sexta-feira, 17 de abril de 2009

Immanuel Wallerstein: sigam o Brasil

“Sigam o exemplo do Brasil”, recomenda Immanuel Wallerstein.

Parece haver duas ocasiões que exigem dois planos para a esquerda mundial, e em particular a estadunidense. A primeira ocasião é de curto prazo. O mundo está numa profunda depressão, que só vai piorar pelo menos no próximo ou em dois anos. O curto prazo imediato concerne ao desemprego que muita gente está enfrentando, o rebaixamento de salários e em muitos casos a perda das casas. Se os movimentos de esquerda não têm planos para esse cenário de curto prazo, eles não podem estabelecer uma conexão, em sentido algum, com a maior parte das pessoas.


A segunda ocasião é a crise estrutural do capitalismo como sistema mundial, que enfrenta, em minha opinião, sua extinção nos próximos vinte ou quarenta anos. Esse é o cenário no médio prazo. E se a esquerda não tem planos para o médio prazo, o que substituirá o capitalismo como sistema mundial será algo pior, provavelmente muito pior do que o terrível sistema que se tem vivido nos últimos cinco séculos.


As duas ocasiões exigem táticas diferentes, mas combinadas. Qual a nossa situação no curto prazo? Os Estados Unidos elegeram um presidente centrista, cujas inclinações estão um pouco à esquerda do centro. A esquerda ou a sua maior parte, votou nele por duas razões. A alternativa era pior, na verdade muito pior. Então votamos no menos mal. A segunda razão é que pensamos que a eleição de Obama poderia abrir espaço para movimentos sociais de esquerda.

O problema que a esquerda está enfrentando não é nada novo. Situações como essa acontecem como padrão. Roosevelt, em 1933, Attlee em 1945, Mitterand em 1981, Mandela em 1994, Lula em 2002 foram todos Obamas em seus momentos e lugares. E a lista poderia ser expandida infinitamente. O que faz a esquerda quando essas figuras “decepcionam”, como devem provavelmente todas fazê-lo, à medida que são todos centristas, mesmo se estão à esquerda do centro?


Em minha opinião, a única atitude sensata é aquela tomada pelo grande, poderoso e militante Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no Brasil. O MST apoiou Lula em 2002 e, a despeito do não-cumprimento do que ele prometeu, eles o apoiaram na sua reeleição em 2006. E fizeram isso com plena consciência das limitações de seu governo, porque a alternativa era claramente pior. O que eles também fizeram, contudo, foi manter a pressão nos encontros com o governo, denunciando-o publicamente quando fosse merecido e se organizando contra suas falhas.


O MST poderia ser um bom exemplo para a esquerda estadunidense, se tivéssemos qualquer coisa comparável em termos de um movimento social forte. Nós não temos, mas isso não deveria nos impedir de tentar nos juntar e fazer o melhor que podemos para pressionar Obama como faz o MST, aberta, pública e pesadamente – o tempo todo e é claro apoiando-o com entusiasmo quando o governo acerta. O que nós queremos de Obama não é transformação social. Tampouco ele quer, ou pode, oferecer-nos isso. Queremos dele medidas que venham a minimizar a dor e o sofrimento da maioria das pessoas agora. Isso ele pode fazer, e é aí que a pressão sobre ele pode fazer uma diferença.

O médio prazo é bastante diferente. E aqui Obama é irrelevante, assim como o são todos os outros governos à esquerda do centro. O que está em curso é a desintegração do capitalismo como sistema mundial, não porque ele não pode garantir o bem-estar da imensa maioria (ele nunca pôde isso), mas porque ele não pode mais assegurar que os capitalistas terão uma acumulação sem fim do capital como sua razão de ser.


Chegamos a um momento em que nem capitalistas de visão, nem seus oponentes (nós) estão tentando preservar o sistema. Estamos ambos tentando estabelecer um novo sistema, mas é claro que temos idéias muito diferentes, na verdade radicalmente opostas, quanto à natureza desse novo sistema.


Porque o sistema se moveu para muito longe do equilíbrio, tornou-se caótico. Estamos assistindo a flutuações selvagens nos indicadores econômicos usuais – os preços das commodities, o valor relativo das ações, os níveis reais das taxas de câmbio, a quantidade de itens produzidos e comercializados. À medida que ninguém realmente sabe, praticamente de um dia para o outro, onde esses indicadores vão parar, ninguém pode razoavelmente planejar coisa alguma.

Numa situação dessas, ninguém sabe quais medidas serão melhores, qualquer que seja sua política. Essa própria confusão intelectual prática leva a demagogias frenéticas de todos os tipos. O sistema está se bifurcando, o que significa que em vinte ou quarenta anos haverá algum novo sistema, que criará ordem a partir do caos. Mas nós não sabemos que sistema será esse.


O que nós podemos fazer? Antes de qualquer coisa, devemos ter clareza a respeito do que se trata essa batalha. Esta é a batalha entre o espírito de Davos (por um novo sistema que não é o capitalismo, mas é apesar disso hierárquico, explorador e polarizador) e o espírito de Porto Alegre (um novo sistema que é relativamente democrático e relativamente igualitário).


Nenhum mal menor aqui. É uma coisa ou outra.


O que deve a esquerda fazer? Promover a clareza intelectual a respeito da escolha fundamental. Então, organizar-se em milhares de níveis e em milhares de maneiras para empurrar as coisas para a direção correta. A principal coisa a fazer é encorajar a "descommoditificação" de tudo o que pudermos "descommoditificar". A segundo é experimentar todos os tipos de novas estruturas que faça um sentido melhor de justiça global e sanidade ecológica. E a terceira coisa que devemos fazer é encorajar o otimismo sóbrio. A vitória está longe de ser certa. Mas é possível.


Então, para resumir: trabalhar no curto prazo para minimizar a dor, e no médio prazo para assegurar que o novo sistema que emergirá será um melhor, e não um pior. Mas fazer este trabalho sem triunfalismo, e sabendo que a luta será tremendamente difícil.


Publicado originalmente na The Nation, em 4 de março de 2009


*Immanuel Wallerstein é P.h.D. em Sociologia pela Universidade de Columbia (1959) e Doutor honoris causa pela Universidade de Coimbra (2006). Um dos fundadores da Teoria do Sistema Mundo, é autor de vários livros, entre eles O Declínio do Poder Americano (Contraponto, 2004).

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Quem comeu o coronel? - arbitrariedade das autoridades brasileiras

DONO DE LANCHONETE É PRESO POR BATIZAR SANDUICHES COM PATENTES MILITARES

Para o dono de uma lanchonete de Penedo, a 170 km de Maceió (AL) tratava-se de uma estratégia de marketing.
Para o comandante da Polícia Militar na cidade, era uma ofensa à Corporação.
E assim, por batizar os sanduíches da casa com patentes militares, Alberto Lira, 38 de idade, dono da lanchonete Mister Burg, acabou detido por ordem
do comandante da PM local.
Afinal, entendeu o militar, não ficaria bem alguém chegar na lanchonete e pedir: "quero um coronel mal passado".
Ou sair de lá dizendo: "acabei de comer um sargento".
Na delegacia foi lavrado boletim de ocorrência e, face ao tumulto havido, a casa comercial fechou durante algumas horas.
Como o delegado de plantão entendeu que não havia motivo para prisão, Lira foi liberado horas mais tarde.
Os cardápios da lanchonete foram recolhidos para avaliação e a casa reaberta em seguida.
Aproveitando-se da inesperada repercussão, a lanchonete quer manter o cardápio que desagrada a PM.
A casa oferece lanches como o "coronel" (que é o filé com presunto), o "comandante" (um prato com calabresa frita) e por aí vai.
A brincadeira foi demais para o parco humor dos militares, que dizem que os nomes dos pratos provocavam chacotas e insinuações contra os policiais
entre os moradores da cidade de 60 mil habitantes.
Lira, o dono da lanchonete, diz que não teve nem tem nenhuma intenção de brincar ou ofender a Corporação.
O cardápio - garante o dono da lanchonete - pretendia ser uma homenagem à hierarquia militar.
O prato mais caro era o "comandante".
O comerciante contratou ontem (15) o advogado Francisco Guerra para entrar com uma denúncia por abuso de autoridade contra o comandante local da
PM e uma ação reparatória por dano moral contra o Estado de Alagoas. Nela vai salientar que não existe nenhum texto legal que impeça um restaurante
de incluir, no seu cardápio, "lula à milanesa", "filé a cavalo" ou "coronel mal passado", etc.
O advogado já pediu habeas corpus preventivo para evitar outra detenção de seu cliente. A peça sustenta que "se o argumento do comandante fosse
válido, nenhuma festa de criança poderia ter brigadeiro".
Como se sabe, brigadeiro - além de ser a mais alta patente da Aeronáutica - é também o nome do docinho obrigatório em aniversário de crianças.
"Em Penedo, comer brigadeiro pode, mas comer coronel, está proibido" - ironizam os advogados da cidade.

Autor desconhecido

domingo, 5 de abril de 2009

Como a grande mídia festejou o golpe de 1964

Em "comemoração" dos 45 anos do Golpe Militar de 1964, completados no último dia 31:
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Emir Sader sugeriu em seu blog na Carta Maio: “que tal republicar as manchetes de cada órgão de imprensa naquele primeiro de abril de 1964?”. Aqui está uma seleção do que foi destaque nos principais jornais do Brasil a partir do 1º de abril de 1964. A pesquisa abaixo foi publicada no blog da BrHistória, da jornalista Cristiane Costa:

“Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente das vinculações políticas simpáticas ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é de essencial: a democracia, a lei e a ordem.

Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas que, obedientes a seus chefes, demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.

Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ter a garantia da subversão, a ancora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada ...”

(O Globo - Rio de Janeiro - 4 de Abril de 1964)

“Multidões em júbilo na Praça da Liberdade.
Ovacionados o governador do estado e chefes militares.
O ponto culminante das comemorações que ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento pela paz e pela democracia foi, sem dúvida, a concentração popular defronte ao Palácio da Liberdade. Toda área localizada em frente à sede do governo mineiro foi totalmente tomada por enorme multidão, que ali acorreu para festejar o êxito da campanha deflagrada em Minas (...), formando uma das maiores massas humanas já vistas na cidade”

(O Estado de Minas - Belo Horizonte - 2 de abril de 1964)

“Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares que os protegeram de seus inimigos”
“Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais”

(O Globo - Rio de Janeiro - 2 de Abril de 1964)

“A população de Copacabana saiu às ruas, em verdadeiro carnaval, saudando as tropas do Exército. Chuvas de papéis picados caíam das janelas dos edifícios enquanto o povo dava vazão, nas ruas, ao seu contentamento”
(O Dia - Rio de Janeiro - 2 de Abril de 1964)

“Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas -negocistas- sindicalistas. Um dos maiores gatunos que a história brasileira já registrou., o Sr João Goulart passa outra vez à história, agora também como um dos grandes covardes que ela já conheceu.”
(Tribuna da Imprensa - Rio de Janeiro - 2 de Abril de 1964)

“A paz alcançada. A vitória da causa democrática abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa perspectiva seja toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do Brasil”
(Editorial de O Povo - Fortaleza - 3 de Abril de 1964)

“Desde ontem se instalou no País a verdadeira legalidade ... Legalidade que o caudilho não quis preservar, violando-a no que de mais fundamental ela tem: a disciplina e a hierarquia militares. A legalidade está conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas”
(Editorial do Jornal do Brasil - Rio de Janeiro - 1º de Abril de 1964)

“Milhares de pessoas compareceram, ontem, às solenidades que marcaram a posse do marechal Humberto Castelo Branco na Presidência da República ...O ato de posse do presidente Castelo Branco revestiu-se do mais alto sentido democrático, tal o apoio que obteve”
(Correio Braziliense - Brasília - 16 de Abril de 1964)

“Vibrante manifestação sem precedentes na história de Santa Maria para homenagear as Forças Armadas. Cinquenta mil pessoas na Marcha Cívica do Agradecimento”
(A Razão - Santa Maria - RS - 17 de Abril de 1964)

“Vive o País, há nove anos, um desses períodos férteis em programas e inspirações, graças à transposição do desejo para a vontade de crescer e afirmar-se. Negue-se tudo a essa revolução brasileira, menos que ela não moveu o País, com o apoio de todas as classes representativas, numa direção que já a destaca entre as nações com parcela maior de responsabilidades”.
(Editorial do Jornal do Brasil - Rio de Janeiro - 31 de Março de 1973)

“Golpe? É crime só punível pela deposição pura e simples do Presidente. Atentar contra a Federação é crime de lesa-pátria. Aqui acusamos o Sr. João Goulart de crime de lesa-pátria. Jogou-nos na luta fratricida, desordem social e corrupção generalizada”.
(Jornal do Brasil, edição de 01 de abril de 1964.)

"Participamos da Revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada" .
Editorial do jornalista Roberto Marinho, publicado no jornal" (O Globo", edição de 07 de outubro de 1984, sob o título: "Julgamento da Revolução").

"O Brasil já sofreu demasiado com o governo atual. Agora, basta!"
(Do Editorial BASTA!, Correio da Manhã, edição de 31 de março de 1964)

"Só há uma coisa a dizer ao Sr. João Goulart: Saia!"
(Do editorial FORA!, Correio da Manhã, edição de 1º de abril de 1964)

"Minas desta vez está conosco"... "dentro de poucas horas, essas forças não serão mais do que uma parcela mínima da incontável legião de brasileiros que anseiam por demonstrar definitivamente ao caudilho que a nação jamais se vergará às suas imposições."
(São Paulo repete 32, Estado de São Paulo, edição de 1º de abril de 1964)

"Fugiu Goulart e a democracia está sendo restaurada". .. "atendendo aos anseios nacionais de paz, tranqüilidade e progresso... as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal".
(O Globo, edição de 2 de abril de 1964)

"Lacerda anuncia volta do país à democracia."
(Correio da Manhã, edição de 2 de abril de 1964)

"A Revolução democrática antecedeu em um mês a revolução comunista".
(O Globo, edição de 5 de abril de 1964)

"Feliz a nação que pode contar com corporações militares de tão altos índices cívicos". "Os militares não deverão ensarilhar suas armas antes que emudeçam as vozes da corrupção e da traição à pátria."
(O Estado de Minas, edição de 5 de abril de 1964)

"PONTES DE MIRANDA diz que Forças Armadas violaram a Constituição para poder salvá-la!"
(Jornal do Brasil, edição de 6 de abril de 1964)

"Congresso concorda em aprovar Ato Institucional" .
(Jornal do Brasil, edição de 9 de abril de 1964)

Pesquisa: Clarissa Pont
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Esta pequena miscelânea de manchetes e reportagens dos primeiros dias do período mais violento e opressivo da história recente brasileira mostra a verdadeira face da grande mídia deste país: mentirosa, elitista, despreocupada com o bem-estar do povo brasileiro e, acima de tudo, autoritária e anti-democrática, que se preocupa mais em acompanhar a enésima edição do BBB que divulgar a volta do infame Fernando Collor de Melo ao poder no senado.

Portanto, tome cuidado ao buscar informação em grandes jornais, revistas e emissoras de televisão do Brasil. A verdade não está no "menu" deles.

"Democracia: não deixem morrer."

LIBERDADE! SEMPRE!

Luiz Gustavo Aversa Franco
Brasília-DF, 5 de abril de 2009

sábado, 21 de março de 2009

Noam Chomsky diz...

Trechos da entrevista de Noam Chomsky à revista Istoé, em sua edição de 4 de março de 2009:

"Istoé: Os Estados Unidos são uma democracia fracassada?
Chomsky: Se você comparar as eleições de 2008 com as de um dos países mais pobres do hemisfério, a Bolívia, o processo é radicalmente diferente. Você pode gostar ao não das políticas do presidente Evo Morales, mas elas vêm da população. Ele foi escolhido por um eleitorado popular que traçou suas próprias políticas. As questões são muito significativas: controle dos recursos naturais, direitos culturais... A população não se envolveu apenas no dia das eleições, essas lutas estão ocorrendo há anos. Isso é uma democracia. Os Estados Unidos são exatamente o oposto. "

"Istoé: Alguns presidentes sul-americanos são chamados de populistas.
Chomsky: Populista quer dizer alguém atento à opinião popular."

"Istoé: O sr. avalia o governo Chávez positivamente?
Chomsky: A pergunta que importa é: o que os venezuelanos pensam do governo?"

"Istoé: E qual o papel do Brasil?
Chomsky: O Brasil tem um papel central na integração regional, pois é o país mais rico e poderoso da região. O presidente Lula tem tomado uma posição muito boa, garantindo que países que os EUA tentam arruinar, principalmente a Bolívia e a Venenzuela, estejam integrados aos sistema. O Brasil também está aumentando as relações com outros países do Sul. Mas a dependência das exportações agrícolas é uma forma questionável de desenvolvimento. Deveria haver tentativas de desenvolvimento que não dependenssem tanto de exportações, como a da soja.

Istoé: Como o sr. vê o ressurgimento de medidas protecionistas nos Estados Unidos e na União Européia?
Chomsky: Antes de falar sobre isso, temos que eliminar uma grande quantidade de mitologia. Os Estados Unidos, o país mais rico do mundo, sempre foram altamente protecionistas. Sua economia avnaçada depende crucialmente do setor estatal. Se você pensa em computadores, internet, tecnologia de informação, laser, tudo isso foi financiado pelo Estado. Você não pode falar em livre mercado porque eles não acreditam nisso.

Istoé: o capitalismo está entrando em colapso?
Chomsky: O único lugar onde o capitalismo existe é nos países do Terceiro Mundo, onde ele é imposto à força."

"Istoé: Vê algo de positivo no papel dos Estados Unidos atualmente?
Chomsky: Sim. Mas não se deve esperar que os países mais poderosos sejam agentes da moralidade. Não faz sentido ficar elogiando esses países pelas coisas decentes que fazem. Os Estados Unidos deveriam, por exemplo, ter um papel fundamental na reconstrução de Gaza depois das terríveis agressões feitas junto com Israel - foi uma ataque conjunto, pois eles estavam usando armas dos EUA, é claro. A estrangulação de Gaza pelos Estados Unidos eIsrael, apoiada pela União Européia, começou imediatamente após as eleições, que foram reconhecidas como livres e justas, mas os Estados Unidos não gostaram do resultado e punem as pessoas. É uma boa indicação da aversão extrema que as elites ocidentais nutrem pela democracia."

"Istoé: O sr. dedicou a vida a pensar as questões mais importantes do mundo. Como se sente hoje?
Chomsky: Há passos em direção a um mundo mais livre, justo e democrático. Isto não cai do céu como um presente, vem da luta popular engajada."

Noam Chomsky, 80 anos, é professor do Instituto de Tecnologia de Massaschusetts (MIT) há mais de 50 anos. Autor de mais de 70 livros e mil artigos, foi considerado o principal acadêmico do planeta pelas revistas Foreign Policy e Prospect e é tido como o intelectual mais importante do mundo pelo jornal The New York Times.

terça-feira, 10 de março de 2009

"Dai pão a quem tem fome"


Na cidade de Joinville (SC), um concurso de redação promovido pela rede munincipal de ensino teve como vencedora uma menina de 14 anos, que, seguindo a oirentação de escrever um texto cujo título fosse "Dai pão a quem tem fome", escreveu sua redação com as palavras de nosso hino nacional, demonstrando verdadeiro sentimento cívico de amor à pátria que é ensinado a tantos, mas assimilado por poucos...

Segue o texto:

"Certa noite,

ao entrar em minha sala de aula,

vi num mapa-mundi, o nosso Brasil chorar:

O que houve, meu Brasil brasileiro?

Perguntei-lhe!

E ele,

espreguiçando-se em seu berço esplêndido,

esparramado e verdejante sobre a América do Sul,

respondeu chorando,

com suas lágrimas amazônicas: Estou sofrendo.

Vejam o que estão fazendo comigo...

Antes,

os meus bosques tinham mais flores

e meus seios mais amores.

Meu povo era heróico e os seus brados retumbantes.

O sol da liberdade era mais fúlgido

e brilhava no céu a todo instante.

Onde anda a liberdade,

onde estão os braços fortes?

Eu era a Pátria amada, idolatrada.

Havia paz no futuro e glórias no passado.

Nenhum filho meu fugia à luta.

Eu era a terra adorada

e dos filhos deste solo era a mãe gentil.

Eu era gigante pela própria natureza,

que hoje devastam e queimam,

sem nenhum homem de coragem que às margens plácidas de algum riachinho,

tenha a coragem de gritar mais alto

para libertar-me desses novos tiranos que ousam roubar o verde louro de minha flâmula.

Eu,

não suportando as chorosas queixas do Brasil,

fui para o jardim.

Era noite e pude ver a imagem do Cruzeiro que resplandece

no lábaro que o nosso país ostenta estrelado.

Pensei...

Conseguiremos salvar esse país sem braços fortes?

Pensei mais...

Quem nos devolverá a grandeza que a Pátria nos traz?

Voltei à sala,

mas encontrei o mapa silencioso e mudo,

como uma criança dormindo em seu berço esplêndido."


quinta-feira, 5 de março de 2009

Projeto de lei anti-migrantes no DF

Em seu planejamento original, a cidade de Brasília deveria ter, no ano 2000, 500 mil habitantes e a partir daí seria construída a primeira cidade satélite próxima à nova capital. A realidade porém foi bem diferente da prática, pois antes mesmo de Brasília ser inaugurada já haviam cidades satélites no DF e hoje o mesmo conta com uma população de aproximadamente 2,5 milhões de habitantes. É óbvio que em uma cidade como esta graves problemas surgem devido à falta de planejamento, entre eles o problema da falta de moradia.

Pessoas de todo o Brasil vêem para Brasília com a esperança de melhorar de vida, e muitas delas acabam morando em invasões e locais inapropriados e ilegais. Com o aumento da migração de brasileiros de outros estados para Brasília, algumas iniciativas (as vezes de caráter duvidoso) têm sido tomadas para "proteger" os cidadãos originários de Brasília. Entre essas iniciativas, está o projeto de lei do Instituto Geração Brasília, cujo objetivo é reservar 50% de todas as moradias do DF para cidadãos nascidos aqui.

Em carta aberta à sociedade, o presidente de tal entidade afirma que seu projeto não é de caráter xenofóbico e busca apenas a defesa dos interesses dos brasilienses e a afirmação do orgulho de suas origens. Primeiramente, se tal projeto de lei tem como objetivo combater a falta de moradia no DF, é claro que a idéia implícita de seus elaboradores é de que a culpa do crescimento desordenado da cidade é do migrante. Quando os problemas de uma determinada região são tidos como causas de migração, então se tem um caso claro de xenofobia.

É verdade que a situação da moradia no DF é crítica, que até mesmo os brasilienses natos têm dificuldades para encontrar moradia hoje. É verdade que a questão da moradia tem sido encarada de forma politiqueira e eleitoreira e que se criou um sistema de legalização de invasões para angariar votos para determinados partidos e políticos. É verdade que criou-se uma visão de Brasília como "eldorado do Brasil" e que muitos vêm para a cidade na esperança de melhorar de vida. Ainda assim, nada disso justifica a segregação proposta pelo projeto de lei em questão.

E quanto ao planejamento completamente desordenado das cidades satélites, que fez com que hoje centenas de pessoas morem em péssimas condições de vida e sem qualquer infra-estrutura em várias partes do DF? E quanto á especulação imobiliária, que aumenta drasticamente os preços tornando Brasília uma das cidades mais caras do país para se alugar e comprar imóveis? E quanto á grilagem de terras públicas perpetuadas muitas vezes pelos próprios políticos, que prejudica bastante a procura legal por moradia? Tudo isso (e muitos outros fatores não citados aqui) são causas deste problema estrutural do DF, então por que não combatê-los?

Como diz o ditado: "a corda sempre arrebenta do lado mais fraco", e o mesmo se aplica a essa situação. Mais uma vez joga-se a culpa em cima de outrem e a sociedade acaba pagando pela má administração governamental e pelas falhas do mercado. Em vez de se combater as verdadeiras causas dos problemas, culpa-se uma das partes envolvidas que possa ser facilmente segregada (nesse caso os migrantes) e atribua e estes a culpa.

Em termos legais este projeto não pode ser aprovado, pois fere um dos direitos máximos da Constituição: o da igualdade de todos perante a lei. Não se pode simplesmente reservar a uma parcela limitada da população um bem que deve ser ofertado de modo igual a todos. Em termos morais, este projeto é contra a própria natureza de Brasília, pois prega a xenofobia e o preconceito em uma cidade que literalmente se fez e se construiu com base em imigrantes, independente de suas origens. Por fim, um projeto como esse em nada contribui para a exaltação do orgulho dos habitantes de Brasília pela sua cidade. Isto se faz pela educação, pela preservação e ensino das tradições e da cultura , não pela segregação dos migrantes em favor dos originários do local. Iniciativas como tal projeto de lei não passam falsa solução do problema, tentando eliminá-lo da maneira mais fácil e ineficaz, além de ser uma medida com completa ausência de ética para com o cidadão, seja ele brasiliense ou não.

-Site oficial do Instituto Geração Brasília (carta aberta á sociedade): http://www.geracaobrasilia.org.br/2009/index.php?p=destaques/carta

Luiz Gustavo Aversa Franco (nascido e criado em Brasília, orgulhoso de sua cidade e sua cultura)
Brasília, DF - 05 de março de 2009

domingo, 1 de março de 2009

Trechos do discurso de Barack Obama ao Congresso dos EUA


Trechos do discurso de Barack Obama em sessão conjunta do Congresso dos EUA:

- "Vivemos em uma era na qual com muita frequência os lucros em curto prazo se sobrepuseram à prosperidade no longo prazo; em que não olhamos além do próximo pagamento, do próximo trimestre, ou da próxima eleição. Um superávit se tornou uma desculpa para transferir riqueza aos ricos em vez de uma oportunidade para investir em nosso futuro".

"As regulações foram esquecidas em favor de uma lucro rápido, às custas de um mercado saudável. As pessoas compraram casas que não podia pagar a bancos e pessoas que fazem empréstimos que, de todas maneiras, promoveram esses créditos. Tudo isso enquanto os debates cruciais e as decisões difíceis se adiavam para o dia seguinte".

- "Bom, chegou o momento de abrir os olhos, o momento de assumir que o destino está em nossas mãos".

- "Este é o momento de atuar de maneira sensata e ousada - não só de reavivar esta economia, mas de dar forma aos novos alicerces de uma prosperidade permanente. Este é o momento de dar um empurrão na criação de empregos, de retomar os créditos e de investir em áreas como energia, atendimento médico e educação, com as quais nossa economia crescerá até quando tenhamos que tomar decisões difíceis para reduzir o déficit. Para isso é que se desenhou minha agenda econômica e isso é do que quero falar esta noite".

- "O plano de recuperação e o plano de estabilidade financeira são as medidas imediatas que estamos tomando para retomar nossa economia no curto prazo. Mas a única forma de restabelecer plenamente o poder econômico dos EUA é fazer investimentos de longo prazo que levem à criação de novos empregos, novas indústrias e uma capacidade renovada para competir com o resto do mundo".

"A única forma para que este século seja outro século dos EUA é enfrentar, finalmente, o preço de nossa dependência do petróleo e o alto custo do atendimento médico, das escolas que não preparam nossas crianças e da montanha de dívida que elas terão que herdar. Esta é nossa responsabilidade".


- "Nos próximos dias, apresentarei um novo orçamento ao Congresso. Com muita frequência chegamos a considerar estes documentos como simples números em uma página ou uma lista de programas. Eu vejo este documento de maneira diferente. Vejo como uma visão para EUA, como um projeto para nosso futuro".

"Meu orçamento não pretende resolver todos os problemas ou atender cada dificuldade. Reflete a dura realidade do que herdamos, US$ 1 trilhão em déficit, uma crise financeira e uma dura recessão".


- "Tendo se dado conta destas realidades, todos neste Congresso -democratas e republicanos- terão que sacrificar algumas de suas valiosas prioridades para as quais não há dólares. E isso me inclui".

"Mas isto não significa que possamos nos dar o luxo de fazer pouco caso dos desafios em longo prazo. Rejeito a ideia que diz que nossos problemas simplesmente se resolverão por si sós; que diz que o Governo não deve intervir em fixar os alicerces de nossa prosperidade".

- "Ontem participei de uma cúpula fiscal onde prometi reduzir pela metade o déficit fiscal até o fim do meu primeiro mandato. Minha administração também começou a analisar ponto a ponto o orçamento federal com o objetivo de eliminar programas caros e ineficientes".

"Como podem, imaginar, este é um processo que levará algum tempo. Mas começaremos com os pontos maiores. Já identificamos US$ 2 trilhões em economias para a próxima década".

- "Neste orçamento, daremos fim aos programas de educação que não tenham dado resultado e aos pagamentos diretos às grandes empresas agrícolas que não precisam deles. Eliminaremos os contratos sem licitação que foram um esbanjamento de bilhões de dólares no Iraque, e reformaremos nosso orçamento de defesa de modo que não paguemos armas da Guerra Fria que não usamos".

"Erradicaremos o esbanjamento, a fraude, assim como o abuso em nosso programa de auxílio médico, que não faz com que nossa gente de idade mais avançada seja mais saudável, e restabeleceremos um sentido de justiça e equilíbrio em nosso código tributário, ao eliminar, finalmente, as isenções fiscais a empresas que exportam nossas fontes de trabalho".

- "Reconheço que não coincidimos até agora em vários temas e seguramente haverá momentos no futuro em que nos distanciaremos. Mas também sei que cada americano que está sentado aqui esta noite ama este país e deseja que ele tenha sucesso".

"Esse deve ser o ponto de partida para cada debate que sustentemos nos próximos meses e ao qual retornemos uma vez que eles se concluam. Este é o alicerce sobre o qual o povo americano espera que construamos um terreno comum".

- "Em minha vida também aprendi que a esperança pode ser encontrada nos lugares mais insólitos; que a inspiração com frequência vem, não dos que têm mais poder ou celebridade, mas dos sonhos e aspirações dos americanos comuns".

- "Penso em Leonard Abess, o presidente de um banco de Miami que recebeu um bônus de US$ 60 milhões e o entregou a 399 pessoas que trabalhavam para ele, além de outras 72 que antes haviam trabalhado para ele. Não disse a ninguém, mas quando um jornal local e o perguntou, simplesmente disse: 'Conhecia a esta gente desde que tinha sete anos. Não achei que fosse correto ficar com o dinheiro'".

- "Penso em Greensburg, no Kansas, um povoado que foi totalmente destruído por um tornado e que está sendo reconstruído por seus moradores como exemplo global da forma como a energia limpa pode dar vigor a toda uma comunidade, de como pode levar trabalho e empresas a um lugar onde só havia montes de tijolos e escombros. 'A tragédia foi terrível', disse um dos homens que lhes ajudou na reconstrução. 'Mas as pessoas daqui sabem que também proporcionou uma oportunidade incrível'".

- "E penso em Ty'Sheoma Bethea, a pequena jovem dessa escola que visitei em Dillon, Carolina do Sul, um lugar onde o teto tem goteira, onde a pintura cai das paredes e onde têm que interromper suas aulas seis vezes ao dia porque o trem passa muito perto de suas salas".

"No outro dia, após a aula, ela foi à biblioteca pública e escreveu a máquina uma carta dirigida aos que estão neste Congresso. Até pediu ao diretor da escola dinheiro para comprar o selo dos correios: 'Somos só estudantes que tentamos chegar a ser advogados, médicos, legisladores como vocês, e algum dia presidentes, para assim levar uma mudança não só ao estado da Carolina do Sul mas também ao mundo. Não nos damos por vencidos'".

Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2009/02/25/ult1808u136080.jhtm