má fama da cidade por conta da corrupção, a cidade também passou a ser conhecida por crimes hediondos como o do último dia 20, contribuindo para a sua infâmia no resto do país (quem nunca viajou Brasil afora e ao se identificar como brasiliense ouviu comentários do tipo "ah, você é da terra da fantasia?" ou "e o que você faz nas férias? Queima índios e espanca garçons?").

O GDF parece mais preocupado em atos propagandísticos (como sediar a copa de 2014 em Brasília) do que cuidar de seus afazeres. Em vez de gastar dinheiro com placas enormes dizendo "O GDF está investindo aqui os seus impostos" poderiam gastá-lo com coisas realmente úteis, como postos policiais nas praças da cidade. Mas, enquanto o governo estiver mais preocupado com propaganda e em continuar sendo elogiado pelas revistas e jornais da cidade do que em garantir o bem estar de seus cidadãos e de seu dia-a-dia, Brasília terá todas as alcunhas possíveis, menos a que lhe foi dada em seu hino, a "capital da esperança".

Luiz Gustavo Aversa Franco
Brasília, DF, 26 de janeiro de 2009
*hinos de Brasília disponíveis em: http://www.infobrasilia.com.br/bsb_hino.htm

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O significado da eleição do Presidente Obama, por Antônio Jorge Ramalho da Rocha


"A eleição do Presidente Obama consitui o início de uma nova era na sociedade americana e, talvez, nas relações internacionais contemporâneas. No plano interno, produz mudanças relevantes nas esferas política e econômica; no âmbito externo, promete transformações institucionais e novas práticas políticas que poderão melhorar a inserção internacional dos EUA.
Esta eleição enseja câmbios na agenda conservadora que domina o debate político nos EUA há cerca de quatro décadas. Com a sagaz percepção de que manipular valores, inclusive religiosos, pode servir a objetivos político-eleitorais na sociedade americana, Nixon iniciou este processo. A parcela conservadora da academia americana e seus think-tanks, responsáveis por cerca de dois terços das publicações em periódicos formadores de opinião, habilmente construiu uma espécie de consenso em torno da promoção de alguns valores fundamentais naquela sociedade, particularmente a promoção das liberdades individuais e a redução da capacidade reguladora do Estado. O ápice deste processo ocorreu no Governo Reagan, cujas reformas deram um norte a uma sociedade desencantada com sua capacidade de vencer a Guerra Fria e de enfrentar a ameaça do Oriente, então associada ao Japão.
O resultado é conhecido: no plano político-estratégico, essa mudança de parâmetros levou à desintegração da União Soviética e reafirmou o modelo de organização social e política ocidental. No econômico, recolocou os EUA na liderança da economia mundial, mediante notável capacidade de inovação e reorganização de cadeias produtivas - o que condicionou, entre outros fenômenos, a ascensão da China à condição de potência mundial.
O processo não se encerrou ali. Ao contrário, aprofundou-se, por meio do “Contrato com a América”, idealizado pela maioria conservadora no Congresso, que tornou o interregno Clinton refém dessa agenda. Em certo sentido, se imaginarmos um espectro político com as extremidades “esquerda” e “direita”, logrou-se deslocar o “centro” para a “direita”. É como se os acordos políticos se tivessem materializado sempre à direita, de modo a servir aos interesses da mais ampla liberdade individual e a reduzir ao mínimo a intervenção governamental na economia e na sociedade. Isso levou a excessos, especialmente no campo das finanças e da produção. Isso reduziu os níveis de solidariedade entre os americanos e aprofundou as injustiças sociais de modo inédito na história do País.
É essa era que chega ao fim, face à emergência de um consenso sobre a necessidade de se reduzirem as assimetrias e de se ampliar a capacidade de intervenção do Estado na economia, em nome do bem comum. Obama tem hoje a oportunidade de deslocar o “centro” para a esquerda, em favor de uma sociedade mais justa. É uma visão de futuro que retorna ao centro da ação política, com a força própria às idéias cujo tempo chegou. Foi assim com o New Deal de Roosevelt, foi assim com a Grande Sociedade de Johnson. Em ambos os casos, os democratas assumiram maioria no Congresso, como ocorre agora. Obama encontra contexto assemelhado, embora sua eleição se tenha dado por margem muito modesta e sua maioria seja estreita. Não se trata de apagar o legado de Reagan ou de retomar propostas semelhantes às de Johnson e Roosevelt. Trata-se, isto sim, de interpretar as necessidades do presente à luz dessas experiências. E de agir adequadamente. Resta saber se Obama terá a grandeza desses líderes.
Até agora, ele revelou possuir extraordinária percepção e habilidade política. Construiu pontes no seio do Partido Democrata e deste para o Republicano, como ilustram a nomeação de Hillary Clinton e a manutenção de Robert Gates. Pregou a conciliação, a humildade e a necessidade de se trabalhar duro, com base nas boas idéias, para se construir um futuro melhor. Principalmente, se der certo, promete virar a página mais sangrenta da história americana, deixando no passado o problema racial.
Obama tem ainda a vantagem de substituir um péssimo governo. O simples contraste lhe beneficia. Entre os muitos erros de Bush, o pior foi dilapidar a imagem da sociedade americana e seus valores, ao não assumir plena responsabilidade pelos abjetos crimes cometidos em Abu Ghraib e Guantánamo. Recuperar o respeito da comunidade internacional pelos EUA será o maior desafio da nova administração no plano internacional. Suas primeiras iniciativas apontam para fortalecer as instituições internacionais, de modo a torná-las mais representativas, em prol de uma ordem mais justa. É um bom começo."

Antônio Jorge Ramalho da Rocha é professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília - UnB

Fonte: http://mundorama.net/2009/01/21/o-significado-da-eleicao-do-presidente-obama-por-antonio-jorge-ramalho-da-rocha/

Sobre Brasília

Você sabe que é brasiliense quando...
(texto inicial provavelmente dos anos 80, autor desconhecido, com várias alterações posteriores)
  • Você se sente confortável com umidade de 12%.
  • Você acha que todo lugar tem árvore com tronco torto.
  • Você se sente à vontade com endereços em coordenadas cartesianas.
  • Você vê alguém fazer uma barbeiragem no trânsito e diz: "Êeee goianada!"
  • Você acha que a natureza não fez mais que a obrigação quando você contempla um pôr-do-sol cinematográfico.
  • Você sabe qual é a profecia de Dom Bosco.
  • Você classifica "montanha" como substantivo abstrato.
  • Você acha que casa em forma de pirâmide é normal.
  • Sua loja favorita era a Bi-Ba-Bô ou a Fofi.
  • Vê as crianças descerem para brincar "debaixo do bloco".
  • Você conhece os ministros e deputados como "O pai de Fulaninho".
  • Você de fato pára o carro na faixa de pedestre.
  • Ouve dizer "é bem pertinho" e pensa em 50 km.
  • Mais da metade da sua família é servidor público.
  • Você sabe quem é Venâncio.
  • Ao dirigir, você fica meio paranóico com os limites de velocidade.
  • Você tem medo de jogar lixo pela janela do carro.
  • Você sabe que pardal não é apenas uma ave.
  • Cada semana você tem um churrasco diferente para ir.
  • Você vê o dia começar frio e nublado e acha perfeitamente normal que as onze esteja fazendo um sol de rachar, às cinco da tarde esteja desabando um temporal e à noite faça um calor sufocante, isto além de a chuva ter iniciado e parado cinco vezes durante o dia.
  • Você não tem a menor noção do que seja uma rua de paralelepípedos.
  • Você acha que uma casa com piscina é a coisa mais normal do mundo
  • "Camelo" pra você é bicicleta.
  • Chama o Parque da Cidade de Pitón.
  • Até hoje chama o mercado Pão de Açúcar de "Jumbo"
  • Você sabe que o "Ir ao Gilberto" não quer dizer ir visitar ninguém.
  • Você dorme, ao menos durante três meses do ano, com uma toalha molhada, umidificador e bacia d'água no quarto e acha tudo muito normal.
  • Quando param as chuvas, você escuta: "esse ano a seca vai ser brava!". Quando começam as chuvas, você escuta: "esse ano vai chover como nunca!"
  • Você comemora a primeira chuva de setembro.
  • Você sabe que a tesourinha não corta nada e que o balão não tem ar.
  • A frase 'conhece alguém do "I" da 2?' faz perfeito sentido pra você.
  • Você sabe da rivalidade latente entre os estudantes do Objetivo/Marista (boyzinhos) e os do Sigma (bando de maconhêro!)
  • Você conhece ao menos uma música do Capital Inicial, e sabe o que eles querem dizer com Musica Urbana.
  • Você sabe o que querem dizer quando falam da Zoom, da Scaramouche e da 109.
  • Você diz "Vou ao shopping" sabendo que isso só pode significar ir ao Parkshopping.
  • Você reclama para o amigo: "não tem nada para fazer nessa cidade."
  • Fica indignado quando alguém de fora reclama que em Brasília não tem nada para fazer.
  • Você já foi convidado para passar um final de semana na Chapada dos Veadeiros.
  • Pelo menos cinquenta pessoas que você conhece fazem ou já fizeram Direito.

    * Desconhecemos o nome do autor da versão original do texto acima.

Você sabe que virou Brasiliense quando...


  • sua cidade tem um metrô que custou horrores, mas você nunca o usa, pois ele não passa pelos locais aos quais você costuma ir;
  • você acha normal que, no caminho entre sua casa e seu trabalho, você passe por pelo menos cinqüenta painéis gigantes de propaganda;
  • 90% dos seus amigos com algum dinheiro têm ou tiveram um lote irregular em algum lugar da cidade - e não ficam com o menor peso na consciência por causa disso!
  • você vive ouvindo comentários de que os brasilienses são "frios", que aqui é difícil fazer amizades. E, por alguma estranha razão, você age de uma forma que você também será considerado "frio" por aquela pessoa de outra cidade que está acabando de mudar para Brasília;
  • você acha normal ter a rodoviária interurbana mais chinfrim do Brasil;
  • você vê o sistema de trânsito cada vez mais colapsado, leva cada vez mais tempo para se locomover entre sua casa e seu trabalho, mas não está nem aí - afinal, o que importa é que "nas outras cidades o trânsito é muito pior";
  • ao chegar numa entrequadra comercial do Plano, mesmo havendo vaga, você pára em fila dupla, pois é a única forma de evitar que alguém páre em fila dupla atrás de você...
  • você sabe que seu carro é o seu símbolo supremo de status, e, mesmo que você more num barraco de fundos num local do tipo "Patoquemeparilândia II", você tem que gastar o que tem e o que não tem para poder ter um carro novinho e não se sentir por baixo em relação aos teus amigos;
  • você também sabe nada dá tanto status quando dizer "eu moro no Sudoeste!" - mesmo sabendo que, racionalmente, o Sudoeste é apenas uma "pequena Asa Norte em cima do Parque da Cidade", e é muito mais longe de tudo;
  • você não acha um absurdo pagar 150 mil reais por um pequeno apartamento de apenas dois quartos, pois o importante é que "ele vai valorizar!". Assim você estará eternamente morando mal, num apartamento minúsculo, mas você estará sempre feliz (!), pois você estará se achando cada vez mais rico!
  • você sabe que quanto mais "ecológico" o nome do lugar, menos belo (e sem nada a ver com o nome) ele é na verdade: vide Recanto das Emas, Samambaia, Águas Lindas de Goiás...
  • você sabe que vive na "cidade com mais área verde por habitante do mundo", mas, quando vai às cidades satélites mais recentes, onde vive a enorme maioria dos habitantes de Brasília, olha que curioso, você não acha área verde nenhuma! Não há gramados, não há árvores...
  • todos os jornais da cidade pertencem ou são dirigidos por pessoas ligadas ao governador - Jornal da Comunidade, Jornal de Brasília, Tribuna do Brasil, Correio Braziliense... Assim, mesmo morando numa cidade de mais de 2 milhões de habitantes, não existe simplesmente nenhum jornal onde você possa ler uma visão mais crítica do que está realmente acontecendo na tua cidade.
  • quando você vai a uma consulta (de médico ou de dentista), no consultório só encontra revistas locais (como a "Focus", a "Nossa Brasília", a "Brasília em Dia", etc) que vivem elogiando tudo quanto é político da cidade, sem nenhuma crítica sequer - tudo está perfeito, e todos políticos são super bacanas!
  • você pensa que sabe sobre o "Sonho de Dom Bosco" (no qual ele teria previsto a cidade de Brasília). Porém , você ignora que Dom Bosco jamais falou qualquer coisa sobre "cidade" ou "civilização" - ele falou sim sobre "terra prometida", mas a parte sobre uma "cidade" foi inventada pelo governo na época da criação da cidade (!!!).
  • você vive numa cidade de "arquitetura moderna" onde, por alguma estranha razão, os prédios residenciais inaugurados este ano parecem ter a arquitetura de 20 anos atrás! Assim quando você visita os bairros novos de cidades como Goiânia e Curitiba, com seus prédios altos e e de arquitetura futurista, você tem a sensação de que elas estão no futuro, em 2020 quem sabe...
  • você vive numa "cidade planejada" onde mais de 80% dos habitantes moram, na verdade, em cidades satélites sem nenhum planejamento urbanístico verdadeiro...
  • você anda de ônibus no máximo duas vezes por ano, e, quando anda, sabe que em Brasília é quase impossível encontrar "gente bonita" dentro de um ônibus;
  • você quase é atacado se ousa falar mal da sua cidade, porque afinal, você sabe que é Brasiliense quando, mesmo sabendo que tudo que está escrito aqui é verdade, você faz questão de fazer de conta que nada disso acontece, estufa o peito e diz orgulhoso: "Brasília é a melhor cidade do mundo !!!". ;-)
Fonte: http://www.geocities.com/TheTropics/3416/ser_brasiliense.htm#primeiro
Informações, fotos e outras coisas sobre Brasília: http://www.geocities.com/TheTropics/3416/bsb_port.htm

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Uma posse histórica


"O que é requisitado de nós agora é uma nova era de responsabilidade"
Barack Hussein Obama, 44º presidente dos EUA em seu discurso de posse*

Ontem, dia 20 de janeiro de 2009, uma mudança radical aconteceu na capital dos EUA. Saiu de cena George W. Bush, o típico cowboy texano e um dos mais desastrosos presidentes americanos, para dar lugar à Barack Hussein Obama, filho de imigrante, o mais jovem e o primeiro presidente negro da história americana. A cerimônia de posse levou mais de 2 milhões de pessoas ao national mall em Washington. A multidão representava muito mais que os 80% de aprovação popular que o recém-empossado presidente detém. Representa a esperança de um povo.

Os 8 anos de governo Bush podem ser descritos como uma idade das trevas para os EUA. Nestes 8 anos, Bush assumiu um país com economia em ascensão e com credibilidade externa para devolvê-lo em crise financeira e desacreditado em sua política externa. Elegeu-se pela fraude e pelo medo. Invadiu o Afeganistão para não econtrar e capturar Osama Bin Laden e invadiu o Iraque para não encontrar armas químicas em seu território. Fez vista grossa para as graves violações dos direitos humanos na prisão de Abu Ghraib e desrespeitou determinações da própria ONU. Deixou de lado o diálogo e a negociação para usar a força e a imposição unilateral de interesses. Desrespeitou a própria constituição que jurou defender ao fortalecer o Executivo e aprovar medidas como o patriot act. Deixou a economia americana em ruínas e sua imagem no exterior (ainda mais) degradada. Este foi o governo Bush, uma verdadeira catástrofe.

Em seu discurso de posse, Barack Obama chama seus concidadãos a enfrentarem desafios reais, dentro e fora do páis. Relembra a história americana, combinando tradição e inovação em sua cerimônia de posse. Estabelece como metas a recuperação econômica, o fim da guerra do Iraque, a melhoria dos sistemas de saúde e educação do país, a renovação de sua infraestrutura e a retomada de sua credibilidade internacional pela negociação e pelo diálogo. Porém, o maior feito de Obama em sua posse não estava em suas palavras. A visão de milhões de americanos lotando a capital e gritando em coro o nome de seu presidente, além do silêncio durante o discurso demonstra o primeiro grande feito de Obama: a restauração da esperança do povo americano.

Obama fez milhões de jovens americanos irem às urnas para votar em um país onde o voto não é obrigatório. Fez os EUA registrarem recordes de participação eleitoral. Fez milhões de pessoas enfrentarem o frio de mais de zero grau do inverno apenas para vê-lo e ouvi-lo. Fez as ruas mais movimentadas do país se calarem para ouvir suas palavras. E o mais importante: fez americanos (e cidadão de todo o mundo) acreditarem em um futuro melhor.

A posse de Obama é uma revolução em si, pois há menos de 60 anos, negros e brancos não podiam dividir os mesmos espaços nos EUA. A segregação e o racismo não estavam apenas nos costumes, mas institucionalizadas nas próprias leis. Os negros lutaram por seus direitos e os conquistaram. Hoje, o posto mais alto da política norte-americana é ocupado por um negro, filho de um imigrante. Tamanha mudança demonstra a capacidade de realização de um povo em uma democracia, comparável apenas à eleição de Nelson Mandela após décadas de apartheid na África do Sul.

Na opinião de muitos americanos, a eleição de Obama representa a concretização final do sonho de Martin Luther King. Será que Obama conseguirá vencer os desafios a sua frente e recuperar o seu país de crises e guerras? Ainda é cedo para dizer. O que se pode dizer é que ele tem a fé do povo americano ao seu lado para fazê-lo.

Uma coisa é certa: o dia 20 de janeiro de 2009 entrou para a história. Foi o dia em que muitas pessoas viram um sonho realizado, suas esperanças renovadas, sua fé restaurada e um país inteiro mobilizado diante da simples figura de um homem.

Boa sorte Obama!

Luiz Gustavo Aversa Franco
Brasília, DF, 21 de janeiro de 2009

*leia o discurso de posse na íntegra em: http://espacolivreguga.blogspot.com/2009/01/discurso-de-posse-de-barack-obama.html

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Discurso de posse de Barack Obama

"Meus colegas cidadãos: estou aqui hoje humilhado pela tarefa à nossa frente, grato pela confiança que vocês outorgaram, atento aos sacrifícios suportados pelos nossos ancestrais.

Eu agradeço o presidente Bush pelo seu serviço à nossa nação, assim como à generosidade e a cooperação que ele mostrou durante esta transição.

Quarenta e quatro americanos já fizeram este juramento presidencial. As palavras foram pronunciadas durante ondas crescentes de prosperidade e águas calmas de paz. Ainda assim, frequentemente o juramento é feito em meio à nuvens carregadas e tempestades furiosas. Nestes momentos, a América persistiu não simplesmente devido à habilidade ou visão daqueles em altos cargos, mas porque nós, o povo, permanecemos fiéis aos ideais de nossos antepassados, e verdadeiros aos nossos documentos fundadores.

Assim tem sido. Então assim deve ser com esta geração de americanos.

Que nós estamos em meio a uma crise é agora bem compreendido. Nossa nação está em guerra contra uma rede de violência e ódio de longo alcance. Nossa economia está bastante enfraquecida, consequencia da cobiça e da irresponsabilidade por parte de alguns, mas também da nossa falha coletiva em fazer escolhas difíceis e em preparar a nação para uma nova era. Lares têm sido perdidos, empregos fechados, negócios acabados. Nosso sistema de saúde tem um custo muito alto, nossas escolas reprovam demais, e cada dia traz mais evidências que o modo como usamos a energia fortalecem nossos adversários e ameaçam nosso planeta. Estes são os indicadores da crise, sujeito à dados e à estatísticas. Menos mensurável, porém não menos profundo, é uma perda de confiança em nossa terra; um medo lancinante de que o declínio americano é inevitável, de que a próxima geração deva reduzir suas metas.

Hoje eu digo a vocês que os desafios que enfrentamos são reais, são sérios e são muitos. Eles não serão enfrentados facilmente ou em curto prazo de tempo. Mas saiba disso América: eles serão enfrentados.

Neste dia nos reunimos porque escolhemos a esperança sobre o medo, a unidade de propósito sobre o conflito e a discórdia. Neste dia nós proclamamos um fim a ressentimentos mesquinhos e falsas promessas, à recriminações e dogmas que por muito tempo têm estrangulado nossa política.

Nós permanecemos uma nação jovem, mas nas palavras da Escritura, chegou a hora de deixar de lado as coisas infantis. Chegou a hora de reafirmar nosso espírito duradouro, de escolher nossa melhor história, de levar adiante aquele dom precioso, aquela idéia nobre, passada de geração em geração: a promessa dada por Deus de que todos são iguais, todos são livres, e todos merecem a chance de buscar sua própria parcela de felicidade.

Ao reafirmar a grandeza de nossa nação, entendemos que a grandeza nunca é dada. Deve ser conquistada. Nossa jornada nunca foi uma de atalhos ou menosprezos. Não tem sido o caminho para os medrosos, para aqueles que preferem o lazer ao trabalho, ou buscam apenas os prazeres da riqueza e da fama. Em vez disso, têm sido aqueles que correm riscos, aqueles que fazem, aqueles que fazem as coisas (alguns celebrados, mas mais frequentemente homens e mulheres obscuros em seu trabalho) que têm nos carregado no longo, acidentado caminho em direção à prosperidade e à liberdade.

Por nós, eles carregaram suas poucas posses mundanas e viajaram pelos oceanos em busca de uma nova vida. Por nós, eles trabalharam duro e fundaram o Oeste, suportaram o açoite do chicote e araram a terra dura. Por nós, eles lutaram e morreram em lugares como Concord e Gettysburg, Normandia e Khe Sahn. Mais uma vez esses homens e mulheres resistiram e se sacrificaram e trabalharam duro até suas mãos ficarem cruas para que nós pudéssemos ter uma vida melhor. Eles viram a América como maior que a soma de suas ambições individuais, maior que todas as diferenças de nascimento ou riqueza ou facção.

Esta é a jornada que continuamos hoje. Permanecemos a mais próspera, poderosa nação na Terra. Nossos trabalhadores não são menos produtivos que quando esta crise começou. Nossas mentes não são menos inventivas, nossos bens e serviços não menos necessários do que eram na última semana ou no último mês ou no último ano. Nossa capacidade permanece sem ser diminuída. Mas nosso tempo de permanentes tapinhas, de proteção de interesses restritos e adoção de medidas desagradáveis - esse tempo certamente passou.


Começando hoje, nós precisamos nos erguer, nos limparmos, e começar novamente o trabalho de refazer a América.

Pra onde nós olhemos há trabalho a ser feito. O estado de nossa economia pede por ação: ousada e rápida. E nós vamos agir não apenas para criar novos empregos, mas para estabelecer uma nova fundação para o crescimento.

Vamos construir as estradas e pontes, as redes elétricas e linhas digitais que alimentam nosso comércio e nos unem.Vamos recolocar a ciência em seu lugar de direito e usar as maravilhas da tecnologia para aumentar a qualidade de nosso sistema de saúde e baixar seus custos. Vamos explorar a energia do Sol e dos ventos e do solo para abastecer nossos carros e fazer funcionar nossas fábricas. E vamos transformar nossas escolas e faculdades e universidades para atender as demandas da nova era.

Tudo isso nós podemos. Tudo isso nós faremos.

Agora há alguns que questionam a escala de nossas ambições, que sugerem que nosso sistema não consegue tolerar muitos grandes planos. Suas memórias são curtas, pois eles esqueceram o que este país já fez, o que homens e mulheres livres podem alcançar quando a imaginação se junta ao propósito comum e a necessidade da coragem. O que os cínicos falham em entender é que o terreno sob eles mudou, que os velhos argumentos políticos que nos consumiram por muito tempo não mais se aplicam.

A pergunta que fazemos hoje não é se nosso governo é grande demais ou pequeno demais, mas se ele funciona, se ele ajuda famílias a encontrarem empregos com salários decentes, se importa que eles possam sustentar uma aposentadoria digna.

Onde a resposta for sim, nos pretendemos prosseguir. Onde a resposta for não, os programas acabarão.

E aqueles entre nós que controlam o conhecimento público serão convocados a serem responsáveis, a gastar sabiamente, a reformar maus hábitos e fazer negócios na luz do dia, porque somente assim podemos recuperar a confiança vital entre o povo e seu governo.

Nem é a pergunta perante nós se o mercado é uma força para o bem ou para o mal. Seu poder de gerar riqueza e expandir a liberdade é sem precedentes. Mas esta crise nos lembrou que sem um olho vigilante, o mercado pode sair de controle. A nação não pode prosperar por muito tempo quando favorece apenas os prósperos. O sucesso de nossa economia sempre tem dependido não apenas no tamanho de nosso produto interno bruto, mas no alcance de nossa prosperidade, na habilidade de estender oportunidade a todo coração desejoso (não por caridade, mas porque é a rota mais certa para o bem comum).

Quanto à nossa defesa comum, rejeitamos a falsa escolha entre nossa segurança e nossos ideais.
Nossos pais fundadores enfrentaram perigos que mal podemos imaginar, escreveram uma carta para assegurar o estado de direito e os direitos do homem, uma carta expandida pelo sangue de gerações.

Esses ideais ainda iluminam o mundo, e nós não os abandonaremos pelo bem da oportunidade.

E assim, a todos os outros povos e governos que estão nos assistindo hoje, das maiores capitais à pequena aldeia onde meu pai nasceu: saibam que a América é amiga de cada nação e cada homem, mulher e criança que busque um futuro de paz e dignidade, e que estamos prontos pra liderar novamente.

Relembre que gerações anteriores enfrentaram fascismo e comunismo não apenas com mísseis e tanques, mas com alianças vigorosas e convicções duradouras. Eles entenderam que nosso poder sozinho não pode nos proteger, nem nos autoriza a fazer o que queremos. Ao contrário, eles sabiam que nosso poder cresce pelo seu uso prudente. Nossa segurança emana da justiça de nossa causa, da força de nosso exemplo, das temperadas qualidades de humildade e retenção.

Nós somos os detentores deste legado, guiados por esses princípios mais uma vez, nós podemos encarar essas novas ameaças e demandar um esforço ainda maior, ainda maior cooperação e entendimento entre as nações. Vamos começar a responsavelmente deixar o Iraque a seu próprio povo e forjar uma laboriosa paz no Afeganistão. Com novos amigos e antigos adversários, vamos trabalhar incansavelmente para diminuir a ameaça nuclear e retroceder o espectro de um planeta em aquecimento.

Não vamos nos desculpar por nosso modo de vida nem vamos acenar em sua defesa.

E para aqueles que buscam avançar suas metas pela indução do terror e a matança de inocentes, nos lhes dizemos agora que, nosso espírito é mais forte e não pode ser quebrado. Vocês não podem nos subjugar, e nós os derrotaremos.

Pois sabemos que nossa herança múltipla é uma força, não uma fraqueza. Somos uma nação de cristãos e muçulmanos, judeus e hindus, e descrentes. Somos moldados por cada língua e cultura, vindos de cada canto desta Terra.

E porque nós provamos sua amarga enxurrada de guerra civil e segregação e emergimos daquele capítulo sombrio mais fortes e mais unidos, nós não podemos deixar de acreditar que os velhos ódios um dia morrerão, que as linhas das tribos devem em breve se dissolver, que à medida que o mundo fica menor, nossa humanidade comum se revelará, e que a América deve desempenhar seu papel em assegurar uma nova era de paz.

Ao mundo muçulmano nós buscamos um novo progresso, baseado no mútuo interesse e no mútuo respeito.

Àqueles líderes ao redor do globo que buscam solucionar seus conflitos ou culpar o Ocidente pelos males de suas sociedeades, saibam que seu povo julgará você pelo que você construir, não pelo que destruir. Àqueles que se agarram ao poder pela corrupção e enganação e pelo silêncio da discordância, saibam que vocês estão do lado errado da história, mas nós estenderemos a mão se vocês estiverem dispostos a abrir o seu punho. Ao povo das nações pobres, nós empenhamos em trabalhar ao seu lado para fazer fazendas florescerem e deixar águas limpas correrem, para nutrir corpos famintos e alimentar mentes com fome. E àquelas nações como a nossa que desfrutam de relativa fartura, nós dizemos que não podemos mais tolerar indiferença para o sofrimento fora de nossas fronteiras, nem podemos consumir os recursos do mundo sem preocupação com os efeitos. Pois o mundo mudou, e nós precisamos mudar com ele.

Ao considerarmos a estrada que se desdobra perante nós, nos lembramos com humilde gratidão daqueles bravos americanos que, neste exato momento, patrulham desertos longínquos e montanhas distantes. Eles têm algo a nos dizer, assim como os heróis caídos em Arlington sussurram pelas eras. Nós os honramos não somente por serem guardiões da nossa liberdade, mas porque eles incorporam o espírito do serviço: uma vontade de encontrar significado em alguma coisa maior que eles mesmos.

Ainda assim, neste momento, um momento que definirá uma geração, é precisamente este espírito que deve nos habitar a todos. Pois por mais que o governo possa fazer e deva fazer, é em última instância na fé na determinação do povo americano em que esta nação depende. É a gentileza de receber um estranho quando o teto cai, o altruísmo de trabalhadores que prefeririam diminuir suas horas a ver um amigo perder o emprego que nos sustenta nesta hora mais sombria. É a coragem de um bombeiro que sobe uma escada coberta de fumaça, mas também a vontade de um pai em nutrir o seu filho que finalmente decide nosso destino.

Nossos desafios podem ser novos, os instrumentos com os quais os enfrentamos podem ser novos, mas esses valores dos quais nosso sucesso depende, honestidade e trabalho duro, coragem e jogo limpo, tolerância e curiosidade, lealdade e patriotismo - essas coisas são antigas. Essas coisas são verdadeiras. Elas têm sido a força quieta do progresso durante nossa história.

O que é demandado então é um retorno a essas verdades. O que é requisitado de nós agora é uma nova era de responsabilidade - o reconhecimento, da parte de cada americano, de que temos deveres para com nós mesmos, nossa nação e o mundo, deveres que não aceitamos de má vontade, mas sim agarramos com prazer, firmes no conhecimento de que não há nada mais prazeroso ao espírito, tão definidor de nosso caráter que dar tudo de nós em uma tarefa difícil.

Este é o preço e a promessa da cidadania. Esta é a fonte de nossa confiança: o conhecimento de que Deus chama todos nós para moldar um destino incerto. Este é o significado de nossa liberdade e nosso credo, porque homens, mulheres e crianças de cada raça e cada fé podem se juntar em celebração nesse magnífico mall. E porque um homem cujo pai há menos de 60 anos atrás talvez não fosse servido em um restaurante local pode agora estar aqui diante de vocês para fazer o juramento mais sagrado.

Então deixemo-nos marcar este dia em memória de quem somos e quão longe viajamos.

No ano do nascimento da América, no mais frio dos meses, um pequeno bando de patriotas se amontoou em nove fogueiras na orla de um rio gelado. A capital estava abandonada. O inimigo estava avançando. A neve estava manchada com sangue. No momento em que o resultado de nossa revolução era mais duvidoso, o pai de nossa nação ordenou que estas palavras fossem lidas ao povo:

'Que seja dito ao mundo futuro que na profundeza do inverno, quando nada além de esperança e virtude poderiam sobreviver, que a cidade e o país, alarmados com um perigo comum, avançaram para enfrentá-lo.'

América, em face de nossos perigos comuns, neste inverno de nossa dificuldade, lembremo-nos destas palavras atemporais; com esperança e virtude, desbravemos mais uma vez as correntes geladas, e resistamos às tempestades que possam vir; que seja dito pelos filhos de nossos filhos que quando fomos testados nos recusamos a deixar que esta jornada acabasse, que nós não demos as costas nem vacilamos; e que de olhos fixos no horizonte e com a graça de Deus sobre nós, nós levamos adiante este grande dom de liberdade e o entregamos em segurança para as gerações futuras.

Obrigado. Deus os abençoe.

E Deus abençoe os Estados Unidos da América"

Discursso de posse de Barack Hussein Obama, 44º presidente dos EUA, Washington DC, 20 de janeiro de 2009

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O ultimo "erro grave" de Israel



Três semanas já se passaram desde que Israel iniciou um ofensiva militar contra o Hamas na Faixa de Gaza. Nesta última quinta-feira, dia 15 de janeiro, o ministro da defesa de Israel, Ehud Barak, pediu desculpas ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, pelo "erro grave" cometido pelas forças de Israel. O tal "erro" de Israel foi ter atingido duas vezes as instalações da UNRWA (missão de assistência da ONU para os refugiados palestinos), onde se encontram mais de 700 refugiados, e ferindo três funcionários da ONU.

Trata-se de uma atitude estúpida, que demonstra o completo desrespeito do Estado de Israel para com as normas e organismos internacionais. Como se já não bastasse o fato das forças israelenses impedirem a movimentação dos veículos que transportam material e pessoal de ajuda humanitária pela Faixa de Gaza, agora atacam as instalações da própria ONU, ameaçando a vida de refugiados e funcionários internacionais inocentes.

Infelizmente, é quase certo que nada aconteça ao governo de Israel pelo seu trágico "erro". Não se deve esperar nenhuma sanção ou condenação internacional ao Estado de Israel. O mesmo não aconteceria caso tal erro tivesse sido cometido por qualquer outro país da região ou por uma entidade como o Hamas (que, ideologias à parte, até agora não atingiu ninguém além de seus próprios inimigos). Se fosse esse o caso, o governo (ou organização) responsável por tal ato receberia pesadas punições como sanções internacionais por parte da ONU e das principais potências, podendo até mesmo ser retaliado militarmente. Mas, como o responsável é Israel, nada disso irá acontecer. Tudo graças à proteção dos EUA.

Enquanto contar com o aval dos EUA para bombardear a esmo, atingindo civis inocentes e prejudicando o trabalho das missões humanitárias, violando várias normas internacionais, o governo de Israel não tomará precaução alguma com a sua "mira", e qualquer um que for pego no fogo cruzado será tratado apenas como "dano colateral". Enquanto esta inércia internacional em relação ao completo descuido das forças de Israel permanecer, nem mesmo a própria ONU estará segura na Faixa de Gaza (imagine então os civis palestinos).

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Exército e a Cabeça do Cachorro na Amazônia ( Dr. Drauzio Varella )


O Exército e a Cabeça do Cachorro na Amazônia (Dr Drauzio Varella)
"Senhor, tu que ordenastes ao guerreiro de Selva, sobrepujai todos os vossos oponentes, dai-nos hoje da floresta, a sobriedade para resistir, a paciência para emboscar, a perseverança para sobreviver, a astúcia para dissimular, a fé para resistir e vencer, e daí-nos
também senhor, a esperança e a certeza do retorno, mas , se, defendendo essa brasileira Amazônia, tivermos que perecer, oh Deus, que façamos com dignidade e mereçamos a vitória, Selva!!!"

A FORÇA DOS MILITARES NA AMAZÔNIA
Uma visão isenta da ação dos militares na Amazônia.
DRAUZIO VARELLA

Militares na Cabeça do Cachorro
Perfilados, os soldados aguardaram em posição e sentido, sob o sol do meio-dia. Eram homens de estatura mediana, pele bronzeada, olhos amendoados, maçãs do rosto salientes e cabelo espetado. O observador desavisado que lhes analisasse os traços julgaria estar na Ásia.

No microfone, a palavra de ordem do capitão:
'Soldado Souza, etnia tucano'.

Um rapaz da primeira fila deu um passo adiante, resoluto, com o fuzil no ombro, e iniciou a oração do guerreiro da selva, no idioma natal. No fim, o grito de guerra dos pelotões da fronteira:
"SELVA !!!"

O segundo a repetir o texto foi um soldado da etnia desana, seguido de um baniua, um curipaco, um cubeu, um ianomâmi, um tariano e um hupda.

Todos repetiram o ritual do passo à frente e da oração nas línguas de seus povos; em comum, apenas o grito final:
"SELVA !!!"

Depois, o pelotão inteiro cantou o hino nacional em português, a plenos pulmões.

Ouvir aquela diversidade de indígenas, característica das 22 etnias que habitam o extremo noroeste da Amazônia brasileira há 2.000 anos, cantando nosso hino no meio da floresta, trouxe à flor da pele sentimentos de brasilidade que eu julgava esquecidos.

Para chegar à Cabeça do Cachorro é preciso ir a Manaus, viajar 1.146 quilômetros Rio Negro acima, até avistar São Gabriel da Cachoeira, a maior cidade indígena do país.

De lá, até as fronteiras com a Colômbia e a Venezuela, pelos rios Uaupés, Tiquié, Içana, Cauaburi e uma infinidade de rios menores, só Deus sabe. A duração da viagem depende das chuvas, das corredeiras e da época do ano, porque na bacia do Rio Negro o nível
das águas pode subir mais de dez metros entre a vazante e o pico da cheia.

É um Brasil perdido no meio das florestas mais preservadas da Amazônia. Não fosse a presença militar, seria uma região entregue à própria sorte. Ou, pior, à sorte alheia.

O comando dos Pelotões de Fronteira está sediado em São Gabriel. De lá partem as provisões e o apoio logístico para as unidades construídas à beira dos principais rios fronteiriços:
Pari-Cachoeira, Iauaretê, Querari, Tunuí-Cachoeira, São Joaquim, Maturacá e Cucuí.

Anteriormente formado por militares de outros Estados, os pelotões hoje recrutam soldados nas comunidades das redondezas. Essa opção foi feita
por razões profissionais:
'O soldado do Sul pode ser mais preparado intelectualmente, mas na selva ninguém se iguala ao indígena'.

Na entrada dos quartéis, uma placa dá idéia do esforço para construí-los naquele ermo:
'Da primeira tábua ao último prego, todo material empregado nessas instalações foi transportado nas asas da FAB'.

Os pelotões atraíram as populações indígenas de cada rio à beira do qual foram instalados: por causa da escola para as crianças e porque em suas imediações circula o bem mais raro da região-salário.

Para os militares e suas famílias, os indígenas conseguem vender algum artesanato, trocar farinha e frutas por gêneros de primeira necessidade, produtos de higiene e peças de vestuário. No quartel existe possibilidade de acesso à assistência médica, ao dentista, à internet e aos aviões da FAB, em caso de acidente ou doença grave.

Cada pelotão é chefiado por um tenente com menos de 30 anos, obrigado a exercer o papel de comandante militar, prefeito, juiz de paz, delegado, gestor de assistência médico-odontoló gica, administrador
do programa de inclusão digital e o que mais for necessário assumir nas comunidades das imediações, esquecidas pelas autoridades federais, estaduais e municipais.

Tais serviços, de responsabilidade de ministérios e secretarias locais, são prestados pelas Forças Armadas sem qualquer dotação orçamentária suplementar.

Os quartéis são de um despojamento espartano. As dificuldades de abastecimento, os atrasos dos vôos causados por adversidades climáticas e avarias técnicas e o orçamento minguado das Forças
Armadas tornam o dia-a-dia dos que vivem em pleno isolamento um ato de resistência permanente.

Esses militares anônimos, mal pagos, são os únicos responsáveis pela defesa dos limites de uma região conturbada pela proximidade das Farc e pelas rotas do narcotráfico. Não estivessem lá, quem estaria?

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O holocausto da Faixa de Gaza



Apesar dos desejos de paz sempre presentes nas comemorações de ano novo, o ano de 2009 começa de uma maneira totalmente oposta. Todos os dias, noticiários, jornais e revistas mostram passo a passo o andamento da covarde ofensiva militar israelense sobre os territórios da Faixa de Gaza. O que se vê não é a história de uma guerra, mas sim de um massacre, um verdadeiro holocausto.

De um lado, as forças armadas de Israel, as mais bem treinadas do mundo, usam todos os seus esforços, que vão desde pelotões de infantaria até armamentos de alta tecnologia, como caças de última geração armados com armas inteligentes de alta precisão para atacar seus alvos em toda a Faixa de Gaza. Do outro, militantes do grupo fundamentalista Hamas, que se camuflam em meio à população civil, usam foguetes toscos sem qualquer sistema de mira e com curtíssimo alcance para provocar Israel. Nesse quadro extremamente desigual estabeleceu-se a imagem do primeiro conflito sangrento deste ano (que mal começou): um gigante militar usando toda a sua força contra um grupo de insurgentes sem se preocupar com o "dano colateral" (os inúmeros inocentes mortos no fogo cruzado).

A reação de Israel aos ataques do Hamas, efetuados por meio de foguetes fabricados em fundo de quintal que avançam apenas alguns quilômetros da fronteira, pode ser considerada, no mínimo, estúpida. Diferentemente das demais guerras vencidas por Israel em sua breve história, seus inimigos atuais não marcham fardados e uniformizados, não estão alojados em quartéis e (mais importante) não se diferenciam da população civil. A justificativa do governo israelense de "acabar de uma vez com o Hamas" não condiz com suas táticas e estratégias de combate.

Assim como os EUA no Vietnã nos anos 60 e 70, Israel não conseguirá vencer seus inimigos por meio da força bruta. Os intensos bombardeios israelenses à Faixa de Gaza só fazem matar homens, mulheres e crianças inocentes. Os verdadeiros inimigos de Israel estão bem protegidos de todo o seu aparato tecnólgico e conseguem manter sua luta usando uma ferramenta que os israelenses parecem ignorar: a inteligência.

O resultado está à mostra: enquanto os mortos em Israel mal alcançam as dezenas, as vítimas palestinas já estão próximas dos milhares (quase todos civis inocentes). O que está havendo em Gaza não é um combate ao terrorismo, mas um holocausto, quase igual ao perpetuado pela Alemanha nazista contra os judeus na Segunda Guerra. Tudo isso pode ser descrito em uma palavra: covardia. Os israelitas dizem viver sob o pânico das sirenes de ataque na fronteira e que suas crianças não podem ir à escola. Do outro lado da fronteira, o único alarme que os palestinos têm é o barulho dos jatos israelenses e o assobio das bombas caindo sobre suas cabeças (e lá as crianças mal têm escolas para frequentar).

As esperanças para a paz são poucas. Embora o Estado de Israel já esteja sendo acusado de crimes de guerra é quase certo que não haverá qualquer tipo de repreensão, já que Israel conta com a proteção internacional de seu poderoso "padrinho", os EUA. Muitos são os países que tentam persuadir o Estado de Israel e o Hamas a aceitarem uma trégua, mas nada terá sucesso a menos que alguém fale mais alto que Israel em sua própria língua, ou seja, a força bruta, ou que o governo de Israel pare para pensar antes de agir. É muito fácil mostrar ao mundo um determinado grupo como terrorista e ignorar o fato de que o mesmo grupo também fornece escolas às crianças de um lugar em que falta até água para beber. É muito fácil usar a força bruta contra civis inocentes que não conseguem se defender. É muito fácil violar tratados e acrodos internacionais quando se sabe que alguém extremamente poderoso vai defendê-lo nos fóruns internacionais e na ONU.

Enquanto Israel não se der conta de que é inútil usar a força para combater inimigos que usam a inteligência e enquanto qualquer pressão internacional para o fim do conflito esbarrar nos interesses norte-americanos, a paz continuará sendo apenas uma distante esperança de ano novo na Faixa de Gaza.