Dedico este texto a todos os soldados e civis brasileiros e de todo o mundo que estavam no Haiti, cumprindo seu dever, enquanto ninguém dava o devido reconhecimento...
Antes do fim da primeira quinzena de 2010, uma trágica notícia já tomou conta dos noticiários em todo o mundo: a catástrofe do terremoto do Haiti. De repente, o mundo parou para assistir a catástrofe que assolou o pequeno e (até antes do ocorrido) esquecido país caribenho e o sofrimento de seus cidadãos. Aparentemente a causa dos milhões de haitianos desabrigados, famintos e abandonados tornou-se a causa de toda a humanidade, inclusive dos grandes "líderes" mundiais.
Infelizmente, como o Haiti hoje, grandes catástrofes humanas somem dos noticiários com a mesma rapidez que aparecem. Assim foram os grandes genocídios na África dos anos 1990 e 2000, a grande tsunami que assolou o Sudeste Asiático e a Oceania há alguns anos, apenas para citar alguns casos ilustrativos. Assim como estes casos passados, o Haiti será mais uma vez esquecido, tanto pelos políticos como pelas pessoas comuns, assim que as câmeras de TV se desligarem e os repórteres saírem.
O Haiti já era um desastre muito antes do terremoto. Um Estado muito fraco (ou "falido", como gostam de dizer os intelectuais ocidentais), onde já era antes necessária a presença da ONU para estabilizar e manter a ordem no país na forma da Missão de Estabilização da Organização das Nações Unidas para o Haiti (MINUSTAH). Considerado o país mais pobre de todo o continente americano, o Haiti já tinha infra-estrutura (tanto econômica, quanto política e social) bastante frágil antes dos eventos da semana passada.
Sem dúvida é comovente ver o ímpeto humanitário advindo de todos os cantos do globo em assistência ao Haiti. Vários países até então totalmente ausentes do Haiti já disponibilizaram grandes quantias em dinheiro, soldados, navios, equipamento militar, médicos, doações e tudo o mais que for útil na reconstrução. Celebridades já estão se organizando, promovendo grandes eventos a fim de arrecadar fundos. Porém, fica a pergunta: até quando?
Será que a preocupação das grandes potências, das celebridades e de todos que se apresentam como bons samaritanos agora continuará voltada a este pequeno país do caribe quando a poeira já tiver baixado? Muito provavelmente (e tristemente) não.
Com o tempo os norte-americanos voltarão suas atenções para as eleições parlamentares, para a Guerra Contra o Terror e para outros lugares onde seus verdadeiros interesses estejam, e assim farão os europeus, os chineses e todos os outros. Em aproximadamente seis meses, o Brasil e o mundo estarão eufóricos com mais uma Copa do Mundo, e as câmeras se voltarão para a África do Sul, sem se preocupar com a situação do Haiti. A triste realidade que a história nos ensina é que, com o tempo, tudo volta ao padrão (seja ele qual for).
Muito provavelmente, passada a "febre" do Haiti, as únicas autoridades que discutirão ainda o assunto serão os chefes de Estado dos países componentes da MINUSTAH (em que se destaca o Brasil) e, muito provavelmente, estarão ansiosos para o fim de seu mandado para que seus soldados possam retornar para a casa. Quase certamente, o Haiti será tema da agenda apenas destes 19 países cujos soldados usam os capacetes azuis da Missão e da ONU.
Espero estar enganado, mas provavelmente o Haiti será reconstruído, e não verdadeiramente construído. A grande maioria dos governos que se fazem presentes no Haiti (incluindo o nosso, que até então estava ansioso para retirar seus soldados do país e já anunciou a disposição em dobrar o seu contingente lá presente) não está preocupada em tornar este país estável, com um Estado presente e onde seus cidadãos desfrutem de um mínimo de bem estar. Apenas estão buscando a glória e o prestígio de saírem desta cena como heróis.
Esta glória, entretanto, não há de ser destes oportunistas. Os verdadeiros heróis desta história já não estão mais entre nós para contar a sua história. Foram vitimados pelo evento que proporcionou todo o "espetáculo", cumprindo seu dever quando a grande mídia internacional estava ocupada com outros assuntos. Os verdadeiros heróis literalmente deram sua vida pelo Haiti! Morreram soterrados muito longe de suas casas e de suas famílias quando quase ninguém se importava com o que se passava naquela ilha.
Resta saber se seus nomes serão realmente lembrados, ou se cairão no esquecimento, junto com a situação do pequeno país caribenho, quando a câmera parar de gravar...
Luiz Gustavo Aversa Franco
Brasília, DF - 19 de Janeiro de 2010
Antes do fim da primeira quinzena de 2010, uma trágica notícia já tomou conta dos noticiários em todo o mundo: a catástrofe do terremoto do Haiti. De repente, o mundo parou para assistir a catástrofe que assolou o pequeno e (até antes do ocorrido) esquecido país caribenho e o sofrimento de seus cidadãos. Aparentemente a causa dos milhões de haitianos desabrigados, famintos e abandonados tornou-se a causa de toda a humanidade, inclusive dos grandes "líderes" mundiais.
Infelizmente, como o Haiti hoje, grandes catástrofes humanas somem dos noticiários com a mesma rapidez que aparecem. Assim foram os grandes genocídios na África dos anos 1990 e 2000, a grande tsunami que assolou o Sudeste Asiático e a Oceania há alguns anos, apenas para citar alguns casos ilustrativos. Assim como estes casos passados, o Haiti será mais uma vez esquecido, tanto pelos políticos como pelas pessoas comuns, assim que as câmeras de TV se desligarem e os repórteres saírem.
O Haiti já era um desastre muito antes do terremoto. Um Estado muito fraco (ou "falido", como gostam de dizer os intelectuais ocidentais), onde já era antes necessária a presença da ONU para estabilizar e manter a ordem no país na forma da Missão de Estabilização da Organização das Nações Unidas para o Haiti (MINUSTAH). Considerado o país mais pobre de todo o continente americano, o Haiti já tinha infra-estrutura (tanto econômica, quanto política e social) bastante frágil antes dos eventos da semana passada.
Sem dúvida é comovente ver o ímpeto humanitário advindo de todos os cantos do globo em assistência ao Haiti. Vários países até então totalmente ausentes do Haiti já disponibilizaram grandes quantias em dinheiro, soldados, navios, equipamento militar, médicos, doações e tudo o mais que for útil na reconstrução. Celebridades já estão se organizando, promovendo grandes eventos a fim de arrecadar fundos. Porém, fica a pergunta: até quando?
Será que a preocupação das grandes potências, das celebridades e de todos que se apresentam como bons samaritanos agora continuará voltada a este pequeno país do caribe quando a poeira já tiver baixado? Muito provavelmente (e tristemente) não.
Com o tempo os norte-americanos voltarão suas atenções para as eleições parlamentares, para a Guerra Contra o Terror e para outros lugares onde seus verdadeiros interesses estejam, e assim farão os europeus, os chineses e todos os outros. Em aproximadamente seis meses, o Brasil e o mundo estarão eufóricos com mais uma Copa do Mundo, e as câmeras se voltarão para a África do Sul, sem se preocupar com a situação do Haiti. A triste realidade que a história nos ensina é que, com o tempo, tudo volta ao padrão (seja ele qual for).
Muito provavelmente, passada a "febre" do Haiti, as únicas autoridades que discutirão ainda o assunto serão os chefes de Estado dos países componentes da MINUSTAH (em que se destaca o Brasil) e, muito provavelmente, estarão ansiosos para o fim de seu mandado para que seus soldados possam retornar para a casa. Quase certamente, o Haiti será tema da agenda apenas destes 19 países cujos soldados usam os capacetes azuis da Missão e da ONU.
Espero estar enganado, mas provavelmente o Haiti será reconstruído, e não verdadeiramente construído. A grande maioria dos governos que se fazem presentes no Haiti (incluindo o nosso, que até então estava ansioso para retirar seus soldados do país e já anunciou a disposição em dobrar o seu contingente lá presente) não está preocupada em tornar este país estável, com um Estado presente e onde seus cidadãos desfrutem de um mínimo de bem estar. Apenas estão buscando a glória e o prestígio de saírem desta cena como heróis.
Esta glória, entretanto, não há de ser destes oportunistas. Os verdadeiros heróis desta história já não estão mais entre nós para contar a sua história. Foram vitimados pelo evento que proporcionou todo o "espetáculo", cumprindo seu dever quando a grande mídia internacional estava ocupada com outros assuntos. Os verdadeiros heróis literalmente deram sua vida pelo Haiti! Morreram soterrados muito longe de suas casas e de suas famílias quando quase ninguém se importava com o que se passava naquela ilha.
Resta saber se seus nomes serão realmente lembrados, ou se cairão no esquecimento, junto com a situação do pequeno país caribenho, quando a câmera parar de gravar...
Luiz Gustavo Aversa Franco
Brasília, DF - 19 de Janeiro de 2010
Um comentário:
Parabéns Lui Gustavo, pela clareza do texto e os questionamentos sobre a consistencia da ajuda "humanitária" ao Haiti.
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