quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A (falta de) qualidade do transporte público no DF


Recentemente, o Governo do Distrito Federal (GDF) aprovou o aumento das passagens de ônibus e metrô em R$1,00 cada. Com isso, a passagem de ônibus, que já pesava no bolso do brasiliense, passou a ser ainda mais onerosa àqueles que dependem do transporte público para trabalhar e viver na capital federal. Deveria ser uma boa notícia, afinal mais dinheiro para a Secretaria de Transportes significa mais ônibus, em melhores condições e melhores linhas. Mas isso tudo não passa de teoria. E, como sempre, na prática é outra história.

Há algumas semanas um acidente envolvendo um ônibus (lotado por sinal) ocorreu próximo ao balão do aeroporto. O ônibus, que segundo os passageiros estava sendo guiado de maneira imprudente, capotou ao tentar fazer uma curva fechada em alta velocidade. Tal imprudência causou a morte de três passageiros e fez com que mais de vinte fossem internados em estado grave no Hospital de Base. Tal episódio é apenas um reflexo das péssimas condições do transporte público no DF.

Apesar de trágico, tal episódio não representa nenhuma novidade. Todos os dias, ônibus velhos andam pelas ruas da capital, na maioria das vezes guiados de maneira imprudente e perigosa. Mesmo com a compra de novos ônibus pelo governo, os ônibus velhos continuam rodando, causando prejuízos devido às frequentes quebras inerentes ao seu péssimo estado de conservação. Sem falar na poluição causada pelos motores velhos e mal cuidados.

Dizem por aí que Brasília foi planejada para ser habitada apenas pela classe média e a classe alta, visto que sua estrutura urbana favorece os automóveis mas não o transporte público. Verdade ou não, trata-se de uma realidade observável a qualquer um. Quem depende das linhas de ônibus, seja para se deslocar das cidades satélites (ou do entorno) até o plano piloto ou para circular dentro do mesmo, sabe que andar de ônibus no DF é uma tarefa árdua. Significa andar muito para chegar à parada mais próxima, enfrentar longas esperas pelo ônibus certo além de suportar ônibus lotados e inseguros. Como se não bastassem os veículos em estado ruim, as próprias linhas de ônibus são ineficientes, realizando trajetos longos e demorados que dificultam o deslocamento daqueles que dependem do transporte público para trabalhar, estudar e viver. O metrô, apesar de ser uma boa alternativa, ainda está longe de ser um substituto viável ao público, visto que possui poucos pontos de parada, além cobrir apenas metade do território do DF.

Considerando isso tudo e lembrando que, antes do reajuste, pagava-se R$2,00 apenas para se deslocar dentro do plano piloto e R$3,00 para se locomover entre o plano e as cidades satélites, fica a pergunta: pra quê aumento?!? Há alguns anos o atual governador se vangloriou de ter acabado com o transporte pirata em Brasília (se vangloriar por quê, se não fez mais que sua obrigação de chefe de governo em garantir o cumprimento da lei) e, recentemente, algumas placas nada discretas têm sido colocadas próximas ao eixão anunciando toda uma nova frota de novos ônibus. Não é preciso ser um gênio para descobrir a irregularidade aqui presente. Sem as vans do transporte pirata, todo o lucro da venda de passagens foi remetido às empresas legais do ramo. Com ônibus novos em circulação, os custos com manutenção devem baixar consideravelmente. Ora, se o custo pouco se altera (ou mesmo se mantém) e o lucro aumenta, o reajuste simplesmente não se justifica!

A não ser que algo esteja errado e o "quebra-cabeças esteja incompleto" (o que por si só representa uma irregularidade ainda maior) a única razão para o reajuste é aumentar ainda mais os lucros dos empresários e demais associados. E quanto ao trabalhador, ao estudante, ao cidadão de bem que tem que arcar com custos ainda maiores em tempos de crise internacional? Estes, como sempre, têm seus direitos esquecidos e suas prioridades colocadas em último lugar. Afinal, em um sistema em que os custos são repartidos entre todos mas os lucros são detidos por poucos não poderia ser diferente. E enquanto isso, aqueles desprovidos de motores próprios continuam esperando um ônibus velho e de passagem cara para deixá-lo em algum lugar não muito perto de casa em algum lugar do DF...

Luiz Gustavo Aversa Franco
Brasília, DF - 18 de fevereiro de 2009

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