sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Estados Unidos: a nova Roma


“Todo império perecerá.” Jean Baptiste Duroselle

Este é o título de um dos clássicos franceses de história das relações internacionais. Dificilmente podem-se fazer afirmações tão certas em tais áreas de estudo, mas essa é uma regra que é sempre válida, quase uma lei. Desde que os seres humanos constituíram-se em sociedades e nações, alguns, obcecados pelo poder e a riqueza, viram-se no direito de se impor aos seus vizinhos, estabelecer sua crença como verdade e eliminar aqueles que discordassem. Essa é a lógica dos impérios. Mas, como diz a lei da gravidade: “tudo que sobe, tem que descer”. Quem um dia é senhor, no outro se torna escravo. O que em uma época é um império, na outra se torna colônia.
Assim aconteceu com a esplendorosa Europa, que por séculos foi tida como centro do mundo, mas que permitiu que sua glória se extinguisse em duas guerras apocalípticas de grandes proporções, tornando-se por quase meio século uma espécie de cabo-de-guerra entre EUA e URSS. A própria URSS, que já desfrutou de influência e poderes globais, hoje não passa de uma memória de uma utopia degenerada. E assim, um dia, talvez não tão distante, acontecerá com os Estados Unidos.
Estudiosos atualmente debatem a caracterização do sistema internacional Pós-guerra Fria (caracterizado pela famosa “ordem bipolar”, a dualidade entre EUA e URSS). Será a nova ordem mundial multipolar, unipolar, ou o quê? Enquanto que no campo econômico percebem-se múltiplas contestações à hegemonia norte-americana, como a ascensão da China e da união Européia como novos pólos econômicos, é inegável a completa hegemonia dos EUA no campo político-militar. Com o fim da URSS, não há ninguém no horizonte dos EUA que possa se contrapor à sua força titânica.
Em vários aspectos, os norte-americanos existem para e da guerra. A guerra está em suas próprias origens, em sua cultura. Os insurgentes colonos britânicos na América fizeram sua independência por meio de uma guerra com sua antiga metrópole. Depois, a nova nação independente construiu (ou melhor, expandiu) seu hoje imenso território à base de dinheiro e sangue, comprando as terras dos europeus e tomando à força àquelas de mexicanos e índios nativos. Os heróis norte-americanos são, em geral, militares de alta patente, que viveram suas vidas ás custas da morte de outrem. A economia americana vive das guerras. O governo de Washington gasta bilhões de dólares com armas todos os anos, desde munições de pistolas à mísseis intercontinentais que levam ogivas nucleares. Quando estão em paz, os EUA enchem seus depósitos. Quando estes ficam cheios, eles precisam de guerras para esvaziá-los. Esta é a lógica do capitalismo de guerra dos EUA.
Desde que se firmaram como potência no meio internacional após a Primeira Guerra Mundial, os EUA se envolveram direta ou indiretamente em praticamente todas as guerras que ocorreram. Quem vive de guerras, precisa sempre de inimigos. Na Segunda Guerra Mundial os americanos viram o mal personificado na figura do nazismo alemão. Quando este foi derrotado, voltaram seus olhos para o socialismo soviético, seu antigo aliado contra o nazismo. Por meio século a política externa norte-americana foi desenvolvida com base na retórica de “defender o mundo livre contra a ameaça do comunismo soviético”, defesa essa que foi feita com base de financiamentos de ditaduras totalitárias nos vários continentes e em intervenções diretas em cantos esquecidos do mundo.
Com o fim da URSS e da Guerra Fria, os EUA perderam o rumo em sua política externa. Para desempenharem seu papel de paladinos da justiça e guerreiros da liberdade, eles precisavam de um vilão a quem sem contrapor. Mas com o fim do socialismo e sem nenhum país forte o suficiente para enfrentar os americanos, contra quem seria feita a nova cruzada?
A resposta foi encontrada dez anos após o fim da Guerra Fria e de permanência de “paz”. Em um golpe de sorte (ou uma tacada de mestre, pois não se sabe até onde vai a verdade dos fatos*) os norte-americanos conseguiram o que queriam e o que precisavam. Quando na manhã de 11 de setembro de 2001, atentados ao World Trade Center em Nova Iorque e ao Pentágono em Washington mudaram a geopolítica mundial e inauguraram a verdadeira ordem mundial Pós-guerra Fria. Supostamente perpetrados por terroristas radicais islâmicos treinados no Afeganistão e liderados por Osama Bin Laden, os famosos atentados de 11 de setembro mostraram ao mundo que os EUA não são uma fortaleza impenetrável, e deram respaldo ao anteriormente impopular presidente George W. Bush de inaugurar uma nova fase da política externa.
Mais uma vez tomando para si o cargo de “defensores do mundo livre”, os EUA voltaram a fazer o que fazem melhor fora de suas fronteiras: espalhar violência e medo nos vários cantos do mundo, violar soberanias internacionais e enfileirar seus adversários políticos em um paredão de fuzilamento global.
Assim foi que os EUA invadiram o Afeganistão, afirmando estar à procura do inimigo público número um da humanidade, que estaria escondido em distantes complexos de cavernas nas montanhas. E assim os EUA, no auge de seu autoritarismo, passaram por cima da opinião pública global e da própria Assembléia Geral da ONU para invadir o Iraque e depor o temível ditador sanguinário Saddan Hussein (que um dia fora aliado importante de Washington contra os aiatolás do Irã) que supostamente desenvolvia armas químicas, as quais nunca foram encontradas.
extraindo petre anda sobre a ta que hoje anda sobre a terrantes, tudo em defesa da liberdade e da democracia. ado an a como ve É assim que a administração Bush inova ao decretar, de forma totalmente autoritária o patriot act (ato patriota), que garante fortes poderes ao executivo e permite a qualquer autoridade americana violar os direitos civis de um cidadão, garantidos pela sua tão idolatrada constituição, com base simplismente em "fortes suspeitas".
Saddan foi enforcado por ter usado armas químicas contra centenas de curdos, mas o que aconteceu com os dirigentes políticos e militares americanos que jogaram duas bombas atômicas em cidades japonesas no fim da Segunda Guerra, matando centenas de milhares de civis e comprometendo várias gerações futuras com os efeitos da radiação? Entraram para a história como “heróis”.
Neste exato momento soldados americanos estão invadindo casas, estuprando mulheres e matando civis inocentes, tudo em defesa da liberdade e da democracia. Se há um inimigo público número um, seu nome é George W. Bush, sem sombra de dúvida o maior criminoso de guerra que hoje anda sobre a Terra, extraindo petróleo e demais recursos de países miseráveis afundados em guerras civis e bebendo da caveira de seus inimigos. É assim que os EUA cumprem sua função histórica: perpetrar guerras e conflitos sobre países fracos com base em retóricas políticas hipócritas e atropelar qualquer um que se levante a frente de seus interesses, seja em distantes países do Oriente Médio ou dentro de suas próprias fronteiras. Tudo o que foi aqui exposto mostra a verdade sobre este exemplo de tirania e imperialismo. Muito longe do própio ideal hipócrita de "lar dos bravos, terra dos livres" e "defensores da liberdade e da democracia", os EUA mostram que são verdadeiramente tiranos covardes, opressores implacáveis e ditadores exemplares. Assim como os soviéticos e nazistas a quem tanto se contraporam no passado, os EUA demonstram de todas as maneiras possíveis que não passam de um Estado totalitário degenerado pela riqueza e poder acumulados, um império em ruínas que recusa-se a aceitar a própria decadência.

*Pessoalmente tenho sérias dúvidas sobre a versão oficial dos fatos sobre o 11/09, mas não vou me aprofundar neste assunto aqui.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O passado negro do Brasil


29 de agosto de 2008, sexta-feira. Realiza-se nesse dia um dos eventos da “semana da anistia política” na Universidade de Brasília (UnB), 29 anos após a Lei da Anistia e 40 anos após a primeira (e pior) das 8 invasões militares à UnB.

29 de agosto de 1968, quinta-feira. Eram 10 horas da manhã quando 50 carros de polícia fecharam as ruas de acesso ao campus e invadiram a universidade. Seu objetivo era a captura de 7 estudantes “subversivos”. 500 estudantes ficaram horas detidos em uma quadra de esportes, sujeitos aos maus tratos do militares, um estudante foi baleado na cabeça, 50 foram levados aos porões, entre eles Honestino Guimarães, o único entre os 7 procurados. Dois dias depois, o deputado Márcio Moreira Alves discursa no Congresso contra a invasão. O presidente Artur da Costa e Silva pede a casacão do deputado, o Congresso nega, o governo edita o Ato Institucional Número 5 (AI-5) e inaugura os anos de ferro da ditadura militar.

Esta é a história de um dos períodos mais negros e trágicos da história brasileira, período que deixou marcas na sociedade até hoje. Para alguns, o dia 29 de agosto de 1968 foi um dia de glória e vitória contra os “perigosos comunistas subversivos”. Para muitos, foi um dia de tragédia.

De 31 de março de 1964, quando os militares tomaram o poder, a 15 de janeiro de 1985 quando o colégio eleitoral escolheu Tancredo Neves como primeiro presidente civil pós-ditadura, milhares de pessoas foram presas, torturadas e mortas pelos militares. Mesmo vivendo um regime democrático há anos, a ditadura militar ainda permeia o passado do povo brasileiro, como um demônio adormecido a ser exorcizado.

Com o falso pretexto de proteger o país da “ameaça comunista”, os militares, apoiados pelas elites, pela classe média, Igreja e outros setores da sociedade governaram o país por 20 anos com mãos de ferro, espalhando violência e medo e ceifando vidas inocentes.

Mesmo depois dos militares terem deixado o poder e o país ter voltado à democracia, há ainda muita discórdia na sociedade brasileira em relação ao período da ditadura. Uns tentam justificá-la, outros querem justiça, alguns só querem saber o paradeiro de seus filhos, irmãos e amigos.

A Semana da Anistia promovida, pelo Ministério da Justiça em parceria com Centros Acadêmicos da UnB, é prova viva desta “batalha de memórias” que é hoje travada na sociedade brasileira. 40 anos após a invasão, a pergunta hoje é: por quê?

Os setores conservadores da sociedade vêm a ditadura como um mal necessário, pois se os militares não tivessem assumido o poder como fizeram, os “perigosos terroristas subversivos” fariam uma revolução comunista e implantariam uma ditadura socialista no país. Esses setores consideram os militares “heróis da nação”. São em geral membros da elite econômica e da classe média, que se beneficiaram bastante com a ditadura, especialmente nos anos do “milagre econômico” (o qual relembram com tanto saudosismo). Será que se eles tivessem familiares e amigos entre os desaparecidos teriam a mesma opinião?

Infelizmente a ditadura não foi um período muito feliz para a maioria dos brasileiros. Alienados pela euforia do tricampeonato de futebol de 1970 e pela propaganda ufanista do governo que dizia “o Brasil é o país do futuro”, os verdadeiros autores do milagre, a massa de trabalhadores brasileiros, viu seus esforços serem em vão, pois o milagre se mostrou uma miragem, ao qual se sucedeu a terrível inflação dos anos 70 e 80, enquanto os militares se justificavam dizendo estarem esperando “o bolo crescer para ser repartido”. O que realmente aconteceu foi que o bolo cresceu, os militares e as classes altas o repartiram entre si, e a população ficou apenas com as migalhas, sendo obrigada a enfrentar os duros anos da inflação.

Ainda assim, o dano material não chega aos pés das perdas humanas da ditadura. Não se sabe ao certo quantos foram os mortos entre os desaparecidos, pessoas que eram presas sem mandato, sem direito a julgamento, e torturadas e executada. Mesmo que muitos dos guerrilheiros fossem comunistas e quisessem implantar aqui uma ditadura de esquerda, não justifica os atos terríveis cometidos em nome da “segurança nacional”. Além disso, muitos dos que foram presos, torturados e mortos eram verdadeiros defensores da liberdade e da democracia ou então eram totalmente inocentes. De uma forma ou de outra, o que importa é que todos tiveram o mesmo destino trágico.

Um dos motivos da revisão da Lei da Anistia é justamente a tentativa de reparar os danos desta idade das trevas brasileira, pois a mesma lei que anistiou os perseguidos, anistiou os algozes enquanto ainda tinham o sangue de suas vítimas nas mãos. Não se trata de vingança, mas de justiça!

Mesmo vários anos após a volta da democracia, a ditadura é um capítulo mal resolvido na história do Brasil. È preciso abrir os arquivos que os militares escondem mostrar a verdade (mesmo que essa seja a face dura do mal). É preciso fazer justiça! Se há culpados, que sejam punidos pelos seus crimes! É preciso parar com os eufemismos lingüísticos. O que houve em 64 não foi uma “revolução” e sim um golpe, não foi um “regime militar” e sim uma ditadura, as pessoas não sofreram “maus tratos” e sim tortura e morte!

Acima de tudo, é preciso criar consciência que a ditadura não foi um “acidente de percurso”. Quando os militares deram o golpe, foram apoiados por setores chaves da sociedade e tiveram a conivência da maioria da população. Poucos foram aqueles que tiveram coragem para enfrentar a ditadura de frente (violenta ou pacificamente) e muitos dos que tiveram tal coragem não tiveram a chance de contar sua história. Não podemos mudar o começo, mas temos a capacidade (e a responsabilidade) de mudar o fim. Se temos uma democracia no país não foi por mero acaso, mas sim pelos sacrifícios de muitos brasileiros e brasileiras. Portanto, tenhamos a coragem necessária para honrar todos aqueles que deram seu sangue pela liberdade!

domingo, 17 de agosto de 2008

A guerra no Cáucaso


“Todo Estado se fundamenta na força.”
Leon Trótski

Após os atentados de 11 de setembro de 2001, a geopolítica mundial vê um retrocesso na condução dos interesses internacionais dos Estados. O fim da Guerra Fria previa uma nova era de paz e diplomacia em uma nova ordem internacional, na qual deveria predominar as negociações pacíficas e diplomáticas em vez da coação violenta por parte dos Estados fortes. Entretanto, este quadro se mostrou apenas mais uma utopia nos acontecimentos da última semana.

Tudo começou na quinta-feira dia 7, quando forças do exército da Geórgia (ex-república soviética e vizinha da Rússia) invadiu a cidade de Tskhinvali, capital da Ossétia do Sul, uma região que tenta se separar da Geórgia. Esta “punição” gerou uma reação bastante violenta e desproporcional por parte da Rússia, que após o fim da URSS tenta manter sua hegemonia política na região. Desde então, as cidades georgianas têm sido duramente bombardeadas e invadidas pelas forças russas e milhares de civis inocentes são mortos ou obrigados a se refugiar em outras regiões.

Essa distante guerra no Cáucaso não se trata de um conflito localizado, mas de uma verdadeira queda-de-braço internacional entre a Rússia e os EUA. De um lado, a Rússia tenta manter sua predominância na região da mesma maneira que Josef Stálin o fazia há 50 anos, na base da força bruta. De outro, os EUA fazem de tudo para manter seus novos aliados no quintal da ex-superpotência rival da maneira favorita de seu presidente George W. Bush, a ameaça do uso da força.

Trata-se de um duelo de Titãs que denota as verdadeiras características da “nova ordem mundial” (que de nova só tem o nome): a resolução de disputas de forma violenta, a imposição da política externa das grandes potências aos países pequenos, e o duelo entre as potências rivais para manter seus interesses estratégicos egoístas. A verdadeira realidade do conflito é a mentalidade política dos chefes de Estado russos e norte-americanos, que vêem o mundo apenas como um tabuleiro de xadrez em que eles movem as peças visando à completa subjugação do adversário.

O aparente desfecho desse sangrento conflito é a aceitação de um modelo de trégua proposto á Rússia pela União Européia. Entretanto, a verdade está longe das câmeras. Seguindo a filosofia da ordem mundial pós 11 de setembro, em que as grandes potências como Rússia e China não admitem qualquer dissidência em sua esfera de influência e os EUA e o Reino Unido se impõem por meio da força, o primeiro ministro Russo Vladmir Pútin cogita a separação de duas regiões da Geórgia (Ossétia do Sul e Abcássia) desse país. Com medo de perderem um importante aliado político na vizinhança da Rússia, o presidente norte-americano George W. Bush intima os russos a cumprirem sua palavra e dão ares de uso de sua própria força militar para evitar a separação da Geórgia.

Nesta história não existem heróis, apenas os dois maiores poderes militares do mundo comportando-se como “valentões na escola” usando de sua descomunal força bruta para garantir seus interesses. No meio do fogo cruzado estão os maiores perdedores desse jogo, os civis georgianos e ossétianos, que são mortos em meio á disputa de demagogia política dos governos russos, georgianos e norte-americanos. Os números falam por si: 2 mil mortos (a imensa maioria de civis inocentes), mais de 40 mil desabrigados e milhares de famílias e seres humanos que tiveram seus direitos fundamentais negados para a manutenção dos egos das grandes potências.

Longe da idílica fantasia do mundo pós Guerra Fria, a realidade internacional de hoje não é a do Direito Internacional e da diplomacia, mas a lei da selva, em que o mais forte domina o mais fraco.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A triste realidade de Brasília


Brasília é famosa pela sua beleza arquitetônica. Tombada como patrimônio cultural da humanidade, a cidade atrai milhares de pessoas de todas as partes do país para apreciar sua paisagem e seus monumentos únicos. Infelizmente, a verdade não é muito parecida com os cartões postais.

Vários dos principais monumentos e pontos turísticos da cidade estão mal cuidados, vítimas do descaso e do vandalismo. Os turistas que vêem conhecê-los se decepcionam com o péssimo estado de conservação e com a falta de informações. Não é esse o tratamento que Brasília merece!

Em alguns pontos da cidade, como no “balão” do aeroporto e no Eixo Monumental, há relógios digitais que marcam a contagem regressiva para o aniversário de 50 anos da capital, a ser realizado em 21 de abril de 2010. Entretanto, as atitudes do Governo do Distrito Federal (GDF) para com a cidade não condizem com sua atitude propagandística.

A foto acima mostra toda a beleza da capital federal, vista do mirante da Torre de TV. Mas ao olhar os monumentos de perto, percebe-se que essa beleza está bastante deteriorada. Em vários pontos turísticos importantes como a Praça dos Três Poderes, a Catedral, o Teatro Nacional e a Igrejinha, há falta de limpeza, de cuidados e de informações turísticas.

A Praça dos Três Poderes está totalmente largada às traças (ou melhor, aos pombos), suja, sem cuidados e sem nenhum tipo de informação turística. A Catedral está com mais de duzentos de seus vitrais quebrados, além de possuir infiltrações e outros graves problemas estruturais. O Teatro Nacional Cláudio Santoro está repleto de entulho, marcas de obras de reforma mal conduzida, além de estar com a fachada externa quase totalmente comprometida. A Igrejinha da entrequadra 307/308 Sul está bastante depredada, vítima de pichações e da falta de policiamento e de cuidados (impressiona o estado do painel feito com os azulejos de Athos Bulcão).

Todos estes monumentos têm algo incomum além da beleza: o terrível estado de conservação. Todos são vítimas do vandalismo, da falta de cuidados, da falta de policiamento e do descaso do governo. São necessárias reformas e reparos que dêem a estes monumentos a glória que eles merecem. Infelizmente este processo de revitalização enfrenta obstáculos monstruosos, como a excessiva burocracia da administração e a falta de interesse político por parte do GDF.

Se o atual governo pretende realmente ter uma cidade para apresentar em um cinqüentenário em 2010, é melhor deixar de lado as intrigas políticas e as barreiras burocráticas e começar a trabalhar agora! Como brasiliense nato, me sinto profundamente chateado pelo estado em que se encontra esta cidade. Espero que tanto o governo como a comunidade façam o que for necessário para manter a verdadeira beleza de Brasília, respeitando a memória daqueles que planejaram, construíram e fundaram esta cidade.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

As olimpíadas e a China III



Tradução livre da matéria publicada por Chris Chase em 06 de agosto de 2008. Original em inglês disponível em: http://sports.yahoo.com/olympics/beijing/blog/fourth_place_medal/post/Chi?urn=oly,98718

China revoga visto de medalista de ouro, ativista de Darfur Cheek

O medalista de ouro olímpico e franco ativista de Darfur Joey Cheek teve seu visto revogado pela embaixada chinesa, horas antes do campeão de “speedskating” pegar seu vôo para a China. E ele não tinha planos de usar uma máscara quando chegasse lá.

As autoridades chinesas não precisam de uma razão para revogar o visto de alguém, mas, em sua visão, eles tinham várias razões para revogar o de Cheek. Ele é o fundador da Equipe Darfur, um grupo de setenta atletas cujo objetivo é chamar a atenção mundial para as violações dos direitos humanos em Darfur, região do Sudão. As relações militares, econômicas e diplomáticas da China com o Sudão foram bem publicadas nos antecedentes aos Jogos.

Disse Cheek sobre seu banimento em um discurso preparado:

“Estou triste por não poder participar dos Jogos. Os Jogos Olímpicos representam algo poderoso: que pessoas do mundo todo podem se unir e realizar coisas que ninguém achava possível. Contudo, a negação do meu visto é um esforço sistêmico pelo governo chinês de coagir e ameaçar atletas que estão falando em nome do povo inocente de Darfur.”

Cheek estava indo á China para apoiar os atletas da Equipe Darfur, incluindo a jogadora de futebol Abby Wambach, e promover a causa, um que ele tem defendido por anos. Após ganhar o ouro nos Jogos de Torino, Cheek anunciou uma doação de 25 mil dólares do bônus do Comitê Olímpico dos Estados Unidos (United States Olympic Committe, USOC) à Darfur, e implorou a seus patrocinadores que fizessem o mesmo. Parece que Joey Cheek é realmente um dos mocinhos.

E agora ele está fora da China antes mesmo de chegar lá. Com os Jogos se aproximando (apenas dois dias agora), o mundo parece pronto para esquecer tudo sobre os assuntos chineses para se concentrar nos Jogos em si. Infelizmente, as ações da China tornam isso impossível. Em uma hora em que deveríamos estar pensando em quem vai acender o caldeirão olímpico, se Michael Phelps pode quebrar o recorde de todos os tempos e como Liu Xiang vai reagir à pressão de 1,3 bilhões de compatriotas vigiando cada passo seu, estamos, entretanto, discutindo a relutância do governo chinês em permitir qualquer dissidência em seu país, apesar das repetidas promessas de que eles jogariam limpo quando as olimpíadas chegassem á cidade.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

As olimpíadas e a China II


"Tudo que você faz um dia volta para você"
Esta sábia frase denota o verdadeiro significado de muito do que acontece no mundo hoje, como o último ataque terrorista na cidade de Kashgar, na China, em que dois jovens mataram 16 policiais. O ataque foi atribuído a um grupo separatista islâmico (que como qualquer um que se dispõe a pegar em armas por uma causa, é chamado de "terrorista").
O governo chinês acusa seus adversários políticos de "politizarem" as olimpíadas de Pequim, o que é natural quando a mídia internacional foca suas atenções em eventos tão aclamados como os jogos olímpicos. Sempre os eventos esportivos globais foram utilizados para a realização de protestos (pacíficos ou não) pelos mais diferentes grupos. O caso da China é especial.
Por que grupos de pessoas seguidoras de uma causa constantemente usam da violência para alcançar seus objetivos? Por uma simples razão: reciprocidade. Ninguém faz esse tipo de coisa aleatoriamente. Sempre existe um passado por trás de cada ato violento. No caso dos atentados na China, a violência usada contra o governo é, na verdade, a reação da própria violência das autoridades chinesas contra minorias étnicas e religiosas de partes distantes da China.
A China é o terceiro maior país do mundo, e abriga mais de 1,3 bilhões de pessoas de vários povos e etnias, formando um enorme mosaico cultural humano. Um país como esse deveria ser governado com base na pluralidade e no diálogo entre os compatriotas. Entretanto, a China é governada pelo punho de ferro autocrático do Partido Comunista, que desde a Revolução de 1949, vêm oprimindo de diversas maneiras as várias minorias existentes no país.
Obcecados pelo controle total da população chinesa, o Partido Comunista não mede esforços ao reprimir qualquer um que se levante contra sua doutrina. É isso que acontece com os budistas no Tibet, com os muçulmanos no Xinjiang e com qualquer outro que se recuse a aceitar os rumos determinados pelo governo chinês. As minorias destas províncias exigem apenas o que é direito de todo ser humano: o respeito aos seus valores culturais e à sua honra. Em vez de lidar com esta situação de maneira cordial e civilizada, o governo chinês usa seu implacável punho de ferro contra os chamados "dissidentes". Quando manifestações pacíficas e diálogos falham nessas situações, só existe um caminho: o da força.
Não é de se impressionar que a China seja "vítima" de movimentos separatistas e atentados. Em um país em que não se respeitam os direitos básicos dos seres humanos e onde a vontade geral do povo é completamente ignorada, somente o uso de balas e explosivos pode atrair a atenção do governo. Os chamados "terroristas" não fazem nada além de negociar com o Partido Comunista em sua própria língua.
Neste caso, o futuro não é nem um pouco nebuloso. Enquanto a honra e a cultura dos diversos povos da China não forem respeitados e estes povos forem tratados com ignorância, mais sangue será derramado e mais violência será gerada.
E ainda se dizem uma "República Popular"...

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

As olimpíadas e a China


2008 tem sido marcado por uma febre cultural a respeito das olimpíadas de Pequim (Beijing). A promessa de grandiosidade dos jogos de 2008 na capital chinesa têm atraídos olhares do mundo todo para a China. Mas há mais por trás das olimpíadas do que o que é mostrado na tela da televisão.
A China é um país de cultura milenar, terra natal de alguns dos maiores tesouros culturais da terra. Sua cultura e sua história têm fascinado a humanidade há séculos. Entretanto, a história chinesa não é tão feliz. Desde o século XIX, o país foi vítima de invasões estrangeiras, ocupações e humilhações internacionais. Em 1949, na tentativa de mudar esse quadro, Mao-Tsé Tung liderou uma revolução comunista na China. Com o intuito de acabar com a miséria do povo chinês e de tornar o país uma grande potência, o Partido Comunista Chinês empreendeu políticas nada ortodoxas na condução dos rumos nacionais.
Hoje a China é admirada (às vezes até demasiadamente) pelo mundo todo. Seu incrível crescimento econômico e seu progresso têm sido motivo de atenção de todos, principalmente dos ocidentais. Mas todo progresso tem um preço. Enquanto economistas comemoram o crescimento meteórico chinês, esquecem-se das bases de sustentação desse progresso. A esmagadora maioria dos chineses enfrentam jornadas de trabalho de 14 a 16 horas, sem direito à férias e a fins de semana, e em troca ganham um mísero salário médio de 30 dólares. Na China, não existem sindicatos ou associações trabalhistas, a não ser aquelas permitidas (e controladas) pelo Partido Comunista. A China é o país que tem o maior aumento de emissões de gases estufa, e é também o segundo maior emissor, atrás apenas dos Estados Unidos. Na China não existem democracia, liberdade de imprensa, liberdade de expressão ou liberdade política. Ou se segue o rumo da revolução, ou se segue o rumo da bala. Essa á a política chinesa.
Os jogos olímpicos de 2008 têm sido usados para “propagandear” a "nova China" criada pelo partido comunista. Trata-se de um país de grandes (ou melhor, imensas) proporções, de progresso inalcançável, de total desrespeito ao meio ambiente e de censuras inimagináveis. Como tudo o que se passa na China, as olimpíadas t~em sua cobertura feita da maneira determinada pelo Partido Comunista. Até a internet é censurada por lá! No primeiro semestre de 2008, durante os eventos da passagem da tocha olímpica pelo mundo, vários protestos contra a tirania chinesa no Tibet têm sido realizados e reprimidos no mundo todo (mesmo nos países que se dizem democráticos). Trata-se do cúmulo da hipocrisia internacional! Em 2007, a opinião pública mundial condenou o regime militar de Myanmar (antiga Birmânia) por reprimir de forma violenta protestos pacíficos de monges budistas. Em 2008, o mesmo acontece no Tibet governado pelo punho de ferro do Partido Comunista Chinês e, entretanto, a opinião pública internacional se calou (com certeza ocupada demais com as festividades olímpicas).
Então, fica a pergunta: o progresso chinês vale a pena? Vale a pena trocar a liberdade natural, que nos é de direito, por maravilhas efêmeras de um mundo globalizado? Vale a pena destruir o meio ambiente para sustentar o progresso material? Vale a pena sacrificar a cultura milenar dos antepassados por produtos capitalistas da moda? Vale a pena sustentar um crescimento magnífico com 30 mil execuções por ano além de torturas e repressões iguais às sofridas no passado? Mesmo a China sendo uma terra distante, diferente em muitos aspectos de nossa cultura e visão de mundo, algumas coisas ainda são inerentes a todo e qualquer ser humano, independente de cultura ou nacionalidade: liberdade, honra, respeito.
Então, os fins justificam os meios?