terça-feira, 4 de outubro de 2011

Humor politicamente correto: o caso Rafinha Bastos

"No Brasil implica-se demais com o politicamente incorreto, quando se deveria preocupar com a falta de correção dos políticos"

"No Brasil políticos não são afastados. Humoristas são."
 Marcos Piangers

Verdade seja dita: é extremamente difícil achar um bom programa de humor hoje em dia! Nos meios de comunicação convencionais (rádio e TV) então nem se fala! As vezes me parece que isto se deve por falta de talento dos humoristas de hoje em dia, mas também vejo outro motivo que tem pouco haver com quem produz o humor e sim com quem o consome. Ou melhor, com quem o vigia. Sim, porque hoje preocupa-se mais com que os programas de humor dizem no rádio ou na TV do que com o que os políticos fazem no Congresso Nacional. 

É o tal do humor "politicamente correto", a maior viadagem chatisse dos últimos tempos. Hoje em dia não se pode mais fazer piada com nada. Tudo é racismo, machismo, sexismo, preconceito (de A a Z), bullying, que seja. Pra todo tipo de piada que se faz hoje em dia existe uma nomenclatura para desclassificá-la como "politicamente incorreta". E essa vigilância politicamente correta tornou o humor de hoje em dia mais insoso e sem gosto que cerveja sem álcool! 

E claro, os alvos dessa vigilância são os bons humoristas, os quais "coincidentemente" são aqueles que não têm papas na língua pra falar dos males e hipocrisias da sociedade e têm colhões suficientes pra botar o dedo nas feridas da mesma. E semana passada os cuzões defensores desta bagaça fizeram mais uma vítima: o apresentador de TV Rafinha Bastos, integrante (pelo menos até semana passada) do CQC.

Rafinha Bastos, dos programas "CQC" e "A Liga"
Rafinha é conhecido por seu humor ácido e pouco delicado, o que já é motivo pra ficar na mira dos paladinos do humor politicamente correto. Quem já assistiu o CQC mais de três vezes já percebeu que ninguém escapa de suas piadas. Seus alvos preferidos são o Corinthians (por que será, né gente?!?) e as mulheres. No programa transmitido na semana passada, após a cantora Wanessa Camargo ter sido entrevistada em um dos quadros, Rafinha, membro da bancada do programa junto com Marcelo Tás e Marco Luque, simplesmente disse "eu comeria" e, quando ouviu que ela estava grávida complementou "comeria ela e o bebê". Resultado? Rafinha foi afastado do programa pela Band por tempo indeterminado. As últimas notícias que vi sobre o assunto já falavam de audiências sendo realizadas para encontrar um substituto para o seu lugar. Como diria o ex-presidente Lula, "nunca na história desse país", uma piada custou tão caro para o piadista...


Não sou nenhum fã do humorista em questão (apesar de admirar o seu estilo), não o considero melhor que ninguém, mas fiquei realmente puto revoltado com o ocorrido! O quê que está havendo? Voltamos aos tempos do absolutismo, quando o rei todo-poderoso mandava arrancar a língua do bobo da corte se não gostasse da piada?!? Porque é o que parece...

Queria ver se fosse com a sua família algum otário chato vai me perguntar, com toda a certeza. Se fosse minha família a "ofendida", eu tomaria providências LEGAIS para resolver a questão. Leia-se, a abertura de um processo por danos morais ou o quê quer que seja. De qualquer forma, não caberia a mim dizer à Band o que fazer com o cara no CQC ou onde quer que fosse.

Acontece que não foi com a minha família, e, até onde eu sei, o marido da tal Wanessa tem a pica grossa as costas quentes o suficiente para puxar o tapete do Rafinha pela piada feita. Só faltou o filha da puta "ofendido" pedir a cabeça do Rafinha numa bandeja de prata...

Agora eu pergunto: qual é o problema?!? Pô, se a mulher, o marido, o bispo, quem diabos seja tenha realmente se sentido ofendido com a piada do cara, que se entenda com ELE! Agora usar de influência pessoal pra prejudicar o trabalho do cara é, no mínimo, um baita de um golpe baixo! Imagina se os políticos começarem a usar a mesma tática...

O que mais me irrita nessa história toda é o tratamento dispensado ao Rafinha, que está sendo punido como se tivesse comedido um crime! Enquanto isso, políticos e mesmo apresentadores de emissoras de maior prestígio fazem coisa muito pior no rádio e na TV e não recebem nem uma nota de repúdio! Basta lembrar do babaca ilustríssimo Deputado Jair Bolsonaro, uma pessoa pública, que vomitou declarações racistas, homofóbicas e preconceituosas em um quadro do próprio CQC e nada lhe aconteceu...

Não vou nem comentar a postura dos próprios membros do CQC, os quais deram um grande exemplo de falta de companheirismo e de total ausência de camaradagem no programa de ontem, fazendo piadinhas péssimas pra "dar ao troco" em Rafinha. E depois ficam falando do povo na rua, dos políticos e etc. Grandes bosta coisa, ein!

Enfim, pra resumir o meu ponto: é esse o país em que vivemos, onde um humorista é veementemente punido por falar o que pensa enquanto os "representantes do povo" nos fodem enganam impunemente e as autoridades e a sociedade não prestam atenção no que realmente importa porque estão ocupados demais patrulhando o que se passa no rádio e na TV.

E se você que está lendo isso acha que eu sou "irresponsável" e que eu deveria ser punido por dizer o que penso igual ao Rafinha, só lhe digo uma coisa:

VÁ PRA P.Q.P., LEIA O QUE VOCÊ QUISER LER EM OUTRO BLOG E NÃO ENCHE O MEU SACO!!!

E que um dia possamos viver num país onde "liberdade de expressão" seja uma realidade e não apenas um conceito abstrato... 

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