quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Uma posse histórica


"O que é requisitado de nós agora é uma nova era de responsabilidade"
Barack Hussein Obama, 44º presidente dos EUA em seu discurso de posse*

Ontem, dia 20 de janeiro de 2009, uma mudança radical aconteceu na capital dos EUA. Saiu de cena George W. Bush, o típico cowboy texano e um dos mais desastrosos presidentes americanos, para dar lugar à Barack Hussein Obama, filho de imigrante, o mais jovem e o primeiro presidente negro da história americana. A cerimônia de posse levou mais de 2 milhões de pessoas ao national mall em Washington. A multidão representava muito mais que os 80% de aprovação popular que o recém-empossado presidente detém. Representa a esperança de um povo.

Os 8 anos de governo Bush podem ser descritos como uma idade das trevas para os EUA. Nestes 8 anos, Bush assumiu um país com economia em ascensão e com credibilidade externa para devolvê-lo em crise financeira e desacreditado em sua política externa. Elegeu-se pela fraude e pelo medo. Invadiu o Afeganistão para não econtrar e capturar Osama Bin Laden e invadiu o Iraque para não encontrar armas químicas em seu território. Fez vista grossa para as graves violações dos direitos humanos na prisão de Abu Ghraib e desrespeitou determinações da própria ONU. Deixou de lado o diálogo e a negociação para usar a força e a imposição unilateral de interesses. Desrespeitou a própria constituição que jurou defender ao fortalecer o Executivo e aprovar medidas como o patriot act. Deixou a economia americana em ruínas e sua imagem no exterior (ainda mais) degradada. Este foi o governo Bush, uma verdadeira catástrofe.

Em seu discurso de posse, Barack Obama chama seus concidadãos a enfrentarem desafios reais, dentro e fora do páis. Relembra a história americana, combinando tradição e inovação em sua cerimônia de posse. Estabelece como metas a recuperação econômica, o fim da guerra do Iraque, a melhoria dos sistemas de saúde e educação do país, a renovação de sua infraestrutura e a retomada de sua credibilidade internacional pela negociação e pelo diálogo. Porém, o maior feito de Obama em sua posse não estava em suas palavras. A visão de milhões de americanos lotando a capital e gritando em coro o nome de seu presidente, além do silêncio durante o discurso demonstra o primeiro grande feito de Obama: a restauração da esperança do povo americano.

Obama fez milhões de jovens americanos irem às urnas para votar em um país onde o voto não é obrigatório. Fez os EUA registrarem recordes de participação eleitoral. Fez milhões de pessoas enfrentarem o frio de mais de zero grau do inverno apenas para vê-lo e ouvi-lo. Fez as ruas mais movimentadas do país se calarem para ouvir suas palavras. E o mais importante: fez americanos (e cidadão de todo o mundo) acreditarem em um futuro melhor.

A posse de Obama é uma revolução em si, pois há menos de 60 anos, negros e brancos não podiam dividir os mesmos espaços nos EUA. A segregação e o racismo não estavam apenas nos costumes, mas institucionalizadas nas próprias leis. Os negros lutaram por seus direitos e os conquistaram. Hoje, o posto mais alto da política norte-americana é ocupado por um negro, filho de um imigrante. Tamanha mudança demonstra a capacidade de realização de um povo em uma democracia, comparável apenas à eleição de Nelson Mandela após décadas de apartheid na África do Sul.

Na opinião de muitos americanos, a eleição de Obama representa a concretização final do sonho de Martin Luther King. Será que Obama conseguirá vencer os desafios a sua frente e recuperar o seu país de crises e guerras? Ainda é cedo para dizer. O que se pode dizer é que ele tem a fé do povo americano ao seu lado para fazê-lo.

Uma coisa é certa: o dia 20 de janeiro de 2009 entrou para a história. Foi o dia em que muitas pessoas viram um sonho realizado, suas esperanças renovadas, sua fé restaurada e um país inteiro mobilizado diante da simples figura de um homem.

Boa sorte Obama!

Luiz Gustavo Aversa Franco
Brasília, DF, 21 de janeiro de 2009

*leia o discurso de posse na íntegra em: http://espacolivreguga.blogspot.com/2009/01/discurso-de-posse-de-barack-obama.html

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Discurso de posse de Barack Obama

"Meus colegas cidadãos: estou aqui hoje humilhado pela tarefa à nossa frente, grato pela confiança que vocês outorgaram, atento aos sacrifícios suportados pelos nossos ancestrais.

Eu agradeço o presidente Bush pelo seu serviço à nossa nação, assim como à generosidade e a cooperação que ele mostrou durante esta transição.

Quarenta e quatro americanos já fizeram este juramento presidencial. As palavras foram pronunciadas durante ondas crescentes de prosperidade e águas calmas de paz. Ainda assim, frequentemente o juramento é feito em meio à nuvens carregadas e tempestades furiosas. Nestes momentos, a América persistiu não simplesmente devido à habilidade ou visão daqueles em altos cargos, mas porque nós, o povo, permanecemos fiéis aos ideais de nossos antepassados, e verdadeiros aos nossos documentos fundadores.

Assim tem sido. Então assim deve ser com esta geração de americanos.

Que nós estamos em meio a uma crise é agora bem compreendido. Nossa nação está em guerra contra uma rede de violência e ódio de longo alcance. Nossa economia está bastante enfraquecida, consequencia da cobiça e da irresponsabilidade por parte de alguns, mas também da nossa falha coletiva em fazer escolhas difíceis e em preparar a nação para uma nova era. Lares têm sido perdidos, empregos fechados, negócios acabados. Nosso sistema de saúde tem um custo muito alto, nossas escolas reprovam demais, e cada dia traz mais evidências que o modo como usamos a energia fortalecem nossos adversários e ameaçam nosso planeta. Estes são os indicadores da crise, sujeito à dados e à estatísticas. Menos mensurável, porém não menos profundo, é uma perda de confiança em nossa terra; um medo lancinante de que o declínio americano é inevitável, de que a próxima geração deva reduzir suas metas.

Hoje eu digo a vocês que os desafios que enfrentamos são reais, são sérios e são muitos. Eles não serão enfrentados facilmente ou em curto prazo de tempo. Mas saiba disso América: eles serão enfrentados.

Neste dia nos reunimos porque escolhemos a esperança sobre o medo, a unidade de propósito sobre o conflito e a discórdia. Neste dia nós proclamamos um fim a ressentimentos mesquinhos e falsas promessas, à recriminações e dogmas que por muito tempo têm estrangulado nossa política.

Nós permanecemos uma nação jovem, mas nas palavras da Escritura, chegou a hora de deixar de lado as coisas infantis. Chegou a hora de reafirmar nosso espírito duradouro, de escolher nossa melhor história, de levar adiante aquele dom precioso, aquela idéia nobre, passada de geração em geração: a promessa dada por Deus de que todos são iguais, todos são livres, e todos merecem a chance de buscar sua própria parcela de felicidade.

Ao reafirmar a grandeza de nossa nação, entendemos que a grandeza nunca é dada. Deve ser conquistada. Nossa jornada nunca foi uma de atalhos ou menosprezos. Não tem sido o caminho para os medrosos, para aqueles que preferem o lazer ao trabalho, ou buscam apenas os prazeres da riqueza e da fama. Em vez disso, têm sido aqueles que correm riscos, aqueles que fazem, aqueles que fazem as coisas (alguns celebrados, mas mais frequentemente homens e mulheres obscuros em seu trabalho) que têm nos carregado no longo, acidentado caminho em direção à prosperidade e à liberdade.

Por nós, eles carregaram suas poucas posses mundanas e viajaram pelos oceanos em busca de uma nova vida. Por nós, eles trabalharam duro e fundaram o Oeste, suportaram o açoite do chicote e araram a terra dura. Por nós, eles lutaram e morreram em lugares como Concord e Gettysburg, Normandia e Khe Sahn. Mais uma vez esses homens e mulheres resistiram e se sacrificaram e trabalharam duro até suas mãos ficarem cruas para que nós pudéssemos ter uma vida melhor. Eles viram a América como maior que a soma de suas ambições individuais, maior que todas as diferenças de nascimento ou riqueza ou facção.

Esta é a jornada que continuamos hoje. Permanecemos a mais próspera, poderosa nação na Terra. Nossos trabalhadores não são menos produtivos que quando esta crise começou. Nossas mentes não são menos inventivas, nossos bens e serviços não menos necessários do que eram na última semana ou no último mês ou no último ano. Nossa capacidade permanece sem ser diminuída. Mas nosso tempo de permanentes tapinhas, de proteção de interesses restritos e adoção de medidas desagradáveis - esse tempo certamente passou.


Começando hoje, nós precisamos nos erguer, nos limparmos, e começar novamente o trabalho de refazer a América.

Pra onde nós olhemos há trabalho a ser feito. O estado de nossa economia pede por ação: ousada e rápida. E nós vamos agir não apenas para criar novos empregos, mas para estabelecer uma nova fundação para o crescimento.

Vamos construir as estradas e pontes, as redes elétricas e linhas digitais que alimentam nosso comércio e nos unem.Vamos recolocar a ciência em seu lugar de direito e usar as maravilhas da tecnologia para aumentar a qualidade de nosso sistema de saúde e baixar seus custos. Vamos explorar a energia do Sol e dos ventos e do solo para abastecer nossos carros e fazer funcionar nossas fábricas. E vamos transformar nossas escolas e faculdades e universidades para atender as demandas da nova era.

Tudo isso nós podemos. Tudo isso nós faremos.

Agora há alguns que questionam a escala de nossas ambições, que sugerem que nosso sistema não consegue tolerar muitos grandes planos. Suas memórias são curtas, pois eles esqueceram o que este país já fez, o que homens e mulheres livres podem alcançar quando a imaginação se junta ao propósito comum e a necessidade da coragem. O que os cínicos falham em entender é que o terreno sob eles mudou, que os velhos argumentos políticos que nos consumiram por muito tempo não mais se aplicam.

A pergunta que fazemos hoje não é se nosso governo é grande demais ou pequeno demais, mas se ele funciona, se ele ajuda famílias a encontrarem empregos com salários decentes, se importa que eles possam sustentar uma aposentadoria digna.

Onde a resposta for sim, nos pretendemos prosseguir. Onde a resposta for não, os programas acabarão.

E aqueles entre nós que controlam o conhecimento público serão convocados a serem responsáveis, a gastar sabiamente, a reformar maus hábitos e fazer negócios na luz do dia, porque somente assim podemos recuperar a confiança vital entre o povo e seu governo.

Nem é a pergunta perante nós se o mercado é uma força para o bem ou para o mal. Seu poder de gerar riqueza e expandir a liberdade é sem precedentes. Mas esta crise nos lembrou que sem um olho vigilante, o mercado pode sair de controle. A nação não pode prosperar por muito tempo quando favorece apenas os prósperos. O sucesso de nossa economia sempre tem dependido não apenas no tamanho de nosso produto interno bruto, mas no alcance de nossa prosperidade, na habilidade de estender oportunidade a todo coração desejoso (não por caridade, mas porque é a rota mais certa para o bem comum).

Quanto à nossa defesa comum, rejeitamos a falsa escolha entre nossa segurança e nossos ideais.
Nossos pais fundadores enfrentaram perigos que mal podemos imaginar, escreveram uma carta para assegurar o estado de direito e os direitos do homem, uma carta expandida pelo sangue de gerações.

Esses ideais ainda iluminam o mundo, e nós não os abandonaremos pelo bem da oportunidade.

E assim, a todos os outros povos e governos que estão nos assistindo hoje, das maiores capitais à pequena aldeia onde meu pai nasceu: saibam que a América é amiga de cada nação e cada homem, mulher e criança que busque um futuro de paz e dignidade, e que estamos prontos pra liderar novamente.

Relembre que gerações anteriores enfrentaram fascismo e comunismo não apenas com mísseis e tanques, mas com alianças vigorosas e convicções duradouras. Eles entenderam que nosso poder sozinho não pode nos proteger, nem nos autoriza a fazer o que queremos. Ao contrário, eles sabiam que nosso poder cresce pelo seu uso prudente. Nossa segurança emana da justiça de nossa causa, da força de nosso exemplo, das temperadas qualidades de humildade e retenção.

Nós somos os detentores deste legado, guiados por esses princípios mais uma vez, nós podemos encarar essas novas ameaças e demandar um esforço ainda maior, ainda maior cooperação e entendimento entre as nações. Vamos começar a responsavelmente deixar o Iraque a seu próprio povo e forjar uma laboriosa paz no Afeganistão. Com novos amigos e antigos adversários, vamos trabalhar incansavelmente para diminuir a ameaça nuclear e retroceder o espectro de um planeta em aquecimento.

Não vamos nos desculpar por nosso modo de vida nem vamos acenar em sua defesa.

E para aqueles que buscam avançar suas metas pela indução do terror e a matança de inocentes, nos lhes dizemos agora que, nosso espírito é mais forte e não pode ser quebrado. Vocês não podem nos subjugar, e nós os derrotaremos.

Pois sabemos que nossa herança múltipla é uma força, não uma fraqueza. Somos uma nação de cristãos e muçulmanos, judeus e hindus, e descrentes. Somos moldados por cada língua e cultura, vindos de cada canto desta Terra.

E porque nós provamos sua amarga enxurrada de guerra civil e segregação e emergimos daquele capítulo sombrio mais fortes e mais unidos, nós não podemos deixar de acreditar que os velhos ódios um dia morrerão, que as linhas das tribos devem em breve se dissolver, que à medida que o mundo fica menor, nossa humanidade comum se revelará, e que a América deve desempenhar seu papel em assegurar uma nova era de paz.

Ao mundo muçulmano nós buscamos um novo progresso, baseado no mútuo interesse e no mútuo respeito.

Àqueles líderes ao redor do globo que buscam solucionar seus conflitos ou culpar o Ocidente pelos males de suas sociedeades, saibam que seu povo julgará você pelo que você construir, não pelo que destruir. Àqueles que se agarram ao poder pela corrupção e enganação e pelo silêncio da discordância, saibam que vocês estão do lado errado da história, mas nós estenderemos a mão se vocês estiverem dispostos a abrir o seu punho. Ao povo das nações pobres, nós empenhamos em trabalhar ao seu lado para fazer fazendas florescerem e deixar águas limpas correrem, para nutrir corpos famintos e alimentar mentes com fome. E àquelas nações como a nossa que desfrutam de relativa fartura, nós dizemos que não podemos mais tolerar indiferença para o sofrimento fora de nossas fronteiras, nem podemos consumir os recursos do mundo sem preocupação com os efeitos. Pois o mundo mudou, e nós precisamos mudar com ele.

Ao considerarmos a estrada que se desdobra perante nós, nos lembramos com humilde gratidão daqueles bravos americanos que, neste exato momento, patrulham desertos longínquos e montanhas distantes. Eles têm algo a nos dizer, assim como os heróis caídos em Arlington sussurram pelas eras. Nós os honramos não somente por serem guardiões da nossa liberdade, mas porque eles incorporam o espírito do serviço: uma vontade de encontrar significado em alguma coisa maior que eles mesmos.

Ainda assim, neste momento, um momento que definirá uma geração, é precisamente este espírito que deve nos habitar a todos. Pois por mais que o governo possa fazer e deva fazer, é em última instância na fé na determinação do povo americano em que esta nação depende. É a gentileza de receber um estranho quando o teto cai, o altruísmo de trabalhadores que prefeririam diminuir suas horas a ver um amigo perder o emprego que nos sustenta nesta hora mais sombria. É a coragem de um bombeiro que sobe uma escada coberta de fumaça, mas também a vontade de um pai em nutrir o seu filho que finalmente decide nosso destino.

Nossos desafios podem ser novos, os instrumentos com os quais os enfrentamos podem ser novos, mas esses valores dos quais nosso sucesso depende, honestidade e trabalho duro, coragem e jogo limpo, tolerância e curiosidade, lealdade e patriotismo - essas coisas são antigas. Essas coisas são verdadeiras. Elas têm sido a força quieta do progresso durante nossa história.

O que é demandado então é um retorno a essas verdades. O que é requisitado de nós agora é uma nova era de responsabilidade - o reconhecimento, da parte de cada americano, de que temos deveres para com nós mesmos, nossa nação e o mundo, deveres que não aceitamos de má vontade, mas sim agarramos com prazer, firmes no conhecimento de que não há nada mais prazeroso ao espírito, tão definidor de nosso caráter que dar tudo de nós em uma tarefa difícil.

Este é o preço e a promessa da cidadania. Esta é a fonte de nossa confiança: o conhecimento de que Deus chama todos nós para moldar um destino incerto. Este é o significado de nossa liberdade e nosso credo, porque homens, mulheres e crianças de cada raça e cada fé podem se juntar em celebração nesse magnífico mall. E porque um homem cujo pai há menos de 60 anos atrás talvez não fosse servido em um restaurante local pode agora estar aqui diante de vocês para fazer o juramento mais sagrado.

Então deixemo-nos marcar este dia em memória de quem somos e quão longe viajamos.

No ano do nascimento da América, no mais frio dos meses, um pequeno bando de patriotas se amontoou em nove fogueiras na orla de um rio gelado. A capital estava abandonada. O inimigo estava avançando. A neve estava manchada com sangue. No momento em que o resultado de nossa revolução era mais duvidoso, o pai de nossa nação ordenou que estas palavras fossem lidas ao povo:

'Que seja dito ao mundo futuro que na profundeza do inverno, quando nada além de esperança e virtude poderiam sobreviver, que a cidade e o país, alarmados com um perigo comum, avançaram para enfrentá-lo.'

América, em face de nossos perigos comuns, neste inverno de nossa dificuldade, lembremo-nos destas palavras atemporais; com esperança e virtude, desbravemos mais uma vez as correntes geladas, e resistamos às tempestades que possam vir; que seja dito pelos filhos de nossos filhos que quando fomos testados nos recusamos a deixar que esta jornada acabasse, que nós não demos as costas nem vacilamos; e que de olhos fixos no horizonte e com a graça de Deus sobre nós, nós levamos adiante este grande dom de liberdade e o entregamos em segurança para as gerações futuras.

Obrigado. Deus os abençoe.

E Deus abençoe os Estados Unidos da América"

Discursso de posse de Barack Hussein Obama, 44º presidente dos EUA, Washington DC, 20 de janeiro de 2009

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O ultimo "erro grave" de Israel



Três semanas já se passaram desde que Israel iniciou um ofensiva militar contra o Hamas na Faixa de Gaza. Nesta última quinta-feira, dia 15 de janeiro, o ministro da defesa de Israel, Ehud Barak, pediu desculpas ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, pelo "erro grave" cometido pelas forças de Israel. O tal "erro" de Israel foi ter atingido duas vezes as instalações da UNRWA (missão de assistência da ONU para os refugiados palestinos), onde se encontram mais de 700 refugiados, e ferindo três funcionários da ONU.

Trata-se de uma atitude estúpida, que demonstra o completo desrespeito do Estado de Israel para com as normas e organismos internacionais. Como se já não bastasse o fato das forças israelenses impedirem a movimentação dos veículos que transportam material e pessoal de ajuda humanitária pela Faixa de Gaza, agora atacam as instalações da própria ONU, ameaçando a vida de refugiados e funcionários internacionais inocentes.

Infelizmente, é quase certo que nada aconteça ao governo de Israel pelo seu trágico "erro". Não se deve esperar nenhuma sanção ou condenação internacional ao Estado de Israel. O mesmo não aconteceria caso tal erro tivesse sido cometido por qualquer outro país da região ou por uma entidade como o Hamas (que, ideologias à parte, até agora não atingiu ninguém além de seus próprios inimigos). Se fosse esse o caso, o governo (ou organização) responsável por tal ato receberia pesadas punições como sanções internacionais por parte da ONU e das principais potências, podendo até mesmo ser retaliado militarmente. Mas, como o responsável é Israel, nada disso irá acontecer. Tudo graças à proteção dos EUA.

Enquanto contar com o aval dos EUA para bombardear a esmo, atingindo civis inocentes e prejudicando o trabalho das missões humanitárias, violando várias normas internacionais, o governo de Israel não tomará precaução alguma com a sua "mira", e qualquer um que for pego no fogo cruzado será tratado apenas como "dano colateral". Enquanto esta inércia internacional em relação ao completo descuido das forças de Israel permanecer, nem mesmo a própria ONU estará segura na Faixa de Gaza (imagine então os civis palestinos).

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Exército e a Cabeça do Cachorro na Amazônia ( Dr. Drauzio Varella )


O Exército e a Cabeça do Cachorro na Amazônia (Dr Drauzio Varella)
"Senhor, tu que ordenastes ao guerreiro de Selva, sobrepujai todos os vossos oponentes, dai-nos hoje da floresta, a sobriedade para resistir, a paciência para emboscar, a perseverança para sobreviver, a astúcia para dissimular, a fé para resistir e vencer, e daí-nos
também senhor, a esperança e a certeza do retorno, mas , se, defendendo essa brasileira Amazônia, tivermos que perecer, oh Deus, que façamos com dignidade e mereçamos a vitória, Selva!!!"

A FORÇA DOS MILITARES NA AMAZÔNIA
Uma visão isenta da ação dos militares na Amazônia.
DRAUZIO VARELLA

Militares na Cabeça do Cachorro
Perfilados, os soldados aguardaram em posição e sentido, sob o sol do meio-dia. Eram homens de estatura mediana, pele bronzeada, olhos amendoados, maçãs do rosto salientes e cabelo espetado. O observador desavisado que lhes analisasse os traços julgaria estar na Ásia.

No microfone, a palavra de ordem do capitão:
'Soldado Souza, etnia tucano'.

Um rapaz da primeira fila deu um passo adiante, resoluto, com o fuzil no ombro, e iniciou a oração do guerreiro da selva, no idioma natal. No fim, o grito de guerra dos pelotões da fronteira:
"SELVA !!!"

O segundo a repetir o texto foi um soldado da etnia desana, seguido de um baniua, um curipaco, um cubeu, um ianomâmi, um tariano e um hupda.

Todos repetiram o ritual do passo à frente e da oração nas línguas de seus povos; em comum, apenas o grito final:
"SELVA !!!"

Depois, o pelotão inteiro cantou o hino nacional em português, a plenos pulmões.

Ouvir aquela diversidade de indígenas, característica das 22 etnias que habitam o extremo noroeste da Amazônia brasileira há 2.000 anos, cantando nosso hino no meio da floresta, trouxe à flor da pele sentimentos de brasilidade que eu julgava esquecidos.

Para chegar à Cabeça do Cachorro é preciso ir a Manaus, viajar 1.146 quilômetros Rio Negro acima, até avistar São Gabriel da Cachoeira, a maior cidade indígena do país.

De lá, até as fronteiras com a Colômbia e a Venezuela, pelos rios Uaupés, Tiquié, Içana, Cauaburi e uma infinidade de rios menores, só Deus sabe. A duração da viagem depende das chuvas, das corredeiras e da época do ano, porque na bacia do Rio Negro o nível
das águas pode subir mais de dez metros entre a vazante e o pico da cheia.

É um Brasil perdido no meio das florestas mais preservadas da Amazônia. Não fosse a presença militar, seria uma região entregue à própria sorte. Ou, pior, à sorte alheia.

O comando dos Pelotões de Fronteira está sediado em São Gabriel. De lá partem as provisões e o apoio logístico para as unidades construídas à beira dos principais rios fronteiriços:
Pari-Cachoeira, Iauaretê, Querari, Tunuí-Cachoeira, São Joaquim, Maturacá e Cucuí.

Anteriormente formado por militares de outros Estados, os pelotões hoje recrutam soldados nas comunidades das redondezas. Essa opção foi feita
por razões profissionais:
'O soldado do Sul pode ser mais preparado intelectualmente, mas na selva ninguém se iguala ao indígena'.

Na entrada dos quartéis, uma placa dá idéia do esforço para construí-los naquele ermo:
'Da primeira tábua ao último prego, todo material empregado nessas instalações foi transportado nas asas da FAB'.

Os pelotões atraíram as populações indígenas de cada rio à beira do qual foram instalados: por causa da escola para as crianças e porque em suas imediações circula o bem mais raro da região-salário.

Para os militares e suas famílias, os indígenas conseguem vender algum artesanato, trocar farinha e frutas por gêneros de primeira necessidade, produtos de higiene e peças de vestuário. No quartel existe possibilidade de acesso à assistência médica, ao dentista, à internet e aos aviões da FAB, em caso de acidente ou doença grave.

Cada pelotão é chefiado por um tenente com menos de 30 anos, obrigado a exercer o papel de comandante militar, prefeito, juiz de paz, delegado, gestor de assistência médico-odontoló gica, administrador
do programa de inclusão digital e o que mais for necessário assumir nas comunidades das imediações, esquecidas pelas autoridades federais, estaduais e municipais.

Tais serviços, de responsabilidade de ministérios e secretarias locais, são prestados pelas Forças Armadas sem qualquer dotação orçamentária suplementar.

Os quartéis são de um despojamento espartano. As dificuldades de abastecimento, os atrasos dos vôos causados por adversidades climáticas e avarias técnicas e o orçamento minguado das Forças
Armadas tornam o dia-a-dia dos que vivem em pleno isolamento um ato de resistência permanente.

Esses militares anônimos, mal pagos, são os únicos responsáveis pela defesa dos limites de uma região conturbada pela proximidade das Farc e pelas rotas do narcotráfico. Não estivessem lá, quem estaria?

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O holocausto da Faixa de Gaza



Apesar dos desejos de paz sempre presentes nas comemorações de ano novo, o ano de 2009 começa de uma maneira totalmente oposta. Todos os dias, noticiários, jornais e revistas mostram passo a passo o andamento da covarde ofensiva militar israelense sobre os territórios da Faixa de Gaza. O que se vê não é a história de uma guerra, mas sim de um massacre, um verdadeiro holocausto.

De um lado, as forças armadas de Israel, as mais bem treinadas do mundo, usam todos os seus esforços, que vão desde pelotões de infantaria até armamentos de alta tecnologia, como caças de última geração armados com armas inteligentes de alta precisão para atacar seus alvos em toda a Faixa de Gaza. Do outro, militantes do grupo fundamentalista Hamas, que se camuflam em meio à população civil, usam foguetes toscos sem qualquer sistema de mira e com curtíssimo alcance para provocar Israel. Nesse quadro extremamente desigual estabeleceu-se a imagem do primeiro conflito sangrento deste ano (que mal começou): um gigante militar usando toda a sua força contra um grupo de insurgentes sem se preocupar com o "dano colateral" (os inúmeros inocentes mortos no fogo cruzado).

A reação de Israel aos ataques do Hamas, efetuados por meio de foguetes fabricados em fundo de quintal que avançam apenas alguns quilômetros da fronteira, pode ser considerada, no mínimo, estúpida. Diferentemente das demais guerras vencidas por Israel em sua breve história, seus inimigos atuais não marcham fardados e uniformizados, não estão alojados em quartéis e (mais importante) não se diferenciam da população civil. A justificativa do governo israelense de "acabar de uma vez com o Hamas" não condiz com suas táticas e estratégias de combate.

Assim como os EUA no Vietnã nos anos 60 e 70, Israel não conseguirá vencer seus inimigos por meio da força bruta. Os intensos bombardeios israelenses à Faixa de Gaza só fazem matar homens, mulheres e crianças inocentes. Os verdadeiros inimigos de Israel estão bem protegidos de todo o seu aparato tecnólgico e conseguem manter sua luta usando uma ferramenta que os israelenses parecem ignorar: a inteligência.

O resultado está à mostra: enquanto os mortos em Israel mal alcançam as dezenas, as vítimas palestinas já estão próximas dos milhares (quase todos civis inocentes). O que está havendo em Gaza não é um combate ao terrorismo, mas um holocausto, quase igual ao perpetuado pela Alemanha nazista contra os judeus na Segunda Guerra. Tudo isso pode ser descrito em uma palavra: covardia. Os israelitas dizem viver sob o pânico das sirenes de ataque na fronteira e que suas crianças não podem ir à escola. Do outro lado da fronteira, o único alarme que os palestinos têm é o barulho dos jatos israelenses e o assobio das bombas caindo sobre suas cabeças (e lá as crianças mal têm escolas para frequentar).

As esperanças para a paz são poucas. Embora o Estado de Israel já esteja sendo acusado de crimes de guerra é quase certo que não haverá qualquer tipo de repreensão, já que Israel conta com a proteção internacional de seu poderoso "padrinho", os EUA. Muitos são os países que tentam persuadir o Estado de Israel e o Hamas a aceitarem uma trégua, mas nada terá sucesso a menos que alguém fale mais alto que Israel em sua própria língua, ou seja, a força bruta, ou que o governo de Israel pare para pensar antes de agir. É muito fácil mostrar ao mundo um determinado grupo como terrorista e ignorar o fato de que o mesmo grupo também fornece escolas às crianças de um lugar em que falta até água para beber. É muito fácil usar a força bruta contra civis inocentes que não conseguem se defender. É muito fácil violar tratados e acrodos internacionais quando se sabe que alguém extremamente poderoso vai defendê-lo nos fóruns internacionais e na ONU.

Enquanto Israel não se der conta de que é inútil usar a força para combater inimigos que usam a inteligência e enquanto qualquer pressão internacional para o fim do conflito esbarrar nos interesses norte-americanos, a paz continuará sendo apenas uma distante esperança de ano novo na Faixa de Gaza.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Juiz de Haia defende punição para tortura

Professor da UnB, Cançado Trindade diz que tortura é crime contra a vida, portanto imprescritível

Regina Bandeira
Da Secretaria de Comunicação da UnB

Prestes a se mudar para a Holanda, onde a partir de fevereiro assumirá assento na Corte Internacional de Justiça, a chamada Corte de Haia, o ex-presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos e professor de Direito Internacional da UnB, Antônio Augusto Cançado Trindade, de 61 anos, defendeu a criação de uma espécide de tribunal da verdade para o julgamento dos crimes ocorridos no governo militar.

"Já expus minha opinião sobre isso: não há anistia para tortura.; a auto-anistia não pode abarcar um crime contra a humanidade", afirmou Cançado Trindade, durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, nesta quinta-feira, 18, sobre o recente debate travado entre o Ministério da Justiça e da Defesa em relação a aplicação da Lei da Anistia. "Não entendo esse imbróglio; para mim, a questão é cristalina", complementa.

Em visita de cortesia ao reitor da UnB, José Geraldo de Souza, nesta sexta, 19, o jurista avaliou as chances do Brasil conquistar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. “Temos toda a chance de ocuparmos a vaga latino-americana, atualmente ocupada pelo Panamá”, afirmou Cançado Trindade.

Eleito com um número expressivo de votos – 163 dos 192 países-membros da Assembléia Geral da ONU, o jurista brasileiro também recebeu 14 dos 15 votos do Conselho de Segurança da ONU, dos quais apenas os Estados Unidos se abstiveram.

Para José Geraldo, especialista em Direitos Humanos, a presença de Cançado Trindade na corte internacional fortalece a candidatura brasileira, além de ser um orgulho para a universidade. “Ela marca a densidade do pensamento jurídico brasileiro na Assembléia das Nações Unidas”, afirmou.

Durante encontro com o reitor, o jurista reiterou que pretende continuar defendendo os direitos humanos em Haia e criticou as novas regras impostas por países do hemisfério norte criminalizando a migração não documentada. “Os mesmos países que se beneficiaram das fronteiras abertas estão, agora, violando princípios dos direitos humanos”, disse.

O jurista também defendeu maior diálogo da Justiça com outras áreas do conhecimento. “Nunca me contentei apenas com documentos”, disse o juiz, ao defender a participação de peritos, psicólogos, sociólogos, antropólogos e das próprias vítimas nos julgamentos. “São informações fundamentais para avaliarmos o dano moral de pessoas em casos como os massacres ocorridos recentemente em alguns países latino-americanos”, argumentou o jurista.

Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos por duas vezes, Cançado Trindade revelou que sua gestão sempre foi voltada para o fortalecimento da participação de acusados e vitimados no tribunal. Nesse sentido, o juiz reformou o regulamento da Corte em 2000, permitindo o acesso direto dos indivíduos à corte e a participação dos envolvidos em todas as etapas do procedimento até o julgamento.

“Até então, as pessoas tinham de se apresentar através de um órgão distinto, a Comissão Interamericana, sediada em Washington, que fazia a triagem das denúncias, dos argumentos e das provas”, explica Cançado Trindade.

JUSTIÇA - Devotado aos direitos humanos, o jurista revelou o sentimento de satisfação e enriquecimento encontrado nos tribunais internacionais. “A defesa dos direitos humanos me permitiu entender que nossos protegidos são nossos protetores – eles nos ajudam a dar sentido à própria existência”, concluiu.

-Antônio Augusto Cançado Trindade foi eleito juiz da Corte Internacional de Justiça no dia 6 de novembro de 2008. Ph.D. (Cambridge) em Direito Internacional; Juiz e Ex-Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos; Professor Titular da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco; Ex-Consultor Jurídico do Ministério das Relações Exteriores do Brasil; Membro Titular do Institut de Droit International e do Curatorium da Academia de Direito Internacional da Haia; Membro das Academias Mineira e Brasileira de Letras Jurídicas. O jurista tomará posse no dia 6 de fevereiro em Haia, na Holanda, mas o primeiro julgamento do ano está marcado para um mês depois.
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Fonte: http://www.secom.unb.br/unbagencia/unbagencia.php?id=1044

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Os 40 anos do AI-5


"Aquele que não conhece a história está fadado a repetir os erros do passado."

Na noite do dia 13 de dezembro de 1968, o governo militar do presidente Costa e Silva editou o ato institucional número 5, que entrou para a história da infâmia da ditadura militar no Brasil como o AI-5. Naquele dia, os militares davam a última facada (de baioneta) na já moribunda democracia brasileira. Os poucos direitos e liberdades civis que ainda restavam ao povo brasileiro foram por fim suspensos, dando início aos anos de ferro da ditadura militar, que agora assumia sua verdadeira face totalitária.

Ao mesmo tempo em que se comemoram os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e os 20 anos da nossa Constituição Federal, completam-se também os 40 anos desse, que pode ser considerado o maior ato de terrorismo de Estado da história brasileira. Hoje, mais de vinte anos após o fim do regime militar, ainda não se sabe ao certo o número de vítimas do regime. Até hoje, militares queimam arquivos e escondem os vestígios de seus crimes. Sinal claro de que as contas com a sociedade até hoje não foram acertadas.

Os dados oficiais constam que milhares foram presos e torturados e centenas foram mortos pelos mais de vinte anos de ditadura. Não se tratam apenas de "perigosos terroristas subversivos" ou de "comunistas que comiam criancinhas", mas sim de pais, filhos, irmãos e amigos que tiveram seus direitos violados, muitos deles deixando este mundo sem ao menos um enterro digno. É óbvio que nem todos os contabilizados eram 100% inocentes, mas isto não justifica o tremendo abuso de poder da época. Se o verdadeiro objetivo do AI-5 era combater a guerrilha armada do país, pode-se dizer que seus perpetuadores foram, no mínimo, bastante ineficientes. Basta lembrar de algumas vítimas do regime que nunca fizeram mais do que protestar de forma pacífica contra a ditadura. É o caso de Honestino Guimarães, líder estudantil que foi preso durante invasão à UnB e desapareceu sem deixar rastros, e de Vladmir Herzog, jornalista morto por militares quando ia a uma delegacia simplesmente para prestar um depoimento.

Nada justifica a violência dos militares e sua expressão máxima, o AI-5. A justificativa daqueles que o editaram, de que era necessário "mandar a consciência às favas" e utilizar todos os meios necessários para combater a guerrilha que (no seu discurso) ameaçava instaurar uma ditadura comunista no Brasil não passa de mero discurso reticente para se perpetuar no poder. E o velho discurso da Guerra Fria, do "mundo dividido em dois hemisférios"? Pura ignorância (ou imagem de ignorância) política! Esta história que os radicais da ditadura tentam vender desde a edição do infame AI-5, de que o Brasil estava numa guerra e que era necessário empregar meios de guerra para combater os "perigosos terroristas e comunistas" não passa de uma falácia, de uma propaganda enganosa! Somente os tolos e os alienados acreditaram (e ainda hoje acreditam) que algumas centenas de guerrilheiros sem nenhum tipo de treinamento militar e reclusos no meio da Floresta Amazônica tinham alguma capacidade de tomar o poder. O verdadeiro motivo de tamanho abuso de poder como o AI-5 era a percepção do povo brasileiro de que a ditadura não era a salvação da democracia e sim sua lenta execução. O fato da sociedade não mais apoiar o governo militar e exigir liberdade e democracia fez os militares da linha-dura retirarem sua máscara de salvadores da pátria e mostrar suas verdadeiras faces de totalitários inescrupulosos e sedentos de poder. Se houve realmente terroristas no Brasil nos anos 60, estes eram os altos membros do governo militar, que com seu golpe de mestre pomposamente chamado de "ato institucional", instauraram no Brasil um Estado Terrorista, que nada mais sabe fazer além de usar a violência e o terror para atingir seus objetivos.

Quando a sociedade exigiu um acerto de contas com o governo, a solução dada foi completamente "à brasileira". Uma anistia, tanto a torturados quando a torturadores, que simplesmente livrou a cara dos carrascos e de seus comandantes que até hoje estão com as mãos sujas de sangue dos inocentes desaparecidos e mortos em nome da segurança nacional (mais uma piada sem graça do governo da época). A verdade é que, para muitos brasileiros, não há anistia até que seja feita justiça. Para muitos, a decisão dos governantes de 68 deixou cicatrizes expostas até hoje, para as quais simplesmente não foi dada explicação.

Que possamos nos lembrar de nossos erros para não cometê-los novamente.