sábado, 2 de maio de 2009

Brasis do País Brasil

Tamirez Galvão da Silva Paim*

Quem aporta em nosso país e se concentra em uma só região ou cidade desconhece a imensidão de nossas áreas e costumes. A abundância de miscigenações entre raças e culturas é uma vertente que não pára de crescer. Porém, existe um Brasil pobre e miserável que habita as secas, as favelas e as aldeias. Um país recluso no esquecimento, abandonado ao sol ardente que -concentrado nas periferias, no campo ou nas ruas - clama por socorro. Existem, portanto, países mundanos espalhados por dentro do Brasil, que sobrevivem com menos de um 1 dólar por dia e que vegetam na espera de uma oportunidade.

O Brasil tem uma doença que não pára de evoluir: é o maior país da América Latina e o mais eivado de desigualdades sociais. Dos índios aos caipiras, dos sertanejos aos gaúchos, todos em suas humildes pátrias sofrem com a pobreza e a falta de recursos para a subsistência. Esses coitados ficam à mercê de urubus e abandonados nos sertões das grandes capitais, dos meios rurais e das áreas indígenas. Mas, em meio a tanta desgraça, sobrevive a cultura rica desses povos reclusos que dão ao Brasil seu maior tesouro: a riqueza cultural.

Com tantas diferentes raças, culturas e falas, o Brasil insiste em esconder estes pequenos países dentro dele. Ele apresenta aos espectadores as maravilhas das abundantes praias nordestinas, mas se esquece da terra árida e do povo rastejante que nela habita; enaltece o Cristo Redentor no alto do morro, mas esquece que em sua base milhares de pobres sentem fome. Por isso, Brasil, tu és formado por outros vários pequenos brasis dentro de ti mesmo.

A natureza humana existe culturalmente em razão da linguagem e das trocas que efetuou e continua, ininterruptamente, com seus semelhantes no contar dos séculos a finalizar no estágio moderno de culturas. Os brasileiros são justamente uma formação de trocas – portuguesas, africanas, indígenas, italianas, alemãs, japonesas, espanholas, francesas, entre outras, às quais originaram identidades próprias que, aos poucos, são sucumbidas e esquecidas pela cultura de massa importada, ou mesmo que não chegue a tanto, tornam-se desprezíveis aos olhos dos novos brasileiros a cada ano. Enfim, o que restará dos nossos Brasis?

O Brasil tem que valorizar esses povos esquecidos, pois esta nação é o conjunto dos diferentes brasileiros que nascem em seu solo. Não é culpa só do povo que esquece seus próprios irmãos, mas de um Estado ineficaz a tantas diversidades culturais em nosso território nacional. E, por isso, assim como as verdes matas, as cachoeiras e as cascatas, os clãs dos sertões, de norte a sul, devem e merecem brotar como veredas que enriquecem tudo a sua volta, a fim de dar a todos os brasileiros soberania em relação às suas culturas, às suas falas e aos seus costumes e expandir, nesses Brasis chamado Brasil, nossas próprias identidades.


*Tamirez Galvão da Silva Paim é aluna de graduação no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).


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