sábado, 25 de abril de 2009

25 perguntas a Gilmar Mendes

1.O sr. sabe algo sobre o "assassinato" de Andréa Paula Pedroso Wonsoski, jornalista que denunciou o seu irmão, Chico Mendes, por compra de votos em Diamantino, no Mato Grosso?

2.Qual a natureza da sua participação na campanha eleitoral de Chico Mendes em 2000, quando o sr. era advogado-geral da União?

3.Qual a natureza da sua participação na campanha eleitoral de Chico Mendes em 2004, quando o sr. já era ministro do Supremo Tribunal Federal?

4.Quantas vezes o sr. acompanhou ministros de Fernando Henrique Cardoso a Diamantino, para inauguração de obras?

5.O sr. tem relações com o Grupo Bertin, condenado em novembro de 2007 por formação de cartel? Qual a natureza dessa relação?

6.Quantos contratos sem licitação recebeu o Instituto Brasiliense de Direito Público, do qual o sr. é acionista, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso?

7.O sr. considera ética a sanção, em primeiro de abril de 2002, de lei que autorizava a prefeitura de Diamantino a reverter o dinheiro pago em tributos pela Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas de Diamantino, da qual o sr. é um dos donos, em descontos para os alunos?

8.O sr. tem alguma idéia do porquê das mais de 30 ações impetradas contra o seu irmão ao longo dos anos jamais terem chegado sequer à primeira instância?

9.O sr. tem algo a dizer acerca da afirmação de Daniel Dantas, de que só o preocupavam as primeiras instâncias da justiça, já que no STF ele teria"facilidades" ?

10.O segundo habeas corpus que o sr. concedeu a Daniel Dantas foi posterior à apresentação de um vídeo que documentava uma tentativa de suborno a um policial federal. O sr. não considera uma ação continuada de flagrante de suborno uma obstrução de justiça que requer prisão preventiva?

11.Sendo negativa a resposta, para que serve o artigo 312 do Código de Processo Penal segundo a opinião do sr.?

12.Por que o sr. se empenhou no afastamento do Dr. Paulo Lacerda da ABIN?

13.Por que o sr. acusou a ABIN de grampeá-lo e até hoje não apresentou uma única prova? A presunção de inocência só vale em certos casos?

14.Qual a resposta do sr. à objeção de que o seu tratamento do caso Dantas contraria claramente a *súmula 691*<http://www.dji. com.br/normas_ inferiores/ regimento_ interno_e_ sumula_stf/stf_ 0691a0720. htm>do próprio STF?

15.O sr. conhece alguma democracia no mundo em que a Suprema Corte legisle sobre o uso de algemas?

16.O sr. conhece alguma Suprema Corte do planeta que haja concedido à mesma pessoa dois habeas corpus em menos de 48 horas?

17.Por que o sr. disse que o deputado Raul Jungmann foi acusado"escandalosa mente" antes de que qualquer documentação fosse apresentada?

18.O sr. afirmou que iria chamar Lula "às falas". O sr. acredita que essa é uma forma adequada de se dirigir ao Presidente da República? O sr. conhece alguma democracia onde o Presidente da Suprema Corte chame o Presidente da República "às falas"?

19.O sr. tem alguma idéia de por que a Desembargadora Suzana Camargo, depois de fazer uma acusação gravíssima - e sem provas - ao Juiz Fausto de Sanctis, pediu que a "esquecessem" ?

20.É verdade que o sr., quando era Advogado-Geral da União, depois de derrotado no Judiciário na questão da demarcação das terras indígenas, recomendou aos órgãos da administração que não cumprissem as decisões judiciais?

21.Quais são as suas relações com o site Consultor Jurídico? O sr. tem ciência das relações entre a empresa de consultoria Dublê, de propriedade de Márcio Chaer, com a BrT?

22.É correta a informação publicada pela Revista Época no dia22/04/2002, na página 40, de que a chefia da então Advocacia Geral da União, ou seja, o sr.., pagou R$ 32.400,00 ao Instituto Brasiliense de Direito Público - do qual o sr. mesmo é um dos proprietários - para que seus subordinados lá fizessem cursos? O sr. considera isso ético?

23.O sr. mantém a afirmação de que o sistema judiciário brasileiro é um "manicômio"?

24.Por que o sr. se opôs à investigação das contas de Paulo Maluf no exterior?

25.Já apareceu alguma prova do grampo que o sr. e o Senador Demóstenes denunciaram? Não há nenhum áudio, nada?

*Renato de la Rocha*

Mais duas perguntas:

26. V.Exa. confirma ou desmente a informação abaixo:

Como peru de natal

(Adriana Vandoni) O leitor que assina "To fora" me alertou para uma observação feita pelo jornalista Helio Fernandes, em sua coluna de hoje no jornal A Tribuna, que, se comprovada, é um acinte àmoralidade do judiciário brasileiro. Mas um cometido pela mesma pessoa. Segundo o jornalista, o ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, passou o natal na casa do advogado de Daniel Dantas. Ele termina seu artigo com a questão: "Passar o Natal na casa do advogado de Daniel Dantas, como fez o ministro Gilmar Mendes, é prova de "boa conduta?"".

Juridicamente até pode existir uma norma que legitime tal ato, afinal, nada mais normal que uma pessoa passar o natal na casa de amigos. Mas esta situação, se confirmada, é totalmente amoral. É um deboche à população brasileira. O comportamento deste ministro não chega a me escandalizar, seus atos são exatamente na medida do que eu esperava dele.


27. V.Exa. em seus momentos de reflexão e humildade, se é que tem esta última, já se auto-questionou sobre seus verdadeiros méritos para chegar ao honroso cargo de Ministro da mais alta corte de justiça do país, se o Brasil inteiro sabe que lá chegou pela catapulta da amizade e do poder político ?

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"UM REI ILETRADO É UM JUMENTO COROADO"
(Provébio medieval)

EÇA DE QUEIRÓZ
OS POLÍTICOS E AS FRALDAS DEVEM SER TROCADOS FREQUENTEMENTE E PELA MESMA RAZÃO
"QUERES CONHECER O INÁCIO ? DÁ-LHE O PALÁCIO". (Barão de Itararé na década
de 1940)

Protesto pede que Mendes "saia às ruas" e não volte ao STF

MARINA MELLO

Direto de Brasília


Um grupo formado por dez pessoas, entre professores, alunos e ex-alunos da Universidade de Brasília (UnB) realizou na tarde desta sexta-feira, em Brasília, um protesto contra o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, dois dias depois de o magistrado ter protagonizado um bate-boca com seu colega Joaquim Barbosa no plenário da Corte. Os manifestantes levaram uma faixa com a inscrição "Miss Capanga" com a intenção de colocá-la na estátua que simboliza a Justiça em frente à sede do STF, mas foram impedidos por seguranças do local.

Usando chapéus e chicotes que, segundo eles, simbolizam o "coronelismo", os manifestantes estenderam faixas com as frases "Gilmar, saia às ruas e não volte ao STF" e "Gilmar Dantas, as ruas não têm medo de seus capangas". O grupo tentou ser recebido pelo presidente da Corte, mas não obteve sucesso. Apesar de os manifestantes estarem em pequeno número, a segurança do local foi reforçado com duas viaturas da Polícia Militar.

O professor João Francisco Araújo, que participou do ato, explicou que o bate-boca entre Mendes e Barbosa impulsionou o protesto e expressou um sentimento generalizado da população brasileira. "Este é um ato de cidadãos, porque o ministro Gilmar Mendes desmoraliza o Judiciário brasileiro. Essa briga foi o estopim de todo um sentimento generalizado da sociedade", disse Araújo. "Chamamos o ministro de Gilmar Dantas porque ele privilegia os ricos em suas decisões."

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Newsweek: Lula está construindo um gigante regional único

Não concordo com boa parte do que está escrito, mas como se trata de uma impressão do Brasil no exterior, aí vai:

22/04/2009 - 07h59

O Brasil vem se transformando na última década em uma potência regional única, ao se tornar uma sólida democracia de livre mercado, uma rara ilha de estabilidade em uma região conturbada e governada pelo Estado de direito ao invés dos caprichos dos autocratas. A afirmação é feita em artigo publicado na última edição internacional da revista americana Newsweek.

"Contando com a cobertura da proteção de segurança americana, e um hemisfério sem nenhum inimigo crível, o Brasil tem ficado livre para utilizar sua vasta vantagem econômica de seu tamanho dentro da América do Sul para auxiliar, influenciar ou cooptar vizinhos, ao mesmo tempo conseguindo conter seu rival regional problemático, a Venezuela", afirma o artigo.

Segundo a revista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "preside uma superpotência astuta como nenhum outro gigante emergente".

O artigo foi publicado menos de um mês após Lula ter aparecido na capa da Newsweek, com uma entrevista exclusiva à revista após seu encontro com o presidente americano, Barack Obama, na Casa Branca.

Poderio militar
A Newsweekobserva em seu último artigo que enquanto outros países emergentes e mesmo os Estados Unidos contam com seu poderio militar como forma de afirmação, o Brasil "expressou suas ambições internacionais sem agitar um sabre".

A revista observa que quando há algum conflito na região, o Brasil envia "diplomatas e advogados para as zonas quentes ao invés de flotilhas ou tanques".

O artigo também comenta que o Brasil tem se tornado uma voz mais assertiva para os países emergentes nos temas internacionais, contestando por exemplo os subsídios agrícolas dos países ricos.

"Nenhum governo foi tão determinado como o de Lula em estender o alcance internacional do Brasil. Apesar de ter começado sua carreira política na esquerda, Lula surpreendeu os investidores nacionais e estrangeiros ao preservar as políticas amigáveis ao mercado de Fernando Henrique Cardoso internamente, para a frustração dos militantes de seu Partido dos Trabalhadores. Para a esquerda, ele ofereceu uma política externa vitaminada", diz a Newsweek.

Influência americana
A revista diz que os esforços brasileiros advêm da estratégia "não-declarada" de se contrapor à influência dos Estados Unidos e de dissipar as expectativas de que exerça um papel de representante de Washington", mas que nem por isso o país embarcou na "revolução bolivariana".

"Pelo contrário, Lula tem controlado a região ao cooptar os vizinhos com comércio, transformando todo o continente em um mercado cativo para os bens brasileiros", diz o artigo. "No fim das contas, o poder do Brasil vem não de armas, mas de seu imenso estoque de recursos, incluindo petróleo e gás, metais, soja e carne."

A revista afirma que isso também tem servido para conter a Venezuela e que a provável aprovação próxima da entrada do país de Hugo Chávez ao Mercosul não é "um endosso aos desejos imperiais de Chávez, mas uma forma de contê-lo por meio das obrigações do bloco comercial, como o respeito à democracia e a proteção à propriedade".

"Isso pode ser política de risco. Mas as apostas estão nos brasileiros. Sem um manual para se tornar uma potência global, o Brasil de Lula parece estar escrevendo o seu próprio manual", conclui a Newsweek.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Justiça federal rejeita denúncia contra Timothy Mulholland

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Publicação: 16/04/2009 19:10 Atualização: 16/04/2009 19:13
Uma das denúncias contra o ex-reitor da Universidade de Brasília Timothy Mulholland foi rejeitada pela Justiça. A 12ª Vara da Justiça Federal entendeu que não há provas suficientes para abrir ação contra Mulholland e outras sete pessoas denunciadas pelo Ministério Público Federal.

A acusação é de desvio de recursos em um convênio firmado entre a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e a Fundação Universidade de Brasília (FUB) para a elaboração de projetos de melhoria da saúde indígena. A procuradora Raquel Branquinho, responsável pelo caso no MPF, lamentou a decisão do juiz federal Marcus Vinícius Reis Bastos e informou que pode recorrer.

De acordo com a denúncia do Ministério Público, apresentada em setembro do ano passado, a FUB subcontratou a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico na Área de Saúde (Funsaúde) e a Editora UnB — que ficariam responsáveis pela gestão do convênio. Essas entidades, por sua vez, teriam feito licitações direcionadas com envio de cartas-convite apenas a determinadas empresas. Três firmas foram citadas pelo MPF: a MI Management Sociedade de Profissionais, LMR Softwares e Consultoria Profissional e a Coopers Instituto Profissional de Consultores Associados.

Uma auditoria da Funasa mostrou que irregularidades nesses contratos causaram rombos nos cofres públicos. Os desvios alcançaram R$ 5 milhões, de acordo com o levantamento da Fundação Nacional de Saúde. Os gastos foram autorizados por Timothy Mulholland e pelo ex-diretor da Editora UnB, Alexandre Lima — também denunciado pelo Ministério Público Federal.

Além de Timothy e Lima, foram incluídos no documento do MPF os nomes dos ex-funcionários da Editora UnB Elenilde Maria Duarte e Cláudio de Moraes Machado. Também constam na lista os proprietários das empresas envolvidas: Cleônides de Sousa Gomes, Aline Rhubia Scandiuzzi de Souza, Régis Salomão e Pablo Vieira de Freitas Lima, filho de Alexandre Lima.

Para o juiz Marcus Vinícius Reis Bastos, que rejeitou a denúncia, não ficou comprovado o crime de peculato. “A par de afirmar o desvio de dinheiro dos cofres públicos, pretensamente pulverizado na contratação irregular de empresas privadas para a execução dos serviços sem licitação e em pagamentos feitos a parentes dos dirigentes da FUB e da Funsaúde, a denúncia não expõe as circunstâncias pelas quais teria sido perpetrado o crime de peculato”, justifica o magistrado.

A procuradora Raquel Branquinho informou, por meio da Assessoria de Imprensa do Ministério Público Federal, que lamenta a decisão. Segundo ela, já estão comprovados o peculato e o desvio de verbas públicas. Ela vai analisar se recorre da decisão ou se vai juntar mais elementos de prova à denúncia já apresentada.

Para os defensores de Timothy, a decisão do juiz Marcus Vinicius Bastos é entendida como uma vitória “importante”. E terá influência sobre outras denúncias contra o ex-reitor da Universidade de Brasília. Segundo o advogado Aldo de Campos Costa, a acusação sobre desvio de dinheiro a partir de acordos entre a FUB e a Funasa é correlata à denúncia quanto à porcentagem recebida por uma fundação vinculada à UnB para a formalização de convênios. “Nesta última decisão, o juiz entendeu que o Ministério Público Federal não conseguiu descrever a suposta conduta criminosa dos acusados. Não basta narrar a denúncia, por exemplo, e atribuir a determinadas pessoas sem individualizá-la”, afirmou Costa.

A decisão da Justiça, entretanto, não significa o fim dos processos contra Timothy Mulholland. Ele ainda é acusado de cometer outras irregularidades e seu nome consta em mais duas denúncias do Ministério Público: uma por improbidade administrativa e um processo criminal. Mulholland é acusado de desviar dinheiro recolhido de uma suposta taxa administrativa do convênio entre a Funasa e a UnB para o pagamento de viagens, organização de jantares e compra de canetas Mont Blanc. Além disso, ele foi denunciado por autorizar o gasto de R$ 470 mil para mobiliar a cobertura funcional de luxo que ocupava — o que culminou com sua renúncia.

Fonte: http:
//www.correiobraziliense.com.br/html/sessao_13/2009/04/16/noticia_interna,id_sessao=13&id_noticia=99453/noticia_interna.shtml

Immanuel Wallerstein: sigam o Brasil

“Sigam o exemplo do Brasil”, recomenda Immanuel Wallerstein.

Parece haver duas ocasiões que exigem dois planos para a esquerda mundial, e em particular a estadunidense. A primeira ocasião é de curto prazo. O mundo está numa profunda depressão, que só vai piorar pelo menos no próximo ou em dois anos. O curto prazo imediato concerne ao desemprego que muita gente está enfrentando, o rebaixamento de salários e em muitos casos a perda das casas. Se os movimentos de esquerda não têm planos para esse cenário de curto prazo, eles não podem estabelecer uma conexão, em sentido algum, com a maior parte das pessoas.


A segunda ocasião é a crise estrutural do capitalismo como sistema mundial, que enfrenta, em minha opinião, sua extinção nos próximos vinte ou quarenta anos. Esse é o cenário no médio prazo. E se a esquerda não tem planos para o médio prazo, o que substituirá o capitalismo como sistema mundial será algo pior, provavelmente muito pior do que o terrível sistema que se tem vivido nos últimos cinco séculos.


As duas ocasiões exigem táticas diferentes, mas combinadas. Qual a nossa situação no curto prazo? Os Estados Unidos elegeram um presidente centrista, cujas inclinações estão um pouco à esquerda do centro. A esquerda ou a sua maior parte, votou nele por duas razões. A alternativa era pior, na verdade muito pior. Então votamos no menos mal. A segunda razão é que pensamos que a eleição de Obama poderia abrir espaço para movimentos sociais de esquerda.

O problema que a esquerda está enfrentando não é nada novo. Situações como essa acontecem como padrão. Roosevelt, em 1933, Attlee em 1945, Mitterand em 1981, Mandela em 1994, Lula em 2002 foram todos Obamas em seus momentos e lugares. E a lista poderia ser expandida infinitamente. O que faz a esquerda quando essas figuras “decepcionam”, como devem provavelmente todas fazê-lo, à medida que são todos centristas, mesmo se estão à esquerda do centro?


Em minha opinião, a única atitude sensata é aquela tomada pelo grande, poderoso e militante Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no Brasil. O MST apoiou Lula em 2002 e, a despeito do não-cumprimento do que ele prometeu, eles o apoiaram na sua reeleição em 2006. E fizeram isso com plena consciência das limitações de seu governo, porque a alternativa era claramente pior. O que eles também fizeram, contudo, foi manter a pressão nos encontros com o governo, denunciando-o publicamente quando fosse merecido e se organizando contra suas falhas.


O MST poderia ser um bom exemplo para a esquerda estadunidense, se tivéssemos qualquer coisa comparável em termos de um movimento social forte. Nós não temos, mas isso não deveria nos impedir de tentar nos juntar e fazer o melhor que podemos para pressionar Obama como faz o MST, aberta, pública e pesadamente – o tempo todo e é claro apoiando-o com entusiasmo quando o governo acerta. O que nós queremos de Obama não é transformação social. Tampouco ele quer, ou pode, oferecer-nos isso. Queremos dele medidas que venham a minimizar a dor e o sofrimento da maioria das pessoas agora. Isso ele pode fazer, e é aí que a pressão sobre ele pode fazer uma diferença.

O médio prazo é bastante diferente. E aqui Obama é irrelevante, assim como o são todos os outros governos à esquerda do centro. O que está em curso é a desintegração do capitalismo como sistema mundial, não porque ele não pode garantir o bem-estar da imensa maioria (ele nunca pôde isso), mas porque ele não pode mais assegurar que os capitalistas terão uma acumulação sem fim do capital como sua razão de ser.


Chegamos a um momento em que nem capitalistas de visão, nem seus oponentes (nós) estão tentando preservar o sistema. Estamos ambos tentando estabelecer um novo sistema, mas é claro que temos idéias muito diferentes, na verdade radicalmente opostas, quanto à natureza desse novo sistema.


Porque o sistema se moveu para muito longe do equilíbrio, tornou-se caótico. Estamos assistindo a flutuações selvagens nos indicadores econômicos usuais – os preços das commodities, o valor relativo das ações, os níveis reais das taxas de câmbio, a quantidade de itens produzidos e comercializados. À medida que ninguém realmente sabe, praticamente de um dia para o outro, onde esses indicadores vão parar, ninguém pode razoavelmente planejar coisa alguma.

Numa situação dessas, ninguém sabe quais medidas serão melhores, qualquer que seja sua política. Essa própria confusão intelectual prática leva a demagogias frenéticas de todos os tipos. O sistema está se bifurcando, o que significa que em vinte ou quarenta anos haverá algum novo sistema, que criará ordem a partir do caos. Mas nós não sabemos que sistema será esse.


O que nós podemos fazer? Antes de qualquer coisa, devemos ter clareza a respeito do que se trata essa batalha. Esta é a batalha entre o espírito de Davos (por um novo sistema que não é o capitalismo, mas é apesar disso hierárquico, explorador e polarizador) e o espírito de Porto Alegre (um novo sistema que é relativamente democrático e relativamente igualitário).


Nenhum mal menor aqui. É uma coisa ou outra.


O que deve a esquerda fazer? Promover a clareza intelectual a respeito da escolha fundamental. Então, organizar-se em milhares de níveis e em milhares de maneiras para empurrar as coisas para a direção correta. A principal coisa a fazer é encorajar a "descommoditificação" de tudo o que pudermos "descommoditificar". A segundo é experimentar todos os tipos de novas estruturas que faça um sentido melhor de justiça global e sanidade ecológica. E a terceira coisa que devemos fazer é encorajar o otimismo sóbrio. A vitória está longe de ser certa. Mas é possível.


Então, para resumir: trabalhar no curto prazo para minimizar a dor, e no médio prazo para assegurar que o novo sistema que emergirá será um melhor, e não um pior. Mas fazer este trabalho sem triunfalismo, e sabendo que a luta será tremendamente difícil.


Publicado originalmente na The Nation, em 4 de março de 2009


*Immanuel Wallerstein é P.h.D. em Sociologia pela Universidade de Columbia (1959) e Doutor honoris causa pela Universidade de Coimbra (2006). Um dos fundadores da Teoria do Sistema Mundo, é autor de vários livros, entre eles O Declínio do Poder Americano (Contraponto, 2004).

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Quem comeu o coronel? - arbitrariedade das autoridades brasileiras

DONO DE LANCHONETE É PRESO POR BATIZAR SANDUICHES COM PATENTES MILITARES

Para o dono de uma lanchonete de Penedo, a 170 km de Maceió (AL) tratava-se de uma estratégia de marketing.
Para o comandante da Polícia Militar na cidade, era uma ofensa à Corporação.
E assim, por batizar os sanduíches da casa com patentes militares, Alberto Lira, 38 de idade, dono da lanchonete Mister Burg, acabou detido por ordem
do comandante da PM local.
Afinal, entendeu o militar, não ficaria bem alguém chegar na lanchonete e pedir: "quero um coronel mal passado".
Ou sair de lá dizendo: "acabei de comer um sargento".
Na delegacia foi lavrado boletim de ocorrência e, face ao tumulto havido, a casa comercial fechou durante algumas horas.
Como o delegado de plantão entendeu que não havia motivo para prisão, Lira foi liberado horas mais tarde.
Os cardápios da lanchonete foram recolhidos para avaliação e a casa reaberta em seguida.
Aproveitando-se da inesperada repercussão, a lanchonete quer manter o cardápio que desagrada a PM.
A casa oferece lanches como o "coronel" (que é o filé com presunto), o "comandante" (um prato com calabresa frita) e por aí vai.
A brincadeira foi demais para o parco humor dos militares, que dizem que os nomes dos pratos provocavam chacotas e insinuações contra os policiais
entre os moradores da cidade de 60 mil habitantes.
Lira, o dono da lanchonete, diz que não teve nem tem nenhuma intenção de brincar ou ofender a Corporação.
O cardápio - garante o dono da lanchonete - pretendia ser uma homenagem à hierarquia militar.
O prato mais caro era o "comandante".
O comerciante contratou ontem (15) o advogado Francisco Guerra para entrar com uma denúncia por abuso de autoridade contra o comandante local da
PM e uma ação reparatória por dano moral contra o Estado de Alagoas. Nela vai salientar que não existe nenhum texto legal que impeça um restaurante
de incluir, no seu cardápio, "lula à milanesa", "filé a cavalo" ou "coronel mal passado", etc.
O advogado já pediu habeas corpus preventivo para evitar outra detenção de seu cliente. A peça sustenta que "se o argumento do comandante fosse
válido, nenhuma festa de criança poderia ter brigadeiro".
Como se sabe, brigadeiro - além de ser a mais alta patente da Aeronáutica - é também o nome do docinho obrigatório em aniversário de crianças.
"Em Penedo, comer brigadeiro pode, mas comer coronel, está proibido" - ironizam os advogados da cidade.

Autor desconhecido

domingo, 5 de abril de 2009

Como a grande mídia festejou o golpe de 1964

Em "comemoração" dos 45 anos do Golpe Militar de 1964, completados no último dia 31:
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Emir Sader sugeriu em seu blog na Carta Maio: “que tal republicar as manchetes de cada órgão de imprensa naquele primeiro de abril de 1964?”. Aqui está uma seleção do que foi destaque nos principais jornais do Brasil a partir do 1º de abril de 1964. A pesquisa abaixo foi publicada no blog da BrHistória, da jornalista Cristiane Costa:

“Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente das vinculações políticas simpáticas ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é de essencial: a democracia, a lei e a ordem.

Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas que, obedientes a seus chefes, demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.

Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ter a garantia da subversão, a ancora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada ...”

(O Globo - Rio de Janeiro - 4 de Abril de 1964)

“Multidões em júbilo na Praça da Liberdade.
Ovacionados o governador do estado e chefes militares.
O ponto culminante das comemorações que ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento pela paz e pela democracia foi, sem dúvida, a concentração popular defronte ao Palácio da Liberdade. Toda área localizada em frente à sede do governo mineiro foi totalmente tomada por enorme multidão, que ali acorreu para festejar o êxito da campanha deflagrada em Minas (...), formando uma das maiores massas humanas já vistas na cidade”

(O Estado de Minas - Belo Horizonte - 2 de abril de 1964)

“Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares que os protegeram de seus inimigos”
“Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais”

(O Globo - Rio de Janeiro - 2 de Abril de 1964)

“A população de Copacabana saiu às ruas, em verdadeiro carnaval, saudando as tropas do Exército. Chuvas de papéis picados caíam das janelas dos edifícios enquanto o povo dava vazão, nas ruas, ao seu contentamento”
(O Dia - Rio de Janeiro - 2 de Abril de 1964)

“Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas -negocistas- sindicalistas. Um dos maiores gatunos que a história brasileira já registrou., o Sr João Goulart passa outra vez à história, agora também como um dos grandes covardes que ela já conheceu.”
(Tribuna da Imprensa - Rio de Janeiro - 2 de Abril de 1964)

“A paz alcançada. A vitória da causa democrática abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa perspectiva seja toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do Brasil”
(Editorial de O Povo - Fortaleza - 3 de Abril de 1964)

“Desde ontem se instalou no País a verdadeira legalidade ... Legalidade que o caudilho não quis preservar, violando-a no que de mais fundamental ela tem: a disciplina e a hierarquia militares. A legalidade está conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas”
(Editorial do Jornal do Brasil - Rio de Janeiro - 1º de Abril de 1964)

“Milhares de pessoas compareceram, ontem, às solenidades que marcaram a posse do marechal Humberto Castelo Branco na Presidência da República ...O ato de posse do presidente Castelo Branco revestiu-se do mais alto sentido democrático, tal o apoio que obteve”
(Correio Braziliense - Brasília - 16 de Abril de 1964)

“Vibrante manifestação sem precedentes na história de Santa Maria para homenagear as Forças Armadas. Cinquenta mil pessoas na Marcha Cívica do Agradecimento”
(A Razão - Santa Maria - RS - 17 de Abril de 1964)

“Vive o País, há nove anos, um desses períodos férteis em programas e inspirações, graças à transposição do desejo para a vontade de crescer e afirmar-se. Negue-se tudo a essa revolução brasileira, menos que ela não moveu o País, com o apoio de todas as classes representativas, numa direção que já a destaca entre as nações com parcela maior de responsabilidades”.
(Editorial do Jornal do Brasil - Rio de Janeiro - 31 de Março de 1973)

“Golpe? É crime só punível pela deposição pura e simples do Presidente. Atentar contra a Federação é crime de lesa-pátria. Aqui acusamos o Sr. João Goulart de crime de lesa-pátria. Jogou-nos na luta fratricida, desordem social e corrupção generalizada”.
(Jornal do Brasil, edição de 01 de abril de 1964.)

"Participamos da Revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada" .
Editorial do jornalista Roberto Marinho, publicado no jornal" (O Globo", edição de 07 de outubro de 1984, sob o título: "Julgamento da Revolução").

"O Brasil já sofreu demasiado com o governo atual. Agora, basta!"
(Do Editorial BASTA!, Correio da Manhã, edição de 31 de março de 1964)

"Só há uma coisa a dizer ao Sr. João Goulart: Saia!"
(Do editorial FORA!, Correio da Manhã, edição de 1º de abril de 1964)

"Minas desta vez está conosco"... "dentro de poucas horas, essas forças não serão mais do que uma parcela mínima da incontável legião de brasileiros que anseiam por demonstrar definitivamente ao caudilho que a nação jamais se vergará às suas imposições."
(São Paulo repete 32, Estado de São Paulo, edição de 1º de abril de 1964)

"Fugiu Goulart e a democracia está sendo restaurada". .. "atendendo aos anseios nacionais de paz, tranqüilidade e progresso... as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal".
(O Globo, edição de 2 de abril de 1964)

"Lacerda anuncia volta do país à democracia."
(Correio da Manhã, edição de 2 de abril de 1964)

"A Revolução democrática antecedeu em um mês a revolução comunista".
(O Globo, edição de 5 de abril de 1964)

"Feliz a nação que pode contar com corporações militares de tão altos índices cívicos". "Os militares não deverão ensarilhar suas armas antes que emudeçam as vozes da corrupção e da traição à pátria."
(O Estado de Minas, edição de 5 de abril de 1964)

"PONTES DE MIRANDA diz que Forças Armadas violaram a Constituição para poder salvá-la!"
(Jornal do Brasil, edição de 6 de abril de 1964)

"Congresso concorda em aprovar Ato Institucional" .
(Jornal do Brasil, edição de 9 de abril de 1964)

Pesquisa: Clarissa Pont
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Esta pequena miscelânea de manchetes e reportagens dos primeiros dias do período mais violento e opressivo da história recente brasileira mostra a verdadeira face da grande mídia deste país: mentirosa, elitista, despreocupada com o bem-estar do povo brasileiro e, acima de tudo, autoritária e anti-democrática, que se preocupa mais em acompanhar a enésima edição do BBB que divulgar a volta do infame Fernando Collor de Melo ao poder no senado.

Portanto, tome cuidado ao buscar informação em grandes jornais, revistas e emissoras de televisão do Brasil. A verdade não está no "menu" deles.

"Democracia: não deixem morrer."

LIBERDADE! SEMPRE!

Luiz Gustavo Aversa Franco
Brasília-DF, 5 de abril de 2009