"Tudo que devemos decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado."
(J.R.R. Tolkien)
A meia noite de ontem para hoje foi, de certa forma, especial, até mesmo para uma noite de revellion. O fim de 2009 e o início de 2010 marcam não apenas a virada do ano, mas o começo de uma nova década. Acabou a primeira década do século XXI. Antes de fazer desejos e planos, é necessário olhar para o passado, refletir sobre o que se passou nos últimos 10 anos e ponderar o que será desta nova década e do resto deste século.
Os anos 2000 foram especialmente marcantes para mim. Foi a década em que cresci, me conheci como pessoa. Comecei esta década como apenas uma criança, hoje sou adulto (embora ainda muito jovem). Nestes 10 anos que passaram aprendi, aos poucos, a ver o mundo como realmente é. E o que aos poucos eu via não era nada agradável. Nestes 10 anos vi muita tristeza, desilusão e decepção à minha volta.
Se os anos 1990 foram a década da promessa, os 2000 foram sem dúvida a década da decepção! Nesta década recém acabada vi muitas grandes mudanças, mas grandes (e tristes) permanências também.
A tecnologia (talvez o verdadeiro Deus que governe nosso pequeno canto do Universo) tem moldado nossas vidas e nós mesmos. Cada vez mais, cada vez mais rápido. Os enormes avanços tecnológicos nas mais diversas áreas (tanto as já existentes como as novas) mudaram consideravelmente nosso mundo. Tecnologias antes embrionárias e luxuosas tornaram-se necessidades básicas do dia-a-dia como nossas necessidades biológicas mais básicas. Coisas como internet, computadores portáteis, telefones celulares, apenas para citar os mais importantes passaram a ser tão importantes como nossas casas. Simplesmente não se imagina mais o mundo sem tais aparatos. Tudo isto têm tornado a vida mais cômoda, mais fácil, mais prática. Este talvez seja um dos maiores legados desta década.
Porém, este enorme ganho em progresso vem acompanhado de um custo exorbitantemente alto...
Se antes tínhamos dúvida, hoje temos certeza: estamos cada vez mais destruindo nosso planeta, nossa própria casa! Acredite, não estou aqui para fazer mais um discurso batido simplesmente a respeito do aquecimento global. Alguns duvidam de sua existência, assim como outros duvidam da existência do Holocausto. Enfim, de uma forma ou de outra, não é preciso grande genialidade para perceber os danos que nosso tão cultuado progresso tem trazido para este mundo. Basta atentar-se para o fato de que a maior conferência multilateral da década, a maior reunião de líderes mundiais dos anos 2000, foi estruturada em torno deste tema. A famosa (e infame!) COP-15, que deveria ter sido símbolo de avanço mostrou-se como expressão perfeita da palavra "fracasso". Os chamados "líderes" mundiais mostraram que não estão prontos para cooperar uns com os outros, que ainda estão muito ocupados com seus próprios umbigos e que sua visão ainda está bastante embasada pelo véu das fronteiras nacionais. Infelizmente, a degradação ambiental não conhece fronteiras, limites orçamentários ou empecilhos políticos. Assim é a natureza, infinitamente generosa e implacável.
Aliás, a fracassada Conferência em Copenhague no fim da década mostrou mais um dos grandes fracassos desta década: a diplomacia! Se o século XX como um todo foi um século nascido das chamas do combate a que viveu nas sombras da guerra, a primeira década do século XXI não se mostra nem um pouco diferente. As grandes tragédias desta década são exemplo claro de que, na maior parte do tempo, o ser humano de hoje conhece apenas a linguagem da força. Perguntem às vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001, das invasões do Iraque e do Afeganistão, do eterno conflito Árabe - Israelense e das vítimas de repressão em todos os cantos do mundo. Infelizmente, não é a diplomacia ou o comércio que marcam o relacionamento entre os povos, mas sim a guerra! O grande palco das relações internacionais não é a ONU, mas sim o "bom e velho" campo de batalha!
Triste conclusão, porém verdadeira! Embora coisas como o Nazismo, a União Soviética e a Guerra Fria não passem de história, muito do que tais coisas representaram continuam presentes: violência, opressão, medo, destruição.
Com ou sem tecnologia, continuamos hoje o que éramos a dez, cem ou mil anos atrás: apenas frágeis seres humanos. Ainda morremos de fome, de doenças diversas, de efeitos diversos da guerra e ainda vivemos com medo. Por mais grandiosas que sejam, as maravilhas da tecnologia ainda não nos tornaram melhores que nossos antepassados, não nos trouxeram paz, saúde , sucesso e felicidade (os sempre presentes desejos de ano novo, onde quer que ele seja comemorado).
Por que então comemorar o início de uma década que carrega os mesmos males do passado? Porque, apesar de todo este mal, ainda somos seres humanos. Junto com o medo, carregamos também de nossos antepassados a esperança de um futuro melhor. O que fazer de nosso futuro então?
Somos únicos em nossa existência, e cada um de nós vê uma luz diferente no fim do túnel (mesmo que esta seja precedida por um tiroteio). Porém, todos vêem e buscam a luz! Basta-nos apenas a coragem de fazer o que é preciso para alcançá-la. Independentemente de nossos objetivos e preferências pessoais na vida, deveríamos todos fazer o mesmo voto de ano novo a cada revellion (e a cada novo dia): ser uma pessoa melhor!
Que 2010 seja um ano melhor que 2009, e que possamos ser melhores neste ano e nesta década do que fomos nos passados...
Luiz Gustavo Aversa Franco
Brasília -DF
01 de janeiro de 2010
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