"Em meio à terra virgem desbravada
na mais esplendorosa alvorada
feliz como um sorriso de criança
um sonho transformou-se em realidade
surgiu a mais fantástica cidade
'Brasília, capital da esperança''"
na mais esplendorosa alvorada
feliz como um sorriso de criança
um sonho transformou-se em realidade
surgiu a mais fantástica cidade
'Brasília, capital da esperança''"
Trecho do hino "Brasília, a capital da esperança", de Capitão Furtado*
Mesma cena, novo crime. No mesmo local onde o índio Galdino, da tribo Pataxó, foi queimado vivo em 20 de abril de 1997, um novo crime bárbaro aconteceu na manha do último dia 19. Nas primeiras horas da manhã, um homem em uma motocicleta veio à praça e matou a tiros dois moradores de rua que dormiam no coreto da praça. O motivo do crime ou seu autor ainda são desconhecidos.
O que este crime mostrou é a proporção alcançada pela violência na cidade. Com pouco mais de 2 milhões de habitantes, o Distrito Federal (DF) enfrenta problemas de violência semelhante ao de grandes metrópoles. Em 2006 foi necessária intervenção da Força Nacional de Segurança em cidades do Entorno (municípios de GO e MG que fazem divisa com o DF) para controlar o narcotráfico e o crime organizado da região. A violência na capital não condiz com alguns de seus dados, uma das regiões de melhor qualidade de vida do país que conta com uma das PMs mais bem pagas e equipadas do país (e que tem o seu próprio BOPE!). Onde estão estes esforços de segurança? Seja nas cidades satélites ou no Plano Piloto, a violência assola tanto os cidadãos abonados quanto os despossúidos.
Lugares como a Praça do Índio, na 703/704 sul, tornaram-se lugares propícios para a ocorrência de crimes de todos os tipos. As típicas praças que separam as quadras de Brasília foram desenhadas para serem locais de lazer e diversão de seus moradores. Hoje, quase todas estão abandonadas, com as quadras de esporte depredadas, os brinquedos dos parquinhos enferrujados e as pichações já se tornaram parte da paisagem. Caso clássico de abandono dos locais públicos de lazer comunitário em prol dos grandes centros de consumo. Abandonadas, essas praças mal cuidadas e mal iluminadas tornam-se locais propícios para o crime. Os moradores das casas que rodeiam a Praça do Índio, por exemplo, reclamam da má iluminação e da falta de policiamento do local, onde, segundo os mesmos moradores, há assaltos, estupros e roubos frequentes. Onde está a PM nessas horas?
Ocasiões como esta faz os brasilienses se perguntarem: "onde o GDF está gastando meus impostos?". Não é nas ruas, pois basta chover que buracos (ou melhor, crateras) aparecem até mesmo nas vias expressas. Escolas, praças e hospitais sofrem do mesmo problema: falta de manutenção e investimento.
Embora aqui seja a sede do poder nacional, a capital federal parece mais uma cidade do velho oeste americano. Seus habitantes mais "ilustres" (nossos excelentíssimos deputados e senadores) quase não ficam aqui, trabalham apenas terças, quartas e quintas. Suas casas parecem estar longe de todo este cenário deprimente e o vidro de seus carros oficiais deve ser escuro demais para que eles não vejam as ruas por onde andam (ou talvez seja mera indiferença).
Já não bastasse a má fama da cidade por conta da corrupção, a cidade também passou a ser conhecida por crimes hediondos como o do último dia 20, contribuindo para a sua infâmia no resto do país (quem nunca viajou Brasil afora e ao se identificar como brasiliense ouviu comentários do tipo "ah, você é da terra da fantasia?" ou "e o que você faz nas férias? Queima índios e espanca garçons?").
O GDF parece mais preocupado em atos propagandísticos (como sediar a copa de 2014 em Brasília) do que cuidar de seus afazeres. Em vez de gastar dinheiro com placas enormes dizendo "O GDF está investindo aqui os seus impostos" poderiam gastá-lo com coisas realmente úteis, como postos policiais nas praças da cidade. Mas, enquanto o governo estiver mais preocupado com propaganda e em continuar sendo elogiado pelas revistas e jornais da cidade do que em garantir o bem estar de seus cidadãos e de seu dia-a-dia, Brasília terá todas as alcunhas possíveis, menos a que lhe foi dada em seu hino, a "capital da esperança".
Luiz Gustavo Aversa Franco
Brasília, DF, 26 de janeiro de 2009
*hinos de Brasília disponíveis em: http://www.infobrasilia.com.br/bsb_hino.htm
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