Em 1979 foi lançado o álbum The Wall, um dos maiores e mais famosos álbuns não só do Pink Floyd, mas também da história do Rock N' Roll e da própria música. À época, a obra, grandiosa e profunda como uma ópera, imensamente inspirada pela genialidade e pela própria história de vida de Roger Waters (baixista, vocalista e letrista do Pink Floyd) soava como um misto de grito de protesto e de catarse dos traumas de seu compositor. Mais de trinta anos se passaram, milhões de cópias de The Wall (e de outros discos do Pink Floyd) foram vendidas, o álbum virou filme, Roger Waters saiu da banda (que acabou tendo seu fim anos mais tarde), o muro de Berlim caiu e o mundo mudou. Mas muitas coisas continuaram as mesmas...
Roger Waters, Pink Floyd, The Wall... tudo isto tem um grande significado para mim, pois foi aí que começou minha paixão pelo Rock há muitos anos atrás quando ainda se comprava CDs para ouvir música e o download era uma novidade. O Pink Floyd foi a primeira banda que eu realmente escutei e amei e The Wall foi um dos primeiros discos que eu idolatrei. Sendo assim, minha breve jornada à distante Porto Alegre no último domingo somente para assistir ao show The Wall Live foi uma espécie de odisséia pessoal e, logo após a saída do estádio Beira Rio, a sensação era algo muito próximo à de se encontrar com a mulher dos seus sonhos...
Não vou descrever aqui todos os pormenores do grandioso espetáculo. Deixo isso aos veículos de comunicação (afinal de contas, isso é o trabalho deles!). Em vez disso, tentarei retratar o impacto que o show teve para mim. Em primeiro lugar, não se trata apenas de um show de Rock, The Wall não é chamado de ópera-rock à toa. A combinação de música, letras, além da própria mensagem por trás da obra têm o mesmo peso dos maiores filmes já produzidos. Perto do que se fez com esta última representação do álbum, mesmo o filme (produzido por Alan Parker nos anos 80) é pouco. É como escutar o seu álbum favorito, só que ao vivo, em um estádio de futebol quase lotado, com representações visuais mais ricas que a maior exposição de arte que eu já tenha visto e som quadrifônico! Enfim, é extremamente difícil descrever tudo isso, só vendo pra saber...
Roger Waters destrói muro e homenageia Jean Charles em frente a 48 mil pessoas (reportagem de Zero Hora): http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2012/03/roger-waters-destroi-muro-e-homenageia-jean-charles-em-frente-a-48-mil-pessoas-3706554.html
Roger Waters traz a turnê de "The Wall" para Brasil nesse domingo (notícia no site daKiss FM): http://www.kissfm.com.br/portal/noticias/roger-waters-traz-a-turne-de-the-wall-para-brasil-nesse-domingo
Além da dimensão artística do show, me impressionou profundamente a fidelidade do mesmo com o álbum de 79. Está tudo lá: o professor FDP de The Happiest Days of Our Lives e Another Brick In The Wall, a mãe opressora de Mother, o trauma da perda do pai morto na guerra, a luxúria de Young Lust, a solidão isolada de Hey You, a megalomania fascista de In The Flesh? e tudo mais. Algumas partes são simplesmente icônicas, começando pelo próprio palco: um enorme muro que se completa ao longo do show e é derrubado ao final, a caricatura do supracitado professor FDP, o espírito contestatório e rebelde que se materializa na forma de fotos de mortos de guerra (civis e militares), frases de impacto - a melhor delas na minha opinião proferida durante a música Mother, quando após o trecho "mother should I trust the government?" aparece a resposta curta e grossa em forma de pichação: NEM FUDENDO (em português!) - e citações de personalidades proeminentes.
Visão geral do palco |
O icônico professor de Another Brick In The Wall |
Aliás, é aí que está o grande trunfo desta última turnê de The Wall. O próprio nome do álbum é uma meia alusão ao famigerado Muro de Berlim, e muitas das coisas "ditas" por Waters nas músicas se referem à fotos da época e ao clima da Guerra Fria. Entretanto, o show de domingo foi tudo menos um retrato histórico deste período. Muito pelo contrário, Waters mostrou o quanto sua mensagem continua atual. Todos os elementos caracterizados nas músicas (a grandiosidade e o peso opressor das ideologias, a terrível aberração da guerra, a complexa dramaticidade da vida cotidiana) estão lá, retratados da forma mais atual possível.
O Muro de Berlim pode ter caído, mas vários outros muros estão aí, separando famílias, isolando povos e oprimindo seres humanos em todo o mundo. Alguns são feitos de argamassa e tijolos, outros, entretanto, adquirem outras formas, difíceis de se ver. Alguns são praticamente imperceptíveis e outros são tão íntimos e particulares quanto a personalidade de cada um. Alguns destes muros são, às vezes, construídos por nós mesmos. E a mensagem de Roger Waters, ainda que repleta de misteriosas e psicodélicas simbologias características do Pink Floyd e do Rock dos anos 1970, é bem clara: derrubem o muro!
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