sábado, 21 de março de 2009

Noam Chomsky diz...

Trechos da entrevista de Noam Chomsky à revista Istoé, em sua edição de 4 de março de 2009:

"Istoé: Os Estados Unidos são uma democracia fracassada?
Chomsky: Se você comparar as eleições de 2008 com as de um dos países mais pobres do hemisfério, a Bolívia, o processo é radicalmente diferente. Você pode gostar ao não das políticas do presidente Evo Morales, mas elas vêm da população. Ele foi escolhido por um eleitorado popular que traçou suas próprias políticas. As questões são muito significativas: controle dos recursos naturais, direitos culturais... A população não se envolveu apenas no dia das eleições, essas lutas estão ocorrendo há anos. Isso é uma democracia. Os Estados Unidos são exatamente o oposto. "

"Istoé: Alguns presidentes sul-americanos são chamados de populistas.
Chomsky: Populista quer dizer alguém atento à opinião popular."

"Istoé: O sr. avalia o governo Chávez positivamente?
Chomsky: A pergunta que importa é: o que os venezuelanos pensam do governo?"

"Istoé: E qual o papel do Brasil?
Chomsky: O Brasil tem um papel central na integração regional, pois é o país mais rico e poderoso da região. O presidente Lula tem tomado uma posição muito boa, garantindo que países que os EUA tentam arruinar, principalmente a Bolívia e a Venenzuela, estejam integrados aos sistema. O Brasil também está aumentando as relações com outros países do Sul. Mas a dependência das exportações agrícolas é uma forma questionável de desenvolvimento. Deveria haver tentativas de desenvolvimento que não dependenssem tanto de exportações, como a da soja.

Istoé: Como o sr. vê o ressurgimento de medidas protecionistas nos Estados Unidos e na União Européia?
Chomsky: Antes de falar sobre isso, temos que eliminar uma grande quantidade de mitologia. Os Estados Unidos, o país mais rico do mundo, sempre foram altamente protecionistas. Sua economia avnaçada depende crucialmente do setor estatal. Se você pensa em computadores, internet, tecnologia de informação, laser, tudo isso foi financiado pelo Estado. Você não pode falar em livre mercado porque eles não acreditam nisso.

Istoé: o capitalismo está entrando em colapso?
Chomsky: O único lugar onde o capitalismo existe é nos países do Terceiro Mundo, onde ele é imposto à força."

"Istoé: Vê algo de positivo no papel dos Estados Unidos atualmente?
Chomsky: Sim. Mas não se deve esperar que os países mais poderosos sejam agentes da moralidade. Não faz sentido ficar elogiando esses países pelas coisas decentes que fazem. Os Estados Unidos deveriam, por exemplo, ter um papel fundamental na reconstrução de Gaza depois das terríveis agressões feitas junto com Israel - foi uma ataque conjunto, pois eles estavam usando armas dos EUA, é claro. A estrangulação de Gaza pelos Estados Unidos eIsrael, apoiada pela União Européia, começou imediatamente após as eleições, que foram reconhecidas como livres e justas, mas os Estados Unidos não gostaram do resultado e punem as pessoas. É uma boa indicação da aversão extrema que as elites ocidentais nutrem pela democracia."

"Istoé: O sr. dedicou a vida a pensar as questões mais importantes do mundo. Como se sente hoje?
Chomsky: Há passos em direção a um mundo mais livre, justo e democrático. Isto não cai do céu como um presente, vem da luta popular engajada."

Noam Chomsky, 80 anos, é professor do Instituto de Tecnologia de Massaschusetts (MIT) há mais de 50 anos. Autor de mais de 70 livros e mil artigos, foi considerado o principal acadêmico do planeta pelas revistas Foreign Policy e Prospect e é tido como o intelectual mais importante do mundo pelo jornal The New York Times.

terça-feira, 10 de março de 2009

"Dai pão a quem tem fome"


Na cidade de Joinville (SC), um concurso de redação promovido pela rede munincipal de ensino teve como vencedora uma menina de 14 anos, que, seguindo a oirentação de escrever um texto cujo título fosse "Dai pão a quem tem fome", escreveu sua redação com as palavras de nosso hino nacional, demonstrando verdadeiro sentimento cívico de amor à pátria que é ensinado a tantos, mas assimilado por poucos...

Segue o texto:

"Certa noite,

ao entrar em minha sala de aula,

vi num mapa-mundi, o nosso Brasil chorar:

O que houve, meu Brasil brasileiro?

Perguntei-lhe!

E ele,

espreguiçando-se em seu berço esplêndido,

esparramado e verdejante sobre a América do Sul,

respondeu chorando,

com suas lágrimas amazônicas: Estou sofrendo.

Vejam o que estão fazendo comigo...

Antes,

os meus bosques tinham mais flores

e meus seios mais amores.

Meu povo era heróico e os seus brados retumbantes.

O sol da liberdade era mais fúlgido

e brilhava no céu a todo instante.

Onde anda a liberdade,

onde estão os braços fortes?

Eu era a Pátria amada, idolatrada.

Havia paz no futuro e glórias no passado.

Nenhum filho meu fugia à luta.

Eu era a terra adorada

e dos filhos deste solo era a mãe gentil.

Eu era gigante pela própria natureza,

que hoje devastam e queimam,

sem nenhum homem de coragem que às margens plácidas de algum riachinho,

tenha a coragem de gritar mais alto

para libertar-me desses novos tiranos que ousam roubar o verde louro de minha flâmula.

Eu,

não suportando as chorosas queixas do Brasil,

fui para o jardim.

Era noite e pude ver a imagem do Cruzeiro que resplandece

no lábaro que o nosso país ostenta estrelado.

Pensei...

Conseguiremos salvar esse país sem braços fortes?

Pensei mais...

Quem nos devolverá a grandeza que a Pátria nos traz?

Voltei à sala,

mas encontrei o mapa silencioso e mudo,

como uma criança dormindo em seu berço esplêndido."


quinta-feira, 5 de março de 2009

Projeto de lei anti-migrantes no DF

Em seu planejamento original, a cidade de Brasília deveria ter, no ano 2000, 500 mil habitantes e a partir daí seria construída a primeira cidade satélite próxima à nova capital. A realidade porém foi bem diferente da prática, pois antes mesmo de Brasília ser inaugurada já haviam cidades satélites no DF e hoje o mesmo conta com uma população de aproximadamente 2,5 milhões de habitantes. É óbvio que em uma cidade como esta graves problemas surgem devido à falta de planejamento, entre eles o problema da falta de moradia.

Pessoas de todo o Brasil vêem para Brasília com a esperança de melhorar de vida, e muitas delas acabam morando em invasões e locais inapropriados e ilegais. Com o aumento da migração de brasileiros de outros estados para Brasília, algumas iniciativas (as vezes de caráter duvidoso) têm sido tomadas para "proteger" os cidadãos originários de Brasília. Entre essas iniciativas, está o projeto de lei do Instituto Geração Brasília, cujo objetivo é reservar 50% de todas as moradias do DF para cidadãos nascidos aqui.

Em carta aberta à sociedade, o presidente de tal entidade afirma que seu projeto não é de caráter xenofóbico e busca apenas a defesa dos interesses dos brasilienses e a afirmação do orgulho de suas origens. Primeiramente, se tal projeto de lei tem como objetivo combater a falta de moradia no DF, é claro que a idéia implícita de seus elaboradores é de que a culpa do crescimento desordenado da cidade é do migrante. Quando os problemas de uma determinada região são tidos como causas de migração, então se tem um caso claro de xenofobia.

É verdade que a situação da moradia no DF é crítica, que até mesmo os brasilienses natos têm dificuldades para encontrar moradia hoje. É verdade que a questão da moradia tem sido encarada de forma politiqueira e eleitoreira e que se criou um sistema de legalização de invasões para angariar votos para determinados partidos e políticos. É verdade que criou-se uma visão de Brasília como "eldorado do Brasil" e que muitos vêm para a cidade na esperança de melhorar de vida. Ainda assim, nada disso justifica a segregação proposta pelo projeto de lei em questão.

E quanto ao planejamento completamente desordenado das cidades satélites, que fez com que hoje centenas de pessoas morem em péssimas condições de vida e sem qualquer infra-estrutura em várias partes do DF? E quanto á especulação imobiliária, que aumenta drasticamente os preços tornando Brasília uma das cidades mais caras do país para se alugar e comprar imóveis? E quanto á grilagem de terras públicas perpetuadas muitas vezes pelos próprios políticos, que prejudica bastante a procura legal por moradia? Tudo isso (e muitos outros fatores não citados aqui) são causas deste problema estrutural do DF, então por que não combatê-los?

Como diz o ditado: "a corda sempre arrebenta do lado mais fraco", e o mesmo se aplica a essa situação. Mais uma vez joga-se a culpa em cima de outrem e a sociedade acaba pagando pela má administração governamental e pelas falhas do mercado. Em vez de se combater as verdadeiras causas dos problemas, culpa-se uma das partes envolvidas que possa ser facilmente segregada (nesse caso os migrantes) e atribua e estes a culpa.

Em termos legais este projeto não pode ser aprovado, pois fere um dos direitos máximos da Constituição: o da igualdade de todos perante a lei. Não se pode simplesmente reservar a uma parcela limitada da população um bem que deve ser ofertado de modo igual a todos. Em termos morais, este projeto é contra a própria natureza de Brasília, pois prega a xenofobia e o preconceito em uma cidade que literalmente se fez e se construiu com base em imigrantes, independente de suas origens. Por fim, um projeto como esse em nada contribui para a exaltação do orgulho dos habitantes de Brasília pela sua cidade. Isto se faz pela educação, pela preservação e ensino das tradições e da cultura , não pela segregação dos migrantes em favor dos originários do local. Iniciativas como tal projeto de lei não passam falsa solução do problema, tentando eliminá-lo da maneira mais fácil e ineficaz, além de ser uma medida com completa ausência de ética para com o cidadão, seja ele brasiliense ou não.

-Site oficial do Instituto Geração Brasília (carta aberta á sociedade): http://www.geracaobrasilia.org.br/2009/index.php?p=destaques/carta

Luiz Gustavo Aversa Franco (nascido e criado em Brasília, orgulhoso de sua cidade e sua cultura)
Brasília, DF - 05 de março de 2009

domingo, 1 de março de 2009

Trechos do discurso de Barack Obama ao Congresso dos EUA


Trechos do discurso de Barack Obama em sessão conjunta do Congresso dos EUA:

- "Vivemos em uma era na qual com muita frequência os lucros em curto prazo se sobrepuseram à prosperidade no longo prazo; em que não olhamos além do próximo pagamento, do próximo trimestre, ou da próxima eleição. Um superávit se tornou uma desculpa para transferir riqueza aos ricos em vez de uma oportunidade para investir em nosso futuro".

"As regulações foram esquecidas em favor de uma lucro rápido, às custas de um mercado saudável. As pessoas compraram casas que não podia pagar a bancos e pessoas que fazem empréstimos que, de todas maneiras, promoveram esses créditos. Tudo isso enquanto os debates cruciais e as decisões difíceis se adiavam para o dia seguinte".

- "Bom, chegou o momento de abrir os olhos, o momento de assumir que o destino está em nossas mãos".

- "Este é o momento de atuar de maneira sensata e ousada - não só de reavivar esta economia, mas de dar forma aos novos alicerces de uma prosperidade permanente. Este é o momento de dar um empurrão na criação de empregos, de retomar os créditos e de investir em áreas como energia, atendimento médico e educação, com as quais nossa economia crescerá até quando tenhamos que tomar decisões difíceis para reduzir o déficit. Para isso é que se desenhou minha agenda econômica e isso é do que quero falar esta noite".

- "O plano de recuperação e o plano de estabilidade financeira são as medidas imediatas que estamos tomando para retomar nossa economia no curto prazo. Mas a única forma de restabelecer plenamente o poder econômico dos EUA é fazer investimentos de longo prazo que levem à criação de novos empregos, novas indústrias e uma capacidade renovada para competir com o resto do mundo".

"A única forma para que este século seja outro século dos EUA é enfrentar, finalmente, o preço de nossa dependência do petróleo e o alto custo do atendimento médico, das escolas que não preparam nossas crianças e da montanha de dívida que elas terão que herdar. Esta é nossa responsabilidade".


- "Nos próximos dias, apresentarei um novo orçamento ao Congresso. Com muita frequência chegamos a considerar estes documentos como simples números em uma página ou uma lista de programas. Eu vejo este documento de maneira diferente. Vejo como uma visão para EUA, como um projeto para nosso futuro".

"Meu orçamento não pretende resolver todos os problemas ou atender cada dificuldade. Reflete a dura realidade do que herdamos, US$ 1 trilhão em déficit, uma crise financeira e uma dura recessão".


- "Tendo se dado conta destas realidades, todos neste Congresso -democratas e republicanos- terão que sacrificar algumas de suas valiosas prioridades para as quais não há dólares. E isso me inclui".

"Mas isto não significa que possamos nos dar o luxo de fazer pouco caso dos desafios em longo prazo. Rejeito a ideia que diz que nossos problemas simplesmente se resolverão por si sós; que diz que o Governo não deve intervir em fixar os alicerces de nossa prosperidade".

- "Ontem participei de uma cúpula fiscal onde prometi reduzir pela metade o déficit fiscal até o fim do meu primeiro mandato. Minha administração também começou a analisar ponto a ponto o orçamento federal com o objetivo de eliminar programas caros e ineficientes".

"Como podem, imaginar, este é um processo que levará algum tempo. Mas começaremos com os pontos maiores. Já identificamos US$ 2 trilhões em economias para a próxima década".

- "Neste orçamento, daremos fim aos programas de educação que não tenham dado resultado e aos pagamentos diretos às grandes empresas agrícolas que não precisam deles. Eliminaremos os contratos sem licitação que foram um esbanjamento de bilhões de dólares no Iraque, e reformaremos nosso orçamento de defesa de modo que não paguemos armas da Guerra Fria que não usamos".

"Erradicaremos o esbanjamento, a fraude, assim como o abuso em nosso programa de auxílio médico, que não faz com que nossa gente de idade mais avançada seja mais saudável, e restabeleceremos um sentido de justiça e equilíbrio em nosso código tributário, ao eliminar, finalmente, as isenções fiscais a empresas que exportam nossas fontes de trabalho".

- "Reconheço que não coincidimos até agora em vários temas e seguramente haverá momentos no futuro em que nos distanciaremos. Mas também sei que cada americano que está sentado aqui esta noite ama este país e deseja que ele tenha sucesso".

"Esse deve ser o ponto de partida para cada debate que sustentemos nos próximos meses e ao qual retornemos uma vez que eles se concluam. Este é o alicerce sobre o qual o povo americano espera que construamos um terreno comum".

- "Em minha vida também aprendi que a esperança pode ser encontrada nos lugares mais insólitos; que a inspiração com frequência vem, não dos que têm mais poder ou celebridade, mas dos sonhos e aspirações dos americanos comuns".

- "Penso em Leonard Abess, o presidente de um banco de Miami que recebeu um bônus de US$ 60 milhões e o entregou a 399 pessoas que trabalhavam para ele, além de outras 72 que antes haviam trabalhado para ele. Não disse a ninguém, mas quando um jornal local e o perguntou, simplesmente disse: 'Conhecia a esta gente desde que tinha sete anos. Não achei que fosse correto ficar com o dinheiro'".

- "Penso em Greensburg, no Kansas, um povoado que foi totalmente destruído por um tornado e que está sendo reconstruído por seus moradores como exemplo global da forma como a energia limpa pode dar vigor a toda uma comunidade, de como pode levar trabalho e empresas a um lugar onde só havia montes de tijolos e escombros. 'A tragédia foi terrível', disse um dos homens que lhes ajudou na reconstrução. 'Mas as pessoas daqui sabem que também proporcionou uma oportunidade incrível'".

- "E penso em Ty'Sheoma Bethea, a pequena jovem dessa escola que visitei em Dillon, Carolina do Sul, um lugar onde o teto tem goteira, onde a pintura cai das paredes e onde têm que interromper suas aulas seis vezes ao dia porque o trem passa muito perto de suas salas".

"No outro dia, após a aula, ela foi à biblioteca pública e escreveu a máquina uma carta dirigida aos que estão neste Congresso. Até pediu ao diretor da escola dinheiro para comprar o selo dos correios: 'Somos só estudantes que tentamos chegar a ser advogados, médicos, legisladores como vocês, e algum dia presidentes, para assim levar uma mudança não só ao estado da Carolina do Sul mas também ao mundo. Não nos damos por vencidos'".

Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2009/02/25/ult1808u136080.jhtm