segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Muro e os 20 anos de sua queda...

"On the day the wall came down
They threw the locks onto the ground
And with glasses high we raised a cry for freedom had arrived

On the day the wall came down
The Ship of Fools had finally run aground
Promises lit up the night like paper doves in flight

I dreamed you had left my side
No warmth, not even pride remained
And even though you needed me
It was clear that I could not do a thing for you

Now life devalues day by day
As friends and neighbours turn away
And there's a change that, even with regret, cannot be undone

Now frontiers shift like desert sands
While nations wash their bloodied hands
Of loyalty, of history, in shades of gray

I woke to the sound of drums
The music played, the morning sun streamed in
I turned and I looked at you
And all but the bitted residue slipped away...slipped away
"

A Great Day for Freedom, Pink Floyd (1994)

Há exatos 20 anos, caia o símbolo de uma era. O Muro de Berlim foi muito mais que a separação física dos dois lados de Berlim, foi a encarnação do que ficou conhecido como "Guerra Fria". A mais concreta expressão da chamada Cortina de Ferro, que por décadas separou o continente europeu em dois mundos antagônicos, criou dois mundos paralelos, que se olhavam, mas não se tocavam. Hoje, alemães e pessoas do mundo todo comemoraram este grande dia para a liberdade, pois a queda do muro representou muito mais que a derrubada de uma parede de concreto. Representou o fim de uma era e o começo de outra! Foi um dia para se celebrar o reencontro entre familiares e amigos, um dia para celebrar a união, o respeito e a liberdade!

Infelizmente, 20 anos após a queda deste símbolo, a união e a liberdade que sua queda representaram aparentemente não saíram da Europa. Basta um olhar um pouco mais atento para além dos limites de Berlim para perceber que muitos outros muros (sejam eles concretos ou simbólicos) continuam a dividir e a segregar nações e seres humanos em todo o globo.

Na Palestina, o imenso contrate entre dois povos, um com tudo e outro com quase nada, se materializa de forma terrivelmente semelhante ao muro que caiu em 1989. Ali, palestinos e israelenses continuam vivendo de forma bastante semelhante (talvez até pior!) que as Europas Ocidental e Oriental viviam durante a Guerra Fria. E, infelizmente, os muros da Palestina (tanto os concretos quanto os simbólicos) apenas crescem em tamanho e extensão...

Na fronteira sul dos Estados Unidos ("terra dos livres e lar dos bravos"), os ditos defensores da paz e da liberdade negam esta última a seus vizinhos do México, construindo também barreiras quase intransponíveis para separar-se da "gentalha latino-americana", como a antiga Muralha de Adriano dividia a Grã-Bretanha dos romanos da dos "bárbaros" há séculos atrás. E, ironicamente, os mesmos EUA vêm propor acordos de livre-comércio ao México e ao mundo!

Na própria Europa, que hoje se mostra para o mundo como símbolo de união, novos muros estão se erguendo. Estes, porém, não são feitos de concreto nem podem ser facilmente vistos. Hoje, a Europa cria barreiras a qualquer um que seja "indesejável" à riqueza e à prosperidade de sua União (que ainda se diz democrática!). Basta observar a segregação sofrida por turcos e demais imigrantes árabes, africanos e mesmo latino-americanos que lá vivem. Prosperidade, liberdade, democracia? Somente para os europeus! Aos demais, o muro!

Mas não pense que isso é um fenômeno externo, coisa do estrangeiro. Não. Existem muros dentro da terra da "democracia racial" tupiniquim também! E não são muros simbólicos, mas muros de verdade, feitos de concreto. E não estão localizados em cantos distantes e esquecidos deste nosso Brasil, mas no meio de nosso maior cartão postal: a "cidade maravilhosa" do Rio de Janeiro. Cada vez mais o Rio se divide em dois: o das novelas e os das favelas. Para uns o luxo, para outros o lixo! É o que acontece hoje na cidade que tem braços abertos em seu maior cartão postal enquanto mais e mais muros separam as favelas pobres do resto do Rio de Janeiro.

Estes são apenas amostras dos vários muros que existem em nosso mundo. O mundo da "nova ordem mundial", como celebrado por muitos, que em vez de paz, liberdade e democracia, está cheio de guerra, opressão, miséria e desigualdades por todos os lados. Em alguns aspectos, o mundo de hoje se parece bastante com o de 1989 (ou mesmo de 1945).

Celebremos a queda do Muro! E preparemo-nos para a derrubada dos demais...

Luiz Gustavo Aversa Franco
Brasília, 09 de novembro de 2009

2 comentários:

Unknown disse...

Guga,
Parabéns! Adorei o que você escreveu e principalmente a sua preocupação com os
"muros" que criamos. Continue a escrever e a demonstrar aquilo que muitos
não tem coragem de expressar.
Um beijo da mãe
Fafá

Tamirez Paim disse...

OI, Guga! Ótimo texto! Bela conjectura atual! BEIJOSSSSSSSSSS